Bolsonaro é denunciado como líder de organização que tentou golpe de estado

Se for condenado pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente pode pegar mais de 43 anos de prisão. PGR ofereceu a denúncia

O ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)
O ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)

O procurador-geral da República Paulo Gonet denunciou, nesta terça-feira (18), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas no inquérito do golpe. Após analisar detidamente durante três meses as provas reunidas pela Polícia Federal (PF), que indiciou o ex-presidente, Gonet concluiu que Bolsonaro não apenas tinha conhecimento do plano golpista como liderou as articulações para dar um golpe de Estado. Se for condenado, o ex-presidente pode pegar mais de 43 anos de prisão.

A agência Estadão Conteúdo pediu manifestação da defesa, mas não havia recebido um retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

Bolsonaro é apontado como líder de uma organização criminosa “baseada em projeto autoritário de poder” e “com forte influência de setores militares”.

“A organização tinha por líderes o próprio Presidente da República e o seu candidato a Vice-Presidente, o General Braga Neto. Ambos aceitaram, estimularam, e realizaram atos tipificados na legislação penal de atentado contra o bem jurídico da existência e independência dos poderes e do Estado de Direito democrático”, diz um trecho da denúncia.

Os crimes atribuídos a Bolsonaro e a seus aliados são:

  • Tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito (pena de 4 a 8 anos);
  • Golpe de estado (pena de 4 a 12 anos);
  • Organização criminosa armada (pena de 3 a 8 anos que pode ser aumentada para 17 anos com agravantes citados na denúncia);
  • Dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima (pena de 6 meses a 3 anos); e
  • Deterioração de patrimônio tombado (pena de 1 a 3 anos).

A denúncia de 270 páginas foi enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Cabe agora aos ministros da Primeira Turma analisar o documento para decidir se há provas suficientes para abrir uma ação penal. O relator é Alexandre de Moraes.

Gonet menciona na denúncia a reunião do ex-presidente com os comandantes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, no dia 14 de dezembro de 2022. O encontro teria sido uma ação preparatória para o golpe. Segundo a Polícia Federal, o plano golpista não foi colocado em prática porque a cúpula do Exército não aderiu. O procurador-geral da república afirma que Bolsonaro buscava apoio a uma “insurreição”.

“Quando um Presidente da República, que é a autoridade suprema das Forças Armadas, reúne a cúpula dessas Forças para expor planejamento minuciosamente concebido para romper com a ordem constitucional, tem-se ato de insurreição em curso, apenas ainda não consumado em toda a sua potencialidade danosa”, afirma Gonet

A denúncia também crava que Bolsonaro sabia e concordou com o plano “Punhal Verde e Amarelo” para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes. “O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu.”

É a primeira denúncia contra Bolsonaro, que foi indiciado em outras duas investigações – o caso envolvendo a fraude em seu cartão de vacinação e o desvio e venda de joias do acervo da presidência, revelado pelo Estadão. O inquérito do golpe liga todas as investigações.

Veja a lista completa de denunciados:

1. Ailton Gonçalves Moraes Barros

2. Alexandre Ramagem

3. Almir Garnier Santos

4. Anderson Torres

5. Angelo Martins Denicoli

6. Augusto Heleno

7. Bernardo Romão Correa Netto

8. Carlos Cesar Moretzsohn Rocha

9. Cleverson Ney Magalhães

10. Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira

11. Fabrício Moreira de Bastos

12. Fernando de Sousa Oliveira

13. Filipe Garcia Martins

14. Giancarlo Gomes Rodrigues

15. Guilherme Marques de Almeida

16. Hélio Ferreira Lima

17. Jair Bolsonaro

18. Marcelo Bormevet

19. Márcio Nunes de Rezende Júnior

20. Marcelo Costa Câmara

21. Mario Fernandes

22. Marília Ferreira de Alencar

23. Mauro Cid

24. Nilton Diniz Rodrigues

25. Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho

26. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira

27. Rafael Martins de Oliveira

28. Reginaldo de Oliveira Abreu

29. Rodrigo Bezerra de Azevedo

30. Ronald Ferreira de Araujo Júnior

31. Silvinei Vasques

32. Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros

33. Walter Souza Braga Netto

34. Wladimir Matos Soares

Defesa de Braga Netto se manifesta

“A fantasiosa denúncia apresentada contra o General Braga Netto não apaga a sua história ilibada de mais de 40 anos de serviços ao exército brasileiro.

O General Braga Betto está preso há mais de 60 dias e ainda não teve amplo acesso aos autos, encontra-se preso em razão de uma delação premiada que não lhe foi permitido conhecer e contraditar.

Além disso, o General Braga Netto teve o seu pedido para prestar esclarecimentos sumariamente ignorado pela PF e pelo MPF, demonstrando o desprezo por uma apuração criteriosa e imparcial

Também é surpreendente que a denúncia seja feita sem que o relatório complementar da investigação fosse apresentado pela Polícia Federal.

É inadmissível numa democracia, no Estado Democrático de Direito, tantas violações ao direito de defesa serem feitas de maneira escancarada.

A imprensa não pode ser omissa em noticiar essas ilegalidades.

A defesa confia na Corte, que o STF irá colocar essa malfadada investigação nos trilhos.”

José Luis Oliveira Lima e Rodrigo Dall’Acqua