ELEIÇÕES SUPLEMENTARES

Boca de urna em Alto Alegre pode chegar até R$1 mil

Ninguém questionado admite se já vendeu o voto, mas garante que a compra dele é comum no Município. Morador detalhou como é feito o pagamento

Boca de urna (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV/Ilustração)
Boca de urna (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV/Ilustração)

A boca de urna, nome popular para compra de votos, nas eleições suplementares de Alto Alegre, pode custar R$1 mil. O relato é de alguns dos moradores que conversaram com a reportagem. O pleito realizado das 7h às 17h deste domingo (28) vai definir o prefeito que governará a cidade até 31 de dezembro de 2024.

Ninguém questionado admite se já vendeu o voto, mas garante que a compra de votos é comum no Município. Um deles inclusive detalhou como é feito o pagamento.

“Pelo o que eu soube, eles pagaram duas parcelas de R$ 500 para quem estava fechado com o candidato e R$ 1 mil para quem fechou de última hora”, explicou um morador, sob condição de anonimato.

Desde a semana passada, a Polícia Federal (PF) conseguiu apreender R$ 60 mil supostamente relacionados ao crime de compra de votos. E o valor pode aumentar para mais de R$ 500 mil caso a corporação conclua que a apreensão de R$ 462 mil com empresário e servidores públicos de Bonfim têm ligação com o pleito de Alto Alegre.

Durante a noite de sábado (27) e a madrugada deste domingo (28), policiais federais realizaram diversas abordagens aos moradores da cidade. A Folha conseguiu flagrar ao menos uma que resultou em condução para a sede da Comarca de Alto Alegre, embora a PF não tenha esclarecido publicamente o que a resultou.

Fiscalização da Polícia Federal em Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Aglomerações nas frentes das casas

Aos fins de semana, é comum que moradores de Alto Alegre se aglomerem na frente de suas casas para conversas sobre temas diversos. Mas no período que antecede ao pleito, há motivação específica: discutir a eleição e esperar receber boca de urna. “Aqui ninguém passou ainda, mas a gente espera”, disse uma moradora, ainda pela tarde de sábado.

Compra de votos movimenta comércio

Comércio em Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Uma comerciante diz acreditar que as bocas de urna ajudaram a impulsionar as vendas, principalmente nas duas últimas semanas. “Nós passamos mais pix e cartão. Mas nos últimos dias foi mais dinheiro, principalmente, em notas de R$50 e R$100”, explicou.

Se a maioria das lojas da região central da cidade costumam fechar às 18h, houve lojistas que decidiram estender o expediente além das 22h. O dinheiro da corrupção é esperado, além da possibilidade de aumentar as vendas no período eleitoral.

Desobediência à Lei Seca

A Lei Seca em Alto Alegre começou a valer às 23h de sábado. Conveniências, distribuidoras e bares decidiram fechar às portas minutos antes do horário para evitar problemas com a Justiça, no entanto, houve moradores que compraram caixas de cerveja para consumir em casa ou mesmo na rua.

Questionado pela Folha por volta da 0h sobre se sabia da proibição venda, distribuição, fornecimento e consumo de bebida alcoólica, um morador visivelmente embriagado respondeu: “A gente tem que viver!”.