A Polícia Federal (PF) informou, nesta sexta-feira (1º), que os dois líderes presos preventivamente pela suspeita de comandar uma organização criminosa que extraiu ilegalmente 229 quilos de ouro na Terra Indígena Yanomami dominavam uma área de garimpo de 58 hectares e cobravam valores para quem quisesse trabalhar na região.
Chefe das investigações iniciadas há um ano, o delegado Vinícius Lima detalhou que os suspeitos “arregimentavam pessoas para trabalhar nas atividades ilícitas, eram proprietários de máquinas, também cobravam valores de outras pessoas que eventualmente colocavam máquinas dentro do território dele, promovendo espécie de domínio territorial” da área objeto da apuração, a qual equivale a 58 campos de futebol.
Na operação realizada na quarta-feira (30), além dos dois mandados de prisão preventiva, a PF cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em uma propriedade rural de Alto Alegre e em residências em Boa Vista.
“Haviam duas ordens de prisão preventiva e, no cumprimento das medidas, foi identificado que um dos alvos estava ali operacionalizando uma carga de suprimentos e equipamentos que seriam entregues ao garimpo ilegal. Então, decorrente disso, houve a prisão em flagrante e a representação de mais uma prisão preventiva”, disse Lima, destacando ainda o bloqueio de até R$ 90 milhões de cada um dos três investigados.
O delegado Caio Luchini, da Delegacia de Repressão e Policia Judiciária, afirmou que “o combustível dessas organizações criminosas que faz toda essa engrenagem funcionar é justamente o dinheiro. “Essa operação visou justamente atacar essas pessoas financiadoras do garimpo em Roraima”, disse.
Prejuízo ambiental de R$ 86 milhões
Laudo pericial da PF constatou que o grupo foi responsável por destruir quase metade da área que dominava (28 hectares), a partir da exploração de ouro e cassiterita (conhecido como “ouro negro”) e do desmatamento da vegetação.
O perito criminal federal Uilian Stefanello, um dos quatro profissionais que assinou o documento, afirmou que o prejuízo ambiental provocado pelos investigados pode chegar a R$ 86 milhões. Para calcular o valor, a análise considerou, por exemplo, registros fotográficos feitos presencialmente e por satélite, e informações de inteligência sobre a extração ilegal dos minérios e os custos operacionais das atividades ilícitas.
“O garimpo se instalou em 2020 e se estendeu até 2021. Ou seja, em pouco mais de um ano, teve todo esse prejuízo: R$ 40 milhões para os minérios extraídos – no caso o ouro – e mais R$ 26 milhões para a cassiterita, e R$ 20 milhões pelo dano ambiental ocasionado”, destacou.
Luchini, por sua vez, afirmou que o laudo é um dos elementos probatórios que serão anexados ao inquérito policial, que não tem prazo para finalização e envio ao Ministério Público Federal (MPF) devido à complexidade da apuração.
“Existem outros elementos de prova que serão, todos, devidamente analisados pelo presidente da investigação em conjunto com todos os materiais arrecadados no cumprimento dos mandados desta semana para que a autoridade policial consiga relatar inquérito para encaminhar ao membro do Ministério Público, pra que ofereça eventual denúncia contra essas pessoas, para que possam responder a uma ação penal”, declarou.
Os investigados poderão responder pelos possíveis crimes de usurpação de bens da União, extração ilegal de recursos minerais, organização criminosa, lavagem de dinheiro, porte e posse ilegal de arma de fogo de uso restrito e crimes contra a fauna.