Os deputados da bancada de Roraima criticaram a privatização da Boa Vista Energia. A distribuidora de energia foi vendida por R$ 50 mil, preço de um carro popular. A venda pode resultar em um aumento inicial na tarifa de energia de 16,7%, no mínimo. Alguns especialistas apontam reajustes superiores a 70%.
A reportagem da Folha procurou todos os parlamentares e apenas os deputados Édio Lopes, Remídio Monai e Maria Helena não retornaram os contatos.Confira o posicionamento de cada um dos representantes federais:
Shéridan (PSDB)
“Nesse caso de privatização, os investidores não terão interesse em dar continuidade às obras do Linhão de Tucuruí, tão necessário para nos integrar ao Sistema Nacional. Sem essas obras, nós, roraimenses, teremos que conviver com energia cara e ruim, o que é um grande absurdo. Minha grande preocupação é que certamente haverá demissões em massa, vai haver redução no quadro de pessoal, desemprego e, segundo especialistas da área, haverá aumento no custo de produção e essas empresas vão transferir esse aumento para os consumidores. Não é a privatização que vai solucionar nossos problemas e, sim, a interligação com o Linhão de Tucuruí”.
Hiran Gonçalves (PP)
“Foi uma tragédia, fora do horário, fora de lugar. Nós estamos no final de governo e tudo foi pouco discutido. Como é que nós vamos privatizar algo que não tem nenhum valor? Como vendemos uma empresa que é inviável economicamente, a não ser que se comece a cobrar energia muito cara? Foi um desastre para nós, eu considero isso um desastre que temos que corrigir, pois foi algo no decorrer do processo eleitoral, com o Congresso esvaziado, enfim tudo feito na hora errada”.
Jhonatan de Jesus(PRB)
“É de conhecimento público que o setor elétrico de Roraima sempre teve “dono” e “padrinhos” e – de propósito – vem sendo sucateado há muitos anos com o objetivo de um dia ser privatizado, como acabou acontecendo. Vimos a privatização com uma empresa que veio que se instalar em Roraima já com esse objetivo. Essa empresa que acabou vencendo esse leilão fictício por R$ 50 mil já veio pra Roraima com cartas marcadas, uma vez que já operava com sistema vendendo energia de suas termelétricas. Isso demonstra a força do vínculo dessa empresa com seus padrinhos políticos, os donos do setor elétrico de Roraima. Então, não é nenhuma novidade, porque mais cedo ou mais tarde isso iria acabar acontecendo. Agora caberá ao Ministério Público e aos demais órgãos de fiscalização investigar e saber em que circunstâncias esta ‘pseudo’ privatização aconteceu”
Abel Mesquita (DEM)
“Sou totalmente contra o que estão fazendo com o Estado de Roraima. Me posicionei na Comissão de Minas e Energia e também na Tribuna da Câmara Federal a respeito, pois essa venda da concessionária de energia vai prejudicar especialmente Roraima, por não sermos interligados ao Sistema Nacional. Nós vamos retroagir no tempo com energia suja de termelétrica e sem confiança nenhuma no sistema que será implantado no estado”.
Carlos Andrade (PHS)
“Penso que o Brasil não deveria cometer essa injustiça com a população dessa faixa de fronteira do país, até porque é uma área sofrida que carece de desenvolvimento. A região já não tem interligação com o sistema energético nacional e essa venda é mais um fator que precariza o serviço público de fornecimento de energia no estado. A venda acontece em meio a incertezas cambiais e políticas, com dólar flutuando e eleições se aproximando. O momento do país é ruim, o que impactou no baixo preço de venda e gerou um resultado aquém do que poderia. A Oliveira Energia e a ATEM não ofereceram qualquer redução tarifária nem outorga ao Tesouro pela Boa Vista Energia, o que significa que não deve haver desconto nas tarifas para os consumidores de Roraima.Vários trabalhadores estão com seus empregos em risco. Há possibilidade de cortes, diante das incertezas relacionadas aos empregos dos profissionais que fazem parte da Boa Vista Energia. A empresa vencedora, Oliveira Energia, com sede em Manaus, passou de modesta revendedora de motores de barco, passando pelo mercado de geradores e atualmente com cerca de quarenta usinas termoelétricas, inclusive as que abastecem Roraima durante os constantes apagões de energia. A venda dos ativos da Boa Vista Energia para a iniciativa privada é um grande erro do Governo Federal. Digo isso porque entendo que o desenvolvimento da Região Norte é também de competência da União”.