Política

Contenção de gastos foi o maior acerto, afirma Chico Rodrigues

Prestes a deixar o cargo, o governador afirma que entrega o Estado menos endividado do que recebeu graças a austeridade no uso dos recursos públicos

Na iminência de deixar o cargo, ao fazer um balanço sobre seus pouco mais de oito meses a frente do Executivo, o governador Chico Rodrigues apontou a contenção de gastos e redução do endividamento do Estado como o principal trunfo da gestão dele. Segundo ele, ainda que em processo de disputa eleitoral, o Governo do Estado pisou no freio quando o assunto foi gastos públicos, ainda que as decisões fossem ao encontro de “interesses corporativista”.
Em entrevista ao programa Agenda da Semana, da Rádio Folha 1020, Chico afirmou ter tido um governo austero, com coragem para tomar decisões duras. Ele exemplificou ao ressaltar que em menos de nove meses, licitou menos de R$ 5 milhões em obras, apesar de “pressões” de empresários e da classe política. “Tivemos um cuidado redobrado para impedir gastos desnecessários. Por isso, tivemos que conviver com pressão 24 horas e fui alvo até mesmo de incompreensão coletiva. Não cedemos e pagamos o preço por isso”, disse.
Ele lembrou que assumiu o governo com cifra vermelha na casa dos R$743 milhões de dívidas de várias ordens, como precatórios, encargos sociais, pagamento a fornecedores, entre outros. Com o cancelamento de processos, não aquisição de novas dívidas e outras manobras financeiras, Chico disse ter alcançado uma economia de R$ 150 milhões, deixando algo em torno de R$100 milhões de restos a pagar para o próximo governo.
Ele lembrou ainda que o início da gestão dele coincidiu com o início do pagamento dos juros de serviço da dívida referente ao empréstimo bilionário adquirido por seu antecessor. Isso gerou um débito de R$15 milhões por mês aos cofres públicos que, segundo Chico, deixaram de ser aplicados em outros serviços, atrapalhando a gestão.
O governador disse ter feito esforço para aumentar a arrecadação do Estado por meio da inteligência fiscal, com a implantação de um sistema cedido pelo governo do Amazonas, que aumentou a eficiência na arrecadação de impostos em R$ 80 milhões. Além disso, frisou como ações positivas a manutenção em dias da folha de pagamento dos servidores, de programas sociais, regularização do fornecimento de merenda escolar e alimentação ao sistema prisional, redução de gastos em rotas do transporte escolar, repasse do duodécimo dos poderes, ainda que fracionados, ressaltando que apesar da crise financeira, conseguiu manter o “governo funcionando a contento”.
LOA – O governador justificou o envio do Orçamento 2015 para a Assembleia, com montante estagnado em relação ao ano anterior. Ele disse que a prioridade era o saneamento de contas públicas que vinham desde 2009, somando mais de R$ 56 milhões. “Encaminhamos a lei sem correção, porque entendíamos que com arrecadação, poderia se fazer repasses aos poderes e o excesso de arrecadação deveria ser usado para pendências acumuladas a mais de cinco anos. Com esse excesso previsto seria liquidado todo estoque de dívidas e se ganharia uma margem para governar”, explicou.
Ele frisou ainda que, em seu entendimento pessoal, os deputados não poderiam ter alterado o Orçamento sem alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ele afirmou que suspeita que o reajuste de 6,5% feito pela Casa Legislativa esteja indevido, mas frisou que esta preocupação agora cabe aos mecanismos de fiscalização e controle.
Chico afirmou que, apesar de todas as dificuldades, deixa o governo com recursos na ordem de R$ 1 bilhão garantidos em convênios com o Governo Federal, além de deixar R$ 274 milhões em caixa. “Fizemos um esforço enorme, preparando o Estado para enfrentar 2015 sabendo das dívidas acumuladas, além de uma máquina pública pesada e ineficiente”, declarou.
Assembleia vetou venda de jatos e conjunto dos Executivos
O governador frisou que a economia para o Estado só não foi maior porque o Legislativo deu um banho de água fria em pelo menos três propostas enviadas pelo Executivo. Uma delas foi a venda do conjunto dos Executivos, que não foi autorizado pelos deputados. Segundo Chico Rodrigues, o imóvel havia sido avaliado em R$ 84 milhões pela Caixa Econômica Federal e já dispunha de possíveis compradores interessados.
Outros “nãos” da Assembleia foi dado à proposta de venda de três aeronaves do governo – sendo dois jatos e um helicóptero – e a autorização para que o governo editasse Leis Delegadas, que disporiam sobre a reestruturação e racionalização das Estrutura do Poder Executivo. Isso, segundo Chico, teria dado ao governo uma capacidade maior de enxugamento da máquina pública.
ELEIÇÕES
Para Chico, erros foram na formação de alianças
Questionado sobre o maior erro na curta trajetória à frente do governo do Estado, Chico respondeu ao atribuir a derrota que sofreu as alianças políticas que não deram certo. “As pessoas avaliam a postura de cada um e eu procurei estabelecer uma relação de confiança com a população e compromisso com a coisa pública. Das oito eleições que disputei, venci sete. Nestas eleições, as decisões foram difíceis, e talvez em outras circunstâncias eu poderia ter tido mais autonomia sobre elas”, argumentou.
Um dos grandes problemas apontados por ele foi a candidatura de três senadores dentro de um mesmo grupo. No segundo turno, depois que estes foram derrotados, Chico disse ter partido para uma campanha quase solitária no segundo turno, momento em que teve uma dificuldade em ser compreendido pela população. “Não é fácil, mas saí dessa eleição maior que entrei”, concluiu.
Sobre o futuro político, o futuro ex-governador disse que vai continuar trabalhando e se mostrou interessado em retornar ao cenário político, seja nas eleições de 2016 ou de 2018, embora não tenha especificado pretensos cargos.