Política

Apelidado de “Caju”, senador de RR teria recebido propinas de R$22 mi

Conforme delação de ex-executivo da Odebecht, senador Romero Jucá arrecadava e distribuía os recursos para o PMDB

A notícia de maior repercussão na mídia nacional, neste fim de semana, foi a citação dos nomes do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e do senador Romero Jucá (ambos do PMDB), líder do governo, na delação do ex-executivo da empreiteira da Odebrecht.

A divulgação da delação causou grande repercussão na noite de sábado. Segundo o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira, Cláudio Melo Filho, Jucá centralizou a distribuição de pelo menos R$ 22 milhões dentro do partido. O senador roraimense é apontado como o “Homem de Frente” para negociar medidas no Congresso de interesse da Odebrecht. Conforme a delação, ele agia em sintonia com o presidente do Senado, Renan Calheiro.

Melo Filho cita ainda os nomes de homens importantes do atual governo, como o do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha; do secretário de Parceria e Investimentos, Moreira Franco, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além do próprio presidente da República, Michel Temer (PMDB).

DELAÇÃO – De acordo com o delator, Jucá “concentrava a arrecadação e distribuição dos recursos destinados ao partido”. Em troca, o senador roraimense atuava como “patrocinador” de uma “intensa agenda legislativa” em favor da Odebrecht.

Jucá recebeu o apelido de “Caju”. O delator disse que o fato de sua relação com Jucá envolver dinheiro lhe dava privilégios, como o de ser recebido a hora que quisesse, mesmo com o gabinete lotado de pessoas ou de esperar o senador na sala dele, mesmo sem a presença do parlamentar.

Sobre a escolha do senador como o principal articulador da empreiteira no Congresso, Melo apontou dois motivos: “A intensidade da sua devoção aos pleitos que eram do nosso interesse e o elevado valor dos pagamentos financeiros que foram feitos ao senador ao longo dos anos”, conforme o anexo da delação premiada.

Segundo o ex-executivo da Odebrecht, Jucá atuou para a aprovação de 14 projetos de lei ou medidas provisórias de interesse da empreiteira, principalmente de temas tributários. O delator lembra que ele é considerado o “Resolvedor da República no Congresso” e o “Eterno Líder”, por ter ocupado esse cargo várias vezes. Segundo Melo, Jucá também tinha “desenvoltura” no tratamento com o Poder Executivo, especialmente nos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

A ainda conforme o delatado, tudo era pago nas eleições. “Todo apoio desenvolvido pelo senador teria, nos momentos de campanha, uma conta a ser paga”, disse. Ele relatou que os apoios eram “equacionados” nas contribuições a pretexto da campanha eleitoral, de forma oficial ou via caixa 2.

JUCÁ NEGA – Em resposta as denúncias, a assessoria de imprensa de Romero Jucá informou que ele desconhece a delação e que nega ter recebido recursos para seu partido. Afirmou que todos os recursos da empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do Governo, sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação de projetos que tramitavam na Casa.