Polícia

Presos que comandaram chacina na Pamc são transferidos para Rondônia

Os dez presos apontados como líderes do massacre da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), na zona rural de Boa Vista, que culminou na morte de 33 detentos, no início do mês de janeiro, foram transferidos na manhã desta terça-feira, 31, para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.

Além de comandarem a maior chacina da história do sistema prisional de Roraima, os criminosos que foram levados para o presídio de segurança máxima integram a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que atua dentro e fora dos presídios do Estado.

Foram transferidos: Lirney Jefferson de Abreu Lima, vulgo “Hebreus”; Mauro Sérgio Diniz Batista, o “Pigmeu”; Anderson Monteiro Alves, de codinome “Guri”; Janielson Correia Lobato, apelidado de “Gaguinho”; Osvaldo da Anunciação, o “Picolé”; Antônio Cláudio da Silva Melo, conhecido por “Tomate/Cão Danado”; Douglas Pereira, vulgo “Jaison”; Denis Lima Pereira da Cruz, o “Peteleco”; Manoel Moraes, vulgo “Manelão”; e Adeilson Eliotério dos Santos, vulgo “Pato”.

Depois do massacre na Pamc, esses presos foram levados para o Centro de Progressão Penal (CPP), no bairro Asa Branca, zona Oeste da Capital. Antes de serem transferidos para outro Estado, eles foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Boa Vista, por volta de 13h10 de ontem, para a realização de exame de corpo de delito.

Foi montada uma operação para reforçar a segurança no local, com 25 homens da Força Tática, Batalhão de Operações Especiais (Bope), Grupo de Intervenção Tática (GIT), Canil e Divisão de Inteligência e Captura (Dicap), além de mais sete agentes da Polícia Federal (PF) e dois da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Assim que chegaram ao IML, os agentes entraram com apenas quatro presos, todos vestidos com farda vermelha, enquanto o restante aguardava dentro das viaturas. As mulheres dos criminosos também acompanharam o procedimento do lado de fora da unidade em busca de informações.

RECADO – Ao saírem, um dos presos, Adeílson Eliotério, o “Pato”, apontado como chefe do PCC em Roraima, gritou para a esposa: “Pega o dinheiro e vai para onde eu estou. Entrega para o Maciel fazer as coisas dele por aqui”, disse. A polícia informou que o recado de “Pato” para a esposa será investigado.

Após deixarem o IML, por volta das 14h, os presos foram transportados em comboio para o Aeroporto Internacional de Boa Vista Atlas Brasil Cantanhede, onde embarcaram em um avião da PF para Rondônia. Outros 20 agentes penitenciários viajaram com presos para fazer a segurança dentro do avião.

Esta foi a segunda transferência de presos apontados como líderes do PCC somente em janeiro.  A primeira foi feita para outros presídios de dentro do Estado e faz parte de ações de apoio do Governo Federal, solicitado pelo Governo de Roraima, para restabelecer a ordem no sistema prisional do Estado.

Atualmente, 18 presos de Roraima, identificados como líderes de facções criminosas, encontram-se em presídios federais de segurança máxima, submetidos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em outros estados do País.

Quem são os criminosos transferidos

*Adeilson Eleotório dos Santos, vulgo “Pato” – Além de duas condenações definitivas na Justiça, o integrante do PCC foi condenado na Operação Weak Link a oito anos e dois meses de prisão por organização criminosa. É tachado como responsável pela transmissão de informações e criação de normativas e procedimentos para integrantes da facção que estão dentro e fora do sistema prisional no Estado.

*Manoel Moraes, vulgo “Manelão” – Atua na execução de ordens oriundas das lideranças e é apontado como um criminoso de personalidade “deturpada” e “péssima índole”. Possui contra si outras quatro condenações e foi condenado a nove anos e quatro meses na Operação Weak Link.

*Denis Lima Pereira da Cruz, vulgo “Peteleco” – Foi condenado a nove anos e quatro meses ao regime fechado, mas já tinha contra si outras três condenações definitivas. É apontado como integrante com “posição importante” na facção.

*Douglas Pereira, vulgo “Jaison” – É apontado pela Justiça como responsável pelo controle financeiro e pela movimentação bancária proveniente da arrecadação da facção na Penitenciária de Monte Cristo. O posto na facção é chamado de “caixa da unidade”. Condenado a oito anos e dez meses na operação, já tem contra si outras duas sentenças definitivas por roubo.

*Antônio Cláudio da Silva Melo, vulgo “Tomate” ou “Cão Danado” – É classificado como integrante efetivo do PCC e definido como “soldado”, cuja função seria a execução de comandos enviados pela facção. Além da condenação de nove anos e quatro meses na Weak Link, já conta com quatro sentenças condenatórias definitivas por extorsão e roubo;

*Osvaldo da Anunciação, vulgo “Picolé” – A Justiça de Roraima afirma que as circunstâncias em que os crimes foram praticados por ele “demonstram sua ousadia”, uma vez que foram praticados dentro do presídio e que a facção da qual faz parte “aterroriza a sociedade e desestabiliza os órgãos de segurança”. Uma interceptação da Weak Link mostra o “batismo” dele no PCC. Ele foi condenado a oito anos e dois meses por conta da investigação do Ministério Público. Já havia sido condenado por estupro e homicídio.

*Janielson Correia Lobato, vulgo “Gaguinho” – Foi condenado a oito anos e dez meses na Weak Link, mas já possui contra si outras duas sentenças definitivas. É apontado pelos investigadores como um “soldado” do PCC na Monte Cristo.

*Anderson Monteiro Alves, vulgo “Guri” – Flagrado em interceptações telefônicas da Weak Link, foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão por, segundo a Justiça de Roraima, ser o “caixa do sistema”, responsável pela arrecadação e movimentação dos valores arrecadados com integrantes do PCC em todo o Estado. Já foi condenado em outros três processos por tráfico de drogas e receptação.

*Lirney Jefferson de Abreu Lima, vulgo “Hebreus” – Preso por tráfico, homicídio e roubo. No ano passado denunciou ao Ministério Público espancamentos sofridos no sistema penitenciário.

*Mauro Sérgio Diniz Batista, vulgo “Pigmeu” – Preso por tráfico, homicídio e roubo, também denunciou ao Ministério Público espancamentos sofridos no sistema penitenciário. Ele nega pertencer à facção criminosa.

Transferência foi para evitar novas mortes, justifica Sejuc

De acordo com o secretário estadual de Justiça e Cidadania, Uziel Castro, o pedido de transferência foi encaminhado à Vara de Execuções Penais de Boa Vista, no dia 03 de janeiro. “Encaminhamos em regime de urgência, buscando evitar novas mortes na Pamc”, lembrou.

O documento foi motivado após investigação minuciosa feita pela Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) sobre a rebelião ocorrida no dia 10 de outubro de 2016, que apontou os criminosos como mandantes das mortes. “Justificamos a transferência alegando instabilidade no sistema prisional devido à prática de ameaças desses detentos em relação aos demais internos”, disse Uziel Castro.

O pedido foi acatado pela Justiça Estadual em parceria com a 3ª Vara Federal de Rondônia, no dia 19 de janeiro. O tempo de permanência no presídio é de inicialmente 365 dias, podendo ser renovado. A partir da efetivação da transferência, a responsabilidade pelos 10 detentos passa a ser do presídio federal de segurança máxima.

Penitenciária em Rondônia abriga os bandidos mais perigosos do Brasil

Na penitenciária federal de Rondônia estão alguns dos bandidos mais perigosos do Brasil e, apesar de o presídio não ter registro de maus-tratos, de doenças contagiosas ou de superlotação, é o pesadelo dos criminosos.

Lá, o criminoso jamais é chamado pelo apelido. Não tem direito a cigarro, não fala no celular e só tem as algemas abertas depois de se ajoelhar na cela, com as mãos imóveis, para o lado de fora. São no máximo 13 presos em cada uma das 16 alas. Ao todo, são 208 vagas.

Todo preso que entra no Sistema Penitenciário Federal passa por 20 dias de isolamento. O interior da cela é praticamente só concreto. Não tem tomada, não entra equipamento eletrônico, não entra televisão, rádio, nada. Os presos não controlam a luz, não controlam também o chuveiro. O único “privilégio” é uma entrada de luz constante.

Os mais comportados têm quatro horas extras por semana em um programa de reinserção social. As videoconferências com parentes que moram longe também são apenas para os bem comportados. O presídio não oferece riscos ao interno. É limpo, tem atividades educacionais, mas o preso fica longe da família e dos comparsas e acaba desarticulando o crime organizado.