O advogado e ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes, visitou na tarde deste sábado (22) quatro cidades da fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana para conhecer a realidade atual da região e colocá-la no debate nacional.
Acompanhado do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), deputado Soldado Sampaio, o ex-governador do Ceará iniciou o roteiro pela Operação Acolhida, em Pacaraima (RR), onde verificou que metade das crianças venezuelanas chegam desnutridas e constatou que o Brasil é capaz “de resolver problemas complexos” para atender os migrantes com atendimento médico, vacinas e abrigo.
Segundo a OIM (Organização Internacional para as Migrações), em média, o Brasil recebe 15 mil migrantes e refugiados venezuelanos por mês – e a maioria entra pela fronteira com o País governado pelo ditador Nicolás Maduro.
Para Gomes, que foi ministro no primeiro Governo Lula (2003-2006), a atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pratica uma “omissão gravíssima” ao tratar da migração venezuelana em Roraima e defendeu um olhar diferenciado para a questão. “Quem teve a oportunidade, como eu tive, de ver de perto essa realidade, percebe a gravidade da omissão do governo federal. A crise na Venezuela gerou uma onda migratória que impacta profundamente Roraima. Temos um dever humanitário e cristão de acolher essas pessoas, mas Roraima não pode arcar sozinho com esse ônus”, declarou.
Em 2018, quando era candidato a presidente, Ciro Gomes criticou a população de Pacaraima por expulsar os venezuelanos da cidade durante um protesto contra os impactos da migração, incluindo o aumento da criminalidade. Na época, ele declarou que a situação lhe gerava um sentimento de “vergonha de ser brasileiro” e se tratava de “desumanidade, de grosseria, que canalhice”. Quando esteve em Roraima naquele ano, protagonizou uma polêmica ao xingar e empurrar um repórter que o questionou sobre o assunto.
Neste sábado, Ciro Gomes ainda visitou a Câmara Municipal de Pacaraima, onde foi recebido pela presidente Dila Santos (PDT) – que citou problemas trazidos pela migração, como as dificuldades na coleta de lixo e os impactos nos serviços públicos provocados pelo fluxo migratório. O ex-ministro também esteve com o prefeito da cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén, Manolo Vallez, com quem conversou sobre a relação entre os Países e os desafios para a América do Sul no contexto global.
“Queremos que ele veja de perto os desafios e as oportunidades que nossa região oferece. Somente assim poderemos buscar soluções efetivas e duradouras”, comentou o presidente da ALE-RR.
Guiana
A comitiva com Ciro também esteve em Lethem, na Guiana, para conhecer o comércio local. Eles participaram de uma reunião com o governador da Região 9, Bryan Allicock, a vice-prefeita de Lethem, Indira Singh, e representantes das Câmaras de Comércio de Lethem e Brasil-Guiana.
Entre os empresários, Mauro Júnior, dono da Visual Tintas, expressou seu interesse em expandir os negócios para a Guiana. “Roraima precisa participar do sucesso que está acontecendo em Georgetown. Temos grandes indústrias brasileiras prontas para investir aqui e empresários locais dispostos a receber esses investimentos. Precisamos fazer isso em parceria, envolvendo Lethem e Boa Vista”, afirmou.
Ciro Gomes comparou as realidades das fronteiras de Roraima. “Pude ver de perto a grande diversidade das fronteiras brasileiras em um único Estado. De um lado, enfrentamos os graves problemas da migração, tanto para os venezuelanos quanto para os brasileiros, e de outro, observamos um boom no comércio e na expansão das relações comerciais”, analisou o ex-ministro.
Soldado Sampaio destacou a disposição do Poder Legislativo em promover a integração regional e defendeu a exploração de petróleo em Roraima, seguindo o exemplo da Guiana. “Precisamos fortalecer nossa economia e criar novas oportunidades para o nosso povo. A exploração de petróleo é um caminho viável e promissor”, concluiu.