Política

Delcídio cita 12 vezes Romero Jucá em delação premiada da Lava Jato

Senador roraimense do PMDB é apontado como partícipe de quatro supostos esquemas diferentes de corrupção

Divulgado na tarde de ontem pelo jornal gaúcho Zero Hora, o documento integral da delação premiada do ex-senador petista Delcídio do Amaral traz o detalhamento de diversos esquemas de corrupção praticados por colegas de partido e também de outras siglas. Dentre eles, o senador roraimense Romero Jucá (PMDB) foi citado 12 vezes em quatro esquemas diferentes.

A delação de Amaral foi homologada na manhã de ontem pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki. Com isso, fica atestada a validade jurídica ao acordo do ex-senador com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Agora, será analisado se há indícios nas afirmações dele que justifiquem a abertura de inquéritos.

Delcídio do Amaral relatou que Jucá participou, dentre outras coisas, do grupo de políticos do PT e do PMDB que receberam R$ 30 milhões em propinas pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. “Antônio Palocci coordenou esses pagamentos de propina no âmbito do PT, destinando-os à campanha eleitoral de Dilma Rousseff e ao próprio PT, para redistribuição em benefício de diversas outras campanhas eleitorais. No PMDB, Silas Rondeau destinou as ditas propinas para o grupo de José Sarney, do qual fazem parte Edison Lobão, o próprio Silas Rondeau, Renan Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp e Jader barbalho”, destaca o documento.

As alegações de Amaral apontam que Jucá faria parte de um “núcleo duro” diretoria nacional do PMBD influenciando todas as decisões tomadas pelo partido. “Esse núcleo é composto por Renan Calheiros, Romero Jucá, Eunício VIira, Raupp e Lobão. Ele [o grupo] monopoliza as nomeações no Governo Federal, não apenas nas empresas de energia, mas também nas agências reguladoras e Ministerios”, delatou Amaral.

Conforme a delação, passaram pelas mãos desse “time” as usinas de Jirau & Santo Antônio, Belo Monte, a Usina Nuclear de Angra dos Reis, entre outras obras. O documento destaca que todas as obras foram indicadas pelo PMDB, “principalmente pelos senadores Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Romero Jucá”.

Conforme a delação, a bancada do PMBD teria se empenhado em “assumir” a Diretoria Internacional e a Diretoria de Abastecimento do Ministério de Minas e Energia. Ele ressalta a ligação de Romero Jucá com os senadores para garantir as indicações aos cargos.

Questionado sobre o que significa “assumir” uma diretoria, Delcídio respondeu que, “além do peso político, os diretores indicados por partidos ‘atendiam às demandas’ do partido”. “Não se trata só de influência política, mas também de ‘doações’ e ‘outros objetivos não republicanos’”, delatou.

A nomeação representava, dentre outros, a escolha de empresas de interesse do partido, em especial pela forma como era flexibilizado o processo seletivo na Petrobras. “Tais diretores ‘ajudavam’ as empresas e os partidos recebiam ‘doações’ em troca”.

É destacada também a participação do senador Jucá num esquema de “pagamentos de propinas por meio de laboratórios farmacêuticos e planos de saúde”. “Eles jogaram ‘pesado’ com o governo para emplacarem os principais dirigentes dessas agências. Com a decadência dos empreiteiros, as empresas de planos de saúde e laboratórios se tornaram os principais alvos de propina para os políticos e executivos do governo”, disse Amaral.

O documento registra uma ligação direta entre o senador roraimense com o deputado Eduardo Cunha e o empresário André Esteves. Conforme Amaral, os três agiam em assuntos relacionados ao Banco BTG, “especialmente no que tange a emendas às Medidas Provisórias que tramitam no Congresso”. “Se transformou em campo fértil para oportunidades de defesa de interesses setoriais e para negócios escusos”, apontou o ex-senador petista.

ROMERO JUCÁ – A Folha entrou em contato com a assessoria de comunicação do senador solicitando um posicionamento a respeito das acusações, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.

Na matéria divulgada pelo Jornal Nacional, da Globo, ontem à noite, Jucá se posicionou afirmando que a delação “não mostra nenhuma irregularidade praticada por ele e que estava à disposição da Justiça”. (J.L.)