Política

Distritão mexe com quem já está e com quem quer entrar na política

Modelo muda o sistema de eleição dos deputados, e é criticado por especialistas que temem o enfraquecimento do papel dos partidos e favorecimento aos candidatos mais conhecidos

Na manhã deste domingo (8), o cientista político doutor Roberto Ramos participou do programa Agenda da Semana, da Folha FM 100.3 e avaliou o atual cenário político brasileiro. Ao analisar o chamado distritão, modelo que, se aprovado, permitirá que sejam eleitos os candidatos mais votados, ele pontuou que o assunto poderá interferir não só em quem está no Congresso, mas em quem pretende chegar. 

“A ideia de você ter um processo eleitoral em que os eleitos sejam os que tenham o maior número de votos, gera contraste, mas isso esvazia algo que é importante em qualquer democracia, que são os partidos”, disse Roberto Ramos. 

O cientista também ressaltou que os brasileiros buscam por mudança, mas que precisam rever sua postura enquanto eleitores. “Renovação é sempre a questão da qualidade, da pluralidade e, isso acho que é o maior problema, a gente acaba trocando meia dúzia por seis, ou seja, não consegue encontrar novos representantes que possam espelhar melhor a sociedade”. 

Voto impresso

Sobre a discussão entre voto eletrônico e impresso, o cientista destacou que todo sistema é vulnerável, mas avaliou que está havendo uma tentativa de deslegitimar o Judiciário.

“Recentemente vimos o que houve na Universidade Federal de Roraima, entraram no sistema na instituição. Então, quando essa crítica vem do Governo em cima do Judiciário –  porque quem organiza é o Judiciário –  vejo aí como parte do conflito, tentar de alguma forma deslegitimar e aumentar o número de pessoas que levantam questionamentos sobre o assunto”. 

Conflitos

Roberto Ramos afirmou que conflitos cada vez mais crescentes têm gerado um distanciamento maior dos eleitores. “Estamos sempre vivendo momentos difíceis no país, no que se refere à política, como as pessoas encaram, e os conflitos geram um distanciamento maior dos eleitores e da população, num modo geral, que não consegue entender a razão disso”, explanou. 

O cientista destacou que o objetivo da atual gestão do presidente da República, Jair Bolsonaro, é mudar o foco da agenda de governo. “O governo tem alguns acertos onde parece que a política econômica começa a melhorar, embora, não tenha ainda refletido positivamente no número de empregos, melhoria da condição de vida da população, inflação que começa a aparecer, aumento do número de pobres. É um governo que não conseguiu cumprir a sua agenda de campanha, assim como a redução da violência, problema que persiste, que tirou o protagonismo do Brasil”, avaliou Ramos.