Deve iniciar, nesta terça-feira, 8, mais uma etapa de negociação entre lideranças indígenas e o Governo do Estado. Apesar de comemorarem a aprovação e sanção do Plano Estadual de Educação (PEE) com a inclusão da Educação Indígena, professores indígenas continuam em greve.
Desta vez serão discutidos, em audiência pública, 50 itens da pauta de reivindicações indígenas. Foi o que informou a vice-coordenadora da Organização dos Professores Indígena de Roraima (OPIRR), Irani Barbosa, que participou, neste domingo, 6, do programa Agenda da Semana, na Rádio Folha AM 1020, apresentado pelo economista Getúlio Cruz.
Segundo Irani, a OPIRR comemora a conquista e afirma que agora o foco é dialogar sobre os prazos para que o que foi sancionado seja cumprido o mais breve possível. Mas a volta às aulas ainda vai depender do resultado da audiência com a governadora Suely Campos (PP).
Um dos pontos a serem debatidos é quanto à questão do transporte escolar, que ainda é precário, além da contratação de mais professores. Outro desafio para a Educação Indígena, citado por Irani, está relacionado à produção de material didático com as línguas maternas. Ela conta que há elaboração de material, mas que não chegam a ser publicados por falta de incentivo. “Temos grande iniciativa”, ressaltou.
A professora comentou ainda que tem sido bastante desafiador lidar com os livros didáticos enviados pelo Governo Federal. “Eles [livros] vêm de outra realidade. O que nós precisamos é fortalecer outras coisas na nossa educação. Por isso, nós, enquanto educadores, queremos colaborar para que haja essa compreensão por parte de nossos governantes”, frisou Irani ao acrescentar que a intenção é discutir uma política social e não partidária.
De acordo com a professora, os indígenas possuem uma luta constante em busca da educação indígena, a começar das escolas, que são apenas 255 unidades de ensino para atender alunos de 400 comunidades. Conforme Irani, uma bandeira foi levantada no sentido da valorização da Educação Indígena. “Queremos a escola como instrumento de valorização, não de negação”, disse ao explicar que é de fundamental importância ministrar o ensino bilíngue nas escolas. Ou seja, além da língua portuguesa, contemplada na matriz curricular, que se mantenha a língua materna de cada comunidade.
Ela afirma ainda que é preciso entender educação indígena passada de pai para filho e a educação escolar indígena, que trata a educação a partir do momento em que a escola indígena é inserida na comunidade. A vice-coordenadora justifica ainda que ensinar a língua indígena na escola é um fator primordial para manter o ensinamento dos costumes para que, no futuro, os estudantes não neguem a sua identidade indígena.
Ainda segundo ela, atualmente, muitos já não sabem sua língua materna por não tê-la praticado enquanto estava na escola. É que a matriz curricular implantada nas escolas indígenas é a mesma da educação não indígena. “O direito dessas crianças deve ser respeitado. Por isso pedimos o ensino diferenciado. Que, inclusive, é garantido na Constituição Federal”, comentou.
FEDERALIZAÇÃO – Durante a entrevista, a representante da OPIRR foi indagada sobre a Federalização da Educação Indígena. Ela respondeu que o assunto já foi discutido e que os professores não trabalham sozinhos, mas sim em conjunto com toda a comunidade indígena: pais, alunos, tuxauas e professores.
“Estamos discutindo e analisando se federalizar a nossa educação realmente vai mudar nossa situação. Precisamos saber se ações propostas do Governo Federal realmente chegarão às nossas comunidades”, disse Irani ao pontuar que o que está no papel é uma coisa, e o que realmente acontece é outra.
OPIRR – A Organização dos Professores Indígenas de Roraima foi criada na década de 90 com o objetivo de pensar numa educação específica voltada para os indígenas a fim de lutar pela manutenção dos costumes de sua cultura.
Atualmente, a organização conta com 1.500 professores indígenas, todos servidores do Estado, tanto do quadro efetivo quando do quadro de temporários. As modalidades de ensino ofertadas são ensino fundamental e médio.
Além disso, a OPIRR conta com uma escola sediada na Raposa Serra do Sol destinada à formação técnica nas áreas de gestão e agropecuária, mantida pela comunidade para atender as necessidades das comunidades indígenas. (M.F)