Presos da Cadeia Pública de Boa Vista (CPBV), localizada no bairro São Vicente, zona Sul da Capital, continuaram a se recusar a comer e a entrar nas celas na manhã desta terça-feira, 23. Um vídeo publicado nas redes sociais e divulgado em aplicativos de compartilhamento por celular ganhou repercussão mostrando que os detentos não quiseram a comida que foi disponibilizada a eles em frente às celas.
A gravação mostra um preso relatando que só deveriam ser aceitas as mudanças que estão sendo impostas naquele presídio após ser revista a situação dos internos que estão na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), na zona rural de Boa Vista. Este seria o motivo dos tumultos naquela unidade prisional.
Desde terça-feira os presos vêm realizando protesto em razão de mudanças que a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) vem promovendo na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pacm), na zona rural de Boa Vista, entre elas a transferência de alguns presos ligados a facções criminosas. Eles reafirmam que os tumultos só cessarão quando o Governo do Estado parar com as mudanças naquela unidade.
No vídeo divulgado ontem, um policial pede que os presidiários retornem às alas e se alimentem. “Os senhores vão para as suas alas, vai ser pegar a alimentação e nós vamos sair. Essa é a nossa missão” disse. Um dos presos retruca dizendo que a situação só voltará ao normal depois que as demandas exigidas forem ouvidas.
“Não. A gente não vai entrar, a gente não vai aceitar enquanto não resolver a situação da PA [Penitenciária Agrícola]. Vamos fazer a nossa parte aqui”, respondeu. O policial retrucou dizendo que as questões internas que envolvem os detentos são problemas deles próprios. “Aí já é um problema dos senhores, beleza?”, ressaltou.
Uma viatura com homens da Tropa de Choque deu auxílio à ação visando colocar a unidade em ordem, mas o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar já tinha agido e silenciado os presos.
O CASO – No final da manhã desta terça-feira, 23, presos da Cadeia Pública de Boa Vista realizaram protesto contra decisões tomadas pelo Governo em relação ao sistema prisional da Capital. Além de se recusarem a comer, os presos quebraram algumas lâmpadas da unidade e se recusaram a retornar para as celas.
A equipe de reportagem da Folha acompanhou toda a negociação e constatou que não havia policiamento nas guaritas que cercam a unidade. A Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania informou que tem adotado medidas administrativas nas unidades prisionais. “Entre elas, remanejamento dos reeducandos que frequentam as aulas dentro da unidade”, destacou.
A Sejuc reforçou que as medidas são necessárias para restabelecer a ordem dentro das unidades. Lembrou ainda que os agentes de segurança têm obtido êxito na contenção dos internos. “A secretaria tem buscado adotar medidas efetivas para reformular o sistema a curto, médio e longo prazo, com a retomada das obras da penitenciária de Rorainópolis, no Sul do Estado, a instalação de uma estação de esgoto na Pamc, além da reforma que aguarda a apresentação do projeto pela Seinf (Secretaria Estadual de Infraestrutura)”, frisou a nota enviada para a Folha. (J.B)
Preso faz vídeo dentro da Pamc e ainda publica nas redes sociais
Nem mesmo as leis que proíbem a entrada de celulares em unidades prisionais impedem que os detentos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), na zona rural de Boa Vista, apareçam com os aparelhos e ainda tenham acesso à internet. Além de gravar um vídeo, um dos presos publicou as imagens nas redes sociais.
No final da manhã desta quarta-feira, 24, o vídeo filmado de dentro de uma das alas da Pamc passou a circular nas redes sociais. Nele, um detento conta com detalhes o que classifica como “atual situação do presídio” e relata que os presos estariam sendo “oprimidos”. “Nós não estamos tendo banho de sol, nós não estamos tendo medicação, nós não estamos tendo alimentação. A única coisa que estamos tendo aqui, na unidade, na data de hoje, é isso aqui, ó”, afirmou o detento, mostrando as marmitas espalhadas pelo chão e marcas de sangue que vão até um banheiro.
Segundo o responsável pela gravação, um dos presos foi ferido na cabeça e o corte fez com que o sangue ficasse espalhado pelo chão. No material, que tem quase três minutos de duração, é possível ver outro detento com celular na mão.
O preso ressaltou ainda que os colegas já não estariam “suportando a situação” em que estão sendo submetidos e pedem providências das autoridades. “Não é porque nós é réu que a Polícia Militar tem o direito de julgar nós. Nós não deve nada pra polícia não. Nós deve é pra justiça e nós ‘tamo’ pagando [sic]”, diz o preso.
MEDIDAS – Desde o início do ano, a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) tem adotado medidas administrativas nas unidades prisionais do Estado. Dentre elas, destaca o remanejamento dos presos que frequentam as aulas dentro da unidade para uma ala específica, medida esta que vem sendo questionada pelos detentos desde a manhã de segunda-feira, 22, e aparentemente seria o motivo das reclamações e tumulto.
Ainda segundo a Sejuc, a presença mais efetiva do Estado, com a adoção das 17 medidas estruturantes, implantada em junho, vem causando uma série de mudanças na rotina das unidades, tais como realização diária de revistas e a manutenção dos detentos nas celas trancadas, ações que viriam desagradando os apenados que alegam “repressão do Estado”.
A secretaria explicou que as medidas são necessárias para restabelecer a ordem dentro dos presídios, destacando que somente uma fuga foi registrada nos últimos 70 dias, e que uma nova estratégia de segurança e contenção foi aplicada. (J.B)