A população de Roraima foi surpreendida com três assassinatos e uma tentativa de assassinato, na manhã de ontem, cometidos pelo soldado da Polícia Militar, Felipe Quadros, 22 anos, que executou as vítimas em frente de suas residências, sem que pudessem esboçar defesa. Os motivos pelos quais executou os crimes, com uma arma da corporação, em locais distintos, não teriam relação alguma. Ele se entregou ontem à noite no Comando de Policiamento da Capital (CPC), no Centro.
O primeiro caso, quando pai e filha foram mortos, teve motivação passional, pois a ex-mulher do policial era amiga da família e recebeu apoio durante os conflitos conjugais. A ação foi registrada por uma câmera de segurança da residência da família, na Rua dos Hibiscos, bairro Pricumã. Às 06h50, a fisioterapeuta Jannyele Filgueira, 28 anos, saía de casa em direção ao trabalho, no seu veículo Fiat Pálio, cor cinza. Assim que saiu de ré no portão, foi surpreendida com uma colisão lateral do lado do motorista pelo carro do policial. O policial estava parado na esquina esperando a mulher sair, demonstrando que tudo foi premeditado.
O pai da fisioterapeuta, Eliézio Oliveira, 50 anos, ao ouvir o barulho da forte colisão, foi em direção ao carro do policial, um Gol preto. Antes que ele tentasse abrir a porta, o policial saiu atirando e deu um tiro na barriga da vítima, enquanto ainda estava dentro do automóvel. Ele saiu e se aproximou do homem já no chão e acertou mais três tiros na cabeça.
Depois disso, se dirigiu para o carro onde Jannyele estava, disparando contra ela. A fisioterapeuta ainda tentou fugir, mas, nervosa, não conseguiu sair e estancou o veículo. O policial atirou quatro vezes no parabrisa dianteiro e acertou dois tiros na cabeça da fisioterapeuta, que também morreu na hora.
Depois de atirar em Jannyelle, o policial entrou na residência da família, mas, sem munição, porque o cartucho havia sido descarregado, não feriu mais ninguém. Depois, saiu do local do homicídio em direção ao bairro Caimbé, onde cometeu o terceiro crime.
Testemunhas contam que o PM matou pai e filha motivado pelo apoio que os dois davam a ex-namorada dele, que está em outro Estado. Pelo fato de os dois não terem dito onde ela estava e protegerem a ex-namorada, por serem amigos, dando abrigo, por isso o policial decidira matar os dois. Os vizinhos relataram que há aproximadamente 30 dias o policial havia efetuado disparos no portão da casa da família.
Terceira vítima foi morta com seis tiros e vizinho acabou ferido com 2 disparos
Depois de sair do bairro Pricumã, Felipe Quadros, aproveitando o mesmo veículo, que ficou com a frente e parte do lado do motorista danificados, se deslocou até a Rua Ruth Pinheiro, no bairro Caimbé, onde fica a residência de Ernane Rodrigues, 47 anos, proprietário da empresa de aluguel de veículos Locamil.
De acordo com familiares, chegando ao local, o policial chamou o filho do empresário, mas quem abriu o portão para conversar foi Ernane, que no mesmo instante foi alvejado com um tiro frontal e cinco tiros nas costas. Agentes da Delegacia Geral de Homicídios (DGH) explicaram que 14 disparos foram dados por Felipe Quadros. Quando o vizinho, conhecido como “Hulk”, começou a gritar pedindo ajuda, o soldado se virou contra ele e o atingiu com dois tiros no abdômen. Levado para o Hospital Geral de Roraima, ele está em observação depois de ter passado por procedimentos emergenciais. Até o final da tarde de ontem, o estado de saúde dele não foi divulgado pela equipe médica.
Alguns amigos próximos informaram que o policial devia 14 diárias à empresa Locamil e que também haveria batido um dos carros e não arcou com as despesas do conserto e nem pagava a dívida. “Ele devia e não pagava. Quando foi cobrado para pagar o conserto do carro e as diárias, se revoltou e matou quem encontrou primeiro dentro da casa. Sou um amigo próximo e posso dizer que Ernane estava vivendo o momento mais feliz da vida dele”, declarou.
Colegas afirmam que policial tinha um ‘perfil problemático’
De acordo com informações de um colega de farda, Felipe Quadros era um policial “problemático”, tendo em sua ficha alguns agravantes. “Quando ele servia ao Exército, bateu em um sargento e foi expulso da companhia. Em seguida, fez concurso para a Polícia Militar e foi aprovado, todavia, depois de terminar o curso, só conseguiu ingressar na PM por meio de uma liminar. Ele era um péssimo profissional”, ressaltou.
Depois de cometer os homicídios, o soldado fugiu, abandonando o automóvel no bairro Jardim Floresta. Para não atrapalhar as investigações, a Polícia Militar não divulgou o lugar para onde foi levado o veículo. Ele se entregou no CPC por volta das 20h.
Áudio revela ameaça a ex-mulher e nenhum medo de levar punição
Em um áudio divulgado ontem à tarde, Felipe faz ameaças a ex-namorada, que ele denomina como “Carol”, inclusive, sem demonstrar respeito às patentes de seus superiores. “Outra coisa, Carol, não adianta, tu achar que, ‘Ah! Eu tô com meu primo, eu tô com o major, ou estou não sei com quem’. Carol, não adianta achar que, ‘agora estou segura, vou entrar com uma medida protetiva, vou denunciar ele, vou mostrar isso aqui para o major, o Felipe vai ser preso’. Carol, bota uma coisa nessa sua cabeça: crime de ameaça só é de três meses ou multa. Vou pagar uma multa, não vou perder o emprego, vou responder outro processo. Mas aí, Carol, presta atenção: vou te buscar, vou te pegar debaixo das asas da tua mãe. Escuta isso, estou te mandando o áudio que é pra tu mostrar pro major, quando ele for te ouvir de novo. Aí tu mostra que eu vou estar lá do teu lado. Só te digo uma coisa: vamos ver quanto vale uma vida”, diz o áudio.
PM homicida não tinha porte de arma
A polícia informou que o policial homicida não tinha porte de arma, que ela deveria ser usada exclusivamente no horário de trabalho na área externa da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, mas os registros mostram que ele não fez a devolução.
O comandante da Polícia Militar de Roraima, Dagoberto Gonçalves, declarou à imprensa que Felipe Quadros deverá ser encaminhado ao Comando-Geral da PM, na Avenida Ene Garcez, onde será autuado em flagrante e punido de acordo com o Código Penal Brasileiro (CPB).
Depois do crime, para evitar a fuga, a Polícia Militar pediu aos policiais que atuam nas fronteiras com a Venezuela, ao Norte, e Guiana, a Leste, que redobrassem a atenção, assim como os que estão na divisa de Roraima com o Estado do Amazonas, no Sul, além de orientar as companhias do interior. (J.B)