Em depoimento impactante nesta quinta-feira (17), na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em Brasília, o hacker Walter Delgatti Netto trouxe à tona informações que podem alterar o curso das investigações sobre os ataques de 8 de janeiro. Sob intenso questionamento, Delgatti divulgou detalhes de seus envolvimentos com figuras políticas de destaque no Brasil.
Após ser questionado pelo deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Delgatti afirmou que a deputada federal Carla Zambelli lhe solicitou a manipulação de urnas eletrônicas. Segundo ele, a ordem provinha do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para além disso, Delgatti destacou que Bolsonaro teria pedido que ele assumisse a responsabilidade por um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes.
Em continuação, sob pressão de Vieira, o hacker revelou ter sido contatado por Duda Lima, marqueteiro da campanha de Bolsonaro, e pelo próprio ex-presidente, para engendrar uma campanha eleitoral que insinuasse fraude no sistema de votação. As revelações se intensificaram quando Delgatti mencionou ter cometido tais ilícitos sob a promessa de Bolsonaro de receber um indulto por seus atos.
Em sua fala, o hacker foi além, reiterando algo que já havia declarado à Polícia Federal e em entrevistas: sua contratação por Carla Zambelli para a execução de atividades criminosas. Nesse cenário, surgiu a menção a Jair Bolsonaro e ao presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que, segundo Delgatti, estavam em conversações para criar um plano contra o TSE, as urnas e o ministro Alexandre de Moraes.
No que diz respeito a tais encontros, Delgatti mencionou que lhe foi solicitado que apontasse falhas no sistema eleitoral brasileiro, mesmo sem evidências. Tudo isso culminando com a divulgação de um vídeo em 7 de setembro de 2022. Como recompensa, ele receberia emprego e indulto presidencial. Surpreendentemente, suas declarações indicaram a possível implicação de oficiais das Forças Armadas.
Delgatti, relatando um encontro no Palácio da Alvorada, contou sobre a proposta de Bolsonaro. “Bolsonaro disse que eu estaria salvando o Brasil… na parte técnica não entendo nada, preciso que você vá ao Ministério da Defesa e fale com os técnicos”, afirmou. Em outra ocasião, o hacker alegou que Bolsonaro solicitou que ele assumisse a autoria de um grampo ilegal contra Moraes, detalhando até um encontro em um posto de combustível com Zambelli, onde conversaram diretamente com o presidente.
As revelações continuaram com Delgatti destacando que Bolsonaro lhe deu “carta branca” para agir em relação às urnas eletrônicas. Ele também teria sido convidado a protagonizar a campanha de reeleição de Bolsonaro, com vídeos questionando a segurança do sistema eleitoral. Em um encontro mediado por Zambelli e Valdemar Costa Neto, Delgatti se reuniu com Duda Lima, marqueteiro da campanha de 2022 de Bolsonaro. Lima teria proposto a ele que expusesse vulnerabilidades das urnas ou que demonstrasse, publicamente, a possibilidade de transferência ilícita de votos.
Ao final do seu depoimento, Delgatti revelou ter sido fundamental na elaboração de um relatório dos militares entregue à Comissão de Transparência das Eleições em 2022. Segundo ele, foi ao Ministério da Defesa por cinco vezes, conversando diretamente com o ministro Paulo Sérgio e outros técnicos da pasta. O hacker concluiu dizendo: “Eu posso dizer que aquele relatório, de forma integral, foi exatamente o que eu disse. Eu apenas não digitei, mas eu que fiz ele porque tudo o que consta nele foi indicado por mim”.
As consequências desse depoimento ainda são incertas, mas uma coisa é clara: o cenário político brasileiro pode ser fortemente abalado pelas revelações de Walter Delgatti Netto.
Confira o depoimento de Delgatti na íntegra por meio da transmissão na TV Senado
