Pouco mais de 40% das famílias boa-vistenses comprometem suas rendas com o pagamento de dívidas, número bem acima da média de outras capitais brasileiras, que gastam 31% do que ganham para quitar os débitos. As informações fazem parte da pesquisa Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP)
A entidade também apontou que Boa Vista ocupa a primeira posição no ranking de capitais brasileiras com as maiores proporções de famílias com contas em atraso no Brasil, com 44% de inadimplentes, apurado no mês de junho. Nos quatro anos analisados pelo estudo, a Capital de Roraima se manteve bem acima da média das capitais brasileiras, que foi de 23%.
A reportagem da Folha procurou a Fecomércio de São Paulo para tentar entender o motivo do alto percentual de endividamento das famílias em Boa Vista. “O que percebemos, na verdade, foi que todo o Brasil teve uma redução forte da massa de rendimento por conta do aumento do desemprego, o que acabou ocasionando o endividamento de muitas famílias”, explicou a assessora econômica do órgão, Júlia Ximenes.
Conforme ela, as famílias estão com menos poder de compra, mas insistem em manter o mesmo padrão de vida. “Não necessariamente é uma coisa ruim, mas devemos ficar atentos em relação à inadimplência. Quando as famílias entram nessa situação, pagam juros abusivos e o valor tende a dobrar, é onde se acaba perdendo o controle”, disse.
A economista afirmou que a pesquisa surpreendeu ao apontar Boa Vista no topo do ranking de endividamento das famílias. “É o maior percentual entre todas as capitais, o que nos fez ficar um pouco atento a essa situação, porque quando temos um percentual tão alto de famílias inadimplentes, muitas pagam juros altíssimos. O valor médio mensal dessa dívida, em Boa Vista, está na casa de R$ 1,6 mil”, destacou.
Segundo ela, o parcelamento no salário de servidores estaduais em Roraima e a falta de repasse aos bancos em empréstimos consignados preocupam. “Isso complica mais ainda. Fizemos o estudo e ficamos atentos a questões gerais e questões especificas. Isso é importante para entendermos o motivo do percentual alto. É bastante preocupante porque no final das contas quem paga por esse atraso são as famílias”, afirmou.
Júlia informou que parte significativa das dívidas parte de cartões de crédito. “Consideramos um endividamento saudável quando não ultrapassa 30% da renda, porque quando olhamos o orçamento, há vários gastos que comprometem enorme parcela. Se tem 41% da renda comprometida com dívida, vai ter que alterar o padrão de consumo de forma significativa”, frisou.
Para ela, o melhor a ser feito para evitar o endividamento é priorizar os gastos. “É necessário sempre colocar dentro do orçamento o pagamento dessa parcela mensal de dívidas que vai num longo prazo para quitar e dar uma segurança melhor. Vemos um cenário que vem melhorando, teremos recuperação do nível de emprego, recomposição da renda, mas as questões se referem mais a gestão familiar”, pontuou. (L.G.C)