Política

Deputados ouvem professores de escolas indígenas na Assembleia

Os professores indígenas se reuniram na tarde de ontem, na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima (ALE-RR), em audiência com os parlamentares que compõem a Comissão de Educação e Saúde. Eles voltaram a cobrar a exoneração da secretária de Educação e pediram que o capítulo correspondente à Educação Indígena seja reinserido no Plano Estadual de Educação (PEE).

Os profissionais cobraram ainda melhorias na estrutura das escolas, fornecimento de merenda escolar adequada às especificidades de cada localidade, além de transporte escolar que atenda às suas necessidades. O encaminhamento para realização da audiência pública foi feito pela Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr).

Eles levaram faixas contendo artigos da Constituição Federal, além de palavras de ordem direcionadas ao governo. Solicitaram que a ALE crie uma frente parlamentar indígena para manter diálogo direto com eles. Uma carta foi entregue à presidente da comissão, deputada estadual Lenir Rodrigues (PPS), em alusão ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, que continha as principais reivindicações das comunidades. Mais de 4.500 professores participaram da sessão.

Representantes de entidades que tratam da educação em cada etnia afirmaram que esta foi a primeira vez que participam do movimento grevista. O coordenador de comunicação da Associação Yanomami Hutukara (HAY), Morsaniel Yanomami, disse que as escolas que estão nas terras yanomami não recebem material didático e merenda escolar, além dos professores com salários atrasados. “Depois da mudança de gestão piorou demais. É difícil para nós, por isso paramos as aulas”, destacou.

O presidente da Associação Povo Yekuana do Brasil (APYB), Reinaldo Luiz Rocha, reforçou. “Nós somos brasileiros legítimos, temos direitos diante do governo. Sou professor e as crianças das comunidades merecem um ensino de qualidade, não pode haver distinções. Estamos somando mais de 4.500 educadores neste auditório, todos unidos, compartilhando os mesmos objetivos”, frisou.

O representante da Opirr, Misaque Souza, informou que, enquanto o PEE não for reformulado, as aulas não serão retomadas. “Dentro do projeto foi retirado o capítulo que dispõe sobre a nossa modalidade, além de outras situações que fizeram com que a gente se manifestasse. Nós vamos pedir aos deputados para inserir as 40 estratégias de educação escolar indígena no PEE. A diversidade tem que ser respeitada como povo, como uma sociedade que contribui bastante com o crescimento da educação. A insatisfação é total. Se tivesse tudo bem, como o governo diz, ninguém estaria aqui”, acrescentou.

O secretário geral da Opirr, Mário Belarmino, disse que a única alternativa para manter uma discussão saudável com o governo é a exoneração da secretária. “Temos uma Divisão de Educação Indígena na própria Secretaria de Educação, onde nossa representante não tem acesso à secretária. Nós vamos além de reclamar nossos direitos. Nós estamos cobrando o que está na Constituição do país”, frisou.

O deputado Evangelista Siqueira (PT) afirmou que a comissão é favorável ao movimento dos indígenas e que pretende promover discussões para reelaboração do PEE. “Não tenham dúvidas de que a comissão, por unanimidade, já deixou claro o interesse de manter aquilo que é direito do povo indígena do Estado. No relatório e na votação vamos manter o capítulo que se refere à educação escolar indígena”.

A deputada Lenir Rodrigues disse que a comissão poderá convocar a secretária Selma Mulinari para dar explicações. Ainda esta semana a comissão irá discutir sobre o PEE e demais propostas dos profissionais de educação das áreas indígenas. (J.B)