A Polícia Federal em Roraima cumpriu mandado de prisão, na manhã de ontem, 23, contra uma advogada suspeita de envolvimento com uma organização criminosa que atua dentro e fora dos presídios do Estado. A mulher foi presa na sua residência, no bairro Caçari, zona leste de Boa Vista, na segunda fase da Operação Tovajar.
Segundo as investigações da PF, a advogada era chamada de “gravata” pela facção e coagia presos que não fazem parte do crime organizado. Também há indícios de que ela atuava como informante da organização criminosa. A nova fase da operação contou com o apoio da Polícia Militar e da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc).
Além da prisão da advogada, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva contra outros dois homens. Também foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão no escritório e na residência da suspeita, nos bairros Caçari e São Francisco. Os mandados foram deferidos pela Vara de Entorpecente de Organizações Criminosas do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR) após representação em inquérito policial, que apontou a participação dos suspeitos na facção criminosa.
Segundo o delegado responsável pelas investigações, Alan Robson Ramos, a advogada usava de seu cargo para coagir presos que não fazem parte de organizações criminosas e repassar informações à facção. “Ela utilizava desse cargo, que é de fundamental importância para administração da Justiça, para obedecer aos comandos da organização e acessar presos do sistema prisional de forma ilícita”, disse.
Conforme Alan Robson, os outros dois presos também seriam integrantes da organização criminosa e estavam com armas de uso restrito. “Armamentos estes que estavam sendo utilizados para comércio e crimes na Capital”, afirmou.
O inquérito policial apontou também possível ameaça por parte da advogada a uma detenta do sistema prisional roraimense e seus familiares, a mando da organização criminosa. “Foram apreendidos documentos, computadores e celulares na primeira fase da operação que comprovam a participação dela. Dado esse conjunto de provas, o caso foi levado ao Judiciário e foi pedida a prisão preventiva”, explicou o delegado.
Os presos foram conduzidos para a Polícia Federal para interrogatórios e indiciamentos e encaminhados à penitenciária onde estarão à disposição da Justiça Estadual de Roraima. “As investigações continuam, com análise do material apreendido e apuração do envolvimento de outros integrantes da organização criminosa”, destacou Alan. Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima acompanharam os mandados de busca e apreensão na casa e no escritório da advogada, assim como a prisão e o depoimento da suspeita na sede da Polícia Federal.
OPERAÇÃO TOVAJAR – Na primeira fase da Operação Tovajar, no dia 11 de agosto de 2017, foram cumpridos 15 dos 16 mandados de prisão expedidos, bem como um envolvido foi preso em flagrante, decorrente de ação conjunta de forças policiais do estado de Roraima. O nome da operação significa “inimigo” e também “cunhado” na língua tupi-guarani antiga. Parte da organização criminosa se intitulava “cunhadas”.
OAB/RR – Por telefone, o presidente da OAB-RR, Rodolpho Moraes, disse à reportagem da Folha que o órgão não se manifestaria naquele momento sobre a prisão da advogada. “Estamos com uma comissão mobilizada na PF, mas ainda não me deram decisão para saber o motivo da prisão dela. Iremos acompanhar a questão das prerrogativas e o que for apurado”, disse.
N.R.: A reportagem da Folha resguardou o nome dos suspeitos presos respeitando o artigo 5º da Constituição Federal, que preceitua que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. O artigo prevê que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. (L.G.C)