Política

Comissão de parlamentares classifica saúde como “caótica”

Objetivo da visita é averiguar impacto da migração venezuelana na população brasileira, em especial, nas unidades de saúde em Boa Vista, Pacaraima e da rede estadual

Unidades de saúde da rede estadual e municipal receberam nesta segunda-feira, 29, a visita de uma comissão externa de deputados federais para averiguar o impacto da migração venezuelana na população brasileira. A situação encontrada pelos parlamentares foi classificada como “caótica”.

A comitiva foi formada pelos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL); General Girão (PSL-RN), Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), Delegado Pablo (PSL-AM) e o autor do requerimento da criação da comissão, deputado federal Antônio Nicoletti (PSL-RR).

Na primeira etapa, a comissão obteve dados da Operação Acolhida do Exército Brasileiro sobre a migração e esteve com a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), para falar sobre o número de atendimentos nas unidades municipais. A comissão também foi acompanhada pelo governador Antonio Denarium (PSL) nas visitas às unidades de saúde estaduais. 

Na ocasião foram visitados o Hospital Geral de Roraima, Hospital Materno Nossa Senhora de Nazareth, Hospital das Clínicas, Policlínica Cosme e Silva, Hospital da Criança Santo Antônio e posto de saúde Olenka Macellaro. Além disso, também foram percorridos outros pontos onde há grande concentração de migrantes, como a rodoviária e o bairro Caimbé.

Alguns dos pacientes internados falaram à comissão sobre as dificuldades encontradas nas unidades, como a falta de medicamentos e qualidade das refeições. “A gente não consegue completar os sete dias completos de medicamento porque falta. Eles perguntam se a gente tem os medicamentos, mas a gente não tem. Se a gente pudesse comprar, não estaria aqui. Os enfermeiros não podem fazer muita coisa, coitados”, revelou Teresinha Rodrigues, de 53 anos, internada há cerca de dois meses no Hospital Geral. 

Já os acompanhantes revelaram à Folha que a situação das unidades de saúde estava mais preocupante antes da chegada dos parlamentares. “Tinha mais gente internada no corredor, mas levaram todos para as alas”, revelou a esposa de um paciente que preferiu não se identificar.

Após as primeiras visitas, Nicoletti informou que o panorama nas unidades estaduais e municipal é similar, com a situação considerada caótica e a maioria dos atendimentos é feita para migrantes. “60% dos atendimentos são para venezuelanos. Isso prejudica o atendimento para brasileiros. Isso é fato. Não vem recurso federal para que possa ter esses atendimentos. Falta UTI Neonatal. Não tem leitos para receber as gestantes”, declarou o deputado federal.

O parlamentar frisou ainda que a comissão já oficiou o Governo do Estado e a Prefeitura de Boa Vista para obter dados concretos sobre o número de atendimentos e assim, promover um relatório final do que foi visto e apurado em Roraima.

“A partir desses dados e tendo feita essa visita in loco, vamos apresentar os relatórios e fazer as articulações junto aos ministérios e ao Governo Federal para que possa trazer a solução definitiva. Acredito que em 20 dias já teremos a capacidade de ter esse dado em mãos e fazer esse relatório conclusivo”, explicou.

SEGUNDA ETAPA – As visitações da comissão continuam nesta terça-feira, 30, desta vez em Pacaraima, município na fronteira com a Venezuela. A previsão é que os membros saiam de Boa Vista para a região por volta das 07h30 e com chegada por volta das 10h, onde participarão de reunião com o prefeito Juliano Torquato.

Em seguida, a comissão realiza visitações a diversos órgãos públicos, hospitais, Operação Acolhida, fronteira com a Venezuela e deslocamento pelos bairros e adjacências. O retorno para a Capital ocorre por volta das 15h30. Por fim, está prevista uma coletiva de imprensa no fim da tarde de hoje, por volta das 19h, no Círculo dos Oficiais de Boa Vista (COB).

Eduardo Bolsonaro diz que socialismo é raiz do problema migratório

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, informou que a raiz do problema migratório não está no Brasil, mas no socialismo pregado pelo governo da Venezuela. O parlamentar ainda fez críticas às ações cometidas pelo governo brasileiro em patrocinar obras em outros países.

“Vamos lembrar que o Brasil colaborou, e muito, para que chegasse nesse estado. Por exemplo, está faltando recurso para a saúde de Roraima, mas há algum tempo atrás estava sobrando bilhões de dólares do BNDS [Banco Nacional do Desenvolvimento] para financiar metrô na Venezuela, porto em Cuba. Todos esses países, que com seu socialismo fazem seu povo passar fome e agora, aqui no Brasil, a gente vai ter que pagar a conta”, declarou.

Questionado sobre o prazo para uma possível solução, o parlamentar ressaltou que é deputado federal eleito por São Paulo e que é presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, mas não tem o poder para especificar prazo.

“A gente sabe que aqui o prazo é para ontem. A gente vê as cenas de pessoas sendo atendidas nos corredores, situação que não existia até alguns anos atrás. Temos que olhar a situação com carinho para tentar atender essas pessoas da melhor forma possível”, afirmou.

Apesar de não estipular um prazo, o parlamentar completou que a situação não vai resolvida de forma imediata, em especial, por conta da política de ajustes de gastos da Presidência da República. “O Estado não está bem nos cofres públicos, tão pouco a União tem recursos sobrando. Vamos colocar no papel as demandas da região e fazer pressão para ver se soltamos um pouco mais de recursos federais para o Estado. Aqui já não é mais problema de Roraima, é um problema do Brasil inteiro”, concluiu.

Já o deputado federal General Eliésio Girão, que já foi titular da Secretaria Estadual de Segurança Pública de Roraima (Sesp), afirmou que talvez a falta de recursos tenha auxiliado para a crise na saúde estadual e municipal, mas parabenizou os servidores pelo trabalho executado no acolhimento de migrantes nas áreas da saúde e social.

“Os servidores estão fazendo um trabalho fenomenal, com as pessoas se desdobrando para dar atendimento a essa quantidade enorme de pessoas”, completou.

Visita de comitiva é marcada por incêndios criminosos

Vale lembrar que a visita dos deputados federais foi marcada pelo registro de seis incêndios criminosos em repartições do Governo do Estado. Em coletiva de imprensa realizada no fim da tarde de ontem, 29, o Coronel Elias Santana, comandante da Polícia Militar de Roraima (PMRR) informou que não pode descartar a chance de que as ações tenham ligação com  chegada dos parlamentares.

“Neste momento não podemos descartar nenhuma possibilidade, mas até agora não encontramos nenhum nexo causal entre os incêndios e a vinda do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República Jair Bolsonaro (PSL), ao Estado”, informou.

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