Polícia

Presos ficam amotinados e fazem refém para impedir transferências

Clima de tensão se instalou na Cadeia Pública de Boa Vista depois que presos souberam da transferência de detentos da Pamc para lá

Na tarde de ontem, 20, presos da Cadeia Pública de Boa Vista, situada no bairro São Vicente, zona Sul da cidade, revoltaram-se após saberem que haveria transferências de detentos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) para a CPBV e iniciaram um princípio de rebelião. Houve confronto entre alguns, com reféns que foram torturados. Muitos policiais foram mobilizados para o local. As ruas no entorno da unidade prisional foram fechadas durante a confusão.

Quem estava do lado de fora ouvia estrondos de bombas de efeito moral e tiros a todo momento dentro da cadeia, além de gritos de detentos. Uma forte fumaça podia ser vista do lado de fora do local. Muitos populares e familiares de presos da unidade prisional se aglomeraram em frente ao presídio cobrando providências e temendo pela vida dos detentos.

O tumulto se estendeu até a noite e as transferências ainda não haviam sido efetuadas. Esposas e mães dos apenados estavam de prontidão na frente da cadeia desde o início da manhã de ontem, já sabendo da possível situação de confronto que poderia acontecer entre detentos e policiais, caso as transferências de membros de facções criminosas acontecessem. Segundo informações policiais, na quarta-feira foi realizada uma revista surpresa no local, quando encontraram facas e várias vigas de ferro.

Do lado de fora da cadeia era possível ver o sofrimento dos parentes dos presos a cada estouro de bomba ou tiro que era efetuado no local. “Nós estamos aqui fora sem saber a real situação lá de dentro. Nossos filhos e maridos nos ligam e nos falam que vários estavam sendo torturados e maltratados pelos integrantes do PCC [Primeiro Comando da Capital]. Precisamos de alguma autoridade lá dentro que consiga garantir a integridade física e resguardar as vidas deles, que já estão pagando pelos crimes que cometeram”, disse.

Segundo informações de um agente carcerário, os presos da facção ainda conseguiram objetos pontiagudos, feitos com vergalhões que eles retiraram da estrutura quebrando as paredes da cadeia, que foram utilizados para torturar os internos da Cadeia. “Eles ficaram muito revoltados porque seriam transferidos, pois não tiveram sucesso em cumprir a ordem do alto escalão do grupo criminoso, que era de executar pelos menos 20 dos que fazem parte do CV [Comando Vermelho], ou aliados, quando conseguimos desarmá-los”, pontuou um agente carcerário que preferiu manter a identidade resguardada.

Outra mãe de preso informou que, na segunda-feira, 17, três presos, membros do PCC, teriam sido transferidos para a Cadeia Pública e, desde então, o clima de conflito ficou mais forte. “Meu filho me ligou dizendo que três do PCC foram para a cadeia, todos com aspecto de que haviam sido muito machucados”, destacou a senhora, que preferiu não se identificar, referindo-se ao confronto do PCC e CV que ocorreu na tarde de domingo, na Pamc, quando dez presos foram mortos e seis ficaram feridos.

Houve um princípio de tumulto pela manhã que já prenunciava o que poderia acontecer. Parentes de detentos, quando viram alguns presos na área externa, algemados e tiveram informações por telefone de internos sobre as transferências, ficaram aflitos. Ainda de acordo com familiares, os presos que já cumpriam pena na Cadeia ficaram isolados em uma cela do bloco B. Houve movimentação de policiais na unidade prisional, mas nenhum confronto foi registrado durante a manhã.

O clima tenso no sistema penitenciário permanece desde o massacre que aconteceu na PAMC, quando 10 presos do CV foram mortos de forma violenta, no domingo, 16, por integrantes do PCC. As facções estão em pé de guerra desde que a aliança, que já durava vários anos, foi, há pouco tempo, rompida. Agora os dois grupos disputam liderança no tráfico de drogas e armas no País.  

GOVERNO – Conforme nota enviada à imprensa, o Governo do Estado confirmou a ocorrência de rebelião na tarde de ontem e salientou que “de imediato todas as unidades de segurança estaduais foram acionadas e estão atuando na unidade”.

A nota destacou que a direção do sistema prisional trabalha com reforço do efetivo nas unidades prisionais no sentido de conter os ânimos dos detentos diante do conflito existente na população carcerária e manter a integridade física de todos.

TJRR – A Folha entrou em contato com a Assessoria de Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado para questionar a respeito das transferências de presos. Por meio de nota, informou que os processos ocorrem em segredo de justiça e, desse modo, não podem ser repassadas informações por determinação legal. (T.C)