“Já não tenho mais esperanças”. “Nas próximas eleições, quero voltar para votar”. “A Venezuela não merece isso”. Esses são alguns dos relatos de migrantes venezuelanos, que vivem em Boa Vista, sobre o resultado da eleição da Venezuela, a qual resultou na reeleição do atual presidente Nicolás Maduro, que está há 11 anos no cargo.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Maduro venceu a disputa com o apoio de 51,2% dos eleitores. Ele derrotou o opositor, Edmundo González, que recebeu 44%. Entretanto, a oposição contesta o resultado, assim como especialistas e autoridades internacionais, que desconfiam da transparência na apuração dos votos.
“Vim para o Brasil porque lá estava ruim. Com a reeleição de Maduro, vai continuar da mesma forma. Só quero voltar para a Venezuela quando a situação melhorar. Acredito que o resultado foi fraudado, mas as eleições de lá nunca são limpas, sempre tem algo”, relatou Rubin Belazque, de 64 anos. O artesão autônomo é natural de Maturín, capital de Monagas. Ele deixou o país em março deste ano para buscar uma vida melhor no Brasil.
Assim como Rubin, os outros migrantes entrevistados pela FolhaBV afirmaram que não votaram nesta eleição por falta de recursos financeiros para retornar ao país de origem. A embaixada da Venezuela era o único local onde os venezuelanos puderam votar no Brasil. Entretanto, ela está localizada no Distrito Federal.
Arbely Gonzalez, de 40 anos, está há 24 dias em Boa Vista. Na Venezuela, ela morava na cidade de Puerto Ordaz, em Bolívar. Conforme ela, não foi possível participar das eleições, pois veio para o Brasil há pouco tempo. Porém, pretende voltar ao país na eleição seguinte, que acontecerá em 2032.
“Não acredito que o resultado foi justo, as pesquisas indicavam que o opositor ia ganhar. O resultado demorou muito para sair e, de repente, Maduro foi reeleito. Todos nós ficamos tristes, choramos à noite, mas agora temos que seguir em frente. Espero que ele faça algo pela Venezuela, mas acho difícil, pois não fez nada pelo povo em 20 anos. Então, creio que não fará agora. Esse governo arruinou o país, não tem trabalho, a pobreza é demais, está ainda pior que antes. Nas próximas eleições, quero voltar à Venezuela para votar”, disse.
Para a licenciada em admnistração na Venezuela, Desiree Castro, não é possível confiar no sistema eleitoral venezuelano. A jovem de 27 anos declarou que tem não sentirá esperança no país enquanto o governo chavista perdurar. Ela saiu de El tire, em Anzoátegui, em direção a Roraima há dois meses e aguarda ser interiorizada em Santa Catarina, onde irá reencontrar a família.
“Sinto uma dor profunda depois desse resultado, porque esperava que a Venezuela ficaria livre. Nós confiamos que a oposição ganharia, mas já sabíamos que não seria uma eleição justa. Não aceito o resultado, mas tem nada que eu possa fazer para provar que houve fraude. Acredito que, depois disso, perdemos as esperanças no sistema eleitoral de lá, que está muito corrompido. Não é possível confiar. Já não tenho mais esperanças, pois é um governo sujo, que compra as pessoas, e impede que migrantes voltem ao país para votar”, desabafou.
Migração venezuelana
De acordo com dados da OpA, em 2024, o fluxo de entrada da população venezuelana em Roraima registrou a média de 10 mil por mês. Uma queda, quando comparado à 2023, que teve uma média de 10 mil.
O processo migratório dos venezuelanos estourou em 2015, há quase 10 anos. Desde 2018, aproximadamente 1 milhão e 300 mil pessoas passaram pelas fronteiras, sendo 700 mil pela Operação Acolhida (OpA). Pelo último de pilar da Operação, a interiorização, mais de 130 mil migrantes foram para outros estados após oportunidade de trabalho. A média de interiorizados estaria em cerca de 2.500 pessoas por mês.
Ao serem questionados sobre o que se pode esperar da Venezuela nos próximos anos, Arbely e Desiree acreditam que a migração venezuelana será ainda mais intensa. “O governo vai continuar da mesma forma e, com isso, muitos venezuelanos vão querer sair de lá, pois sabem que nada vai mudar”, declarou Desiree.
Conforme o perito agrônomo, Alberto Lopez, que trabalha como autônomo no Brasil, a Venezuela vive um “terrorismo ideológico, que dividiu a sociedade venezuelana”. No entanto, ele afirma que o povo irá resistir à “perversão moral”. O migrante de 66 anos veio de Sucre, município do estado de Bolívar, e está em Roraima há dois anos.
“A miséria na Venezuela é problemática, nosso país não merece essa situação. É preciso ter cuidado com esse tipo de regime. O que acontece agora na Venezuela, pode acontecer da mesma forma em outros países. A Venezuela precisa ser cuidada”, opinou.