Política

Duas pessoas aderem à greve de fome

Pastor e outro professor aderiram ao protesto, iniciado na semana passada, que pede a redução das verbas repassadas a vereadores

“Sou o professor Pierre Pinto, estou em greve de fome já há seis dias, indo para o sétimo e estamos fazendo esse movimento que é um ato de cidadania para que as pessoas em Boa Vista possam viver melhor”. Este trecho foi retirado de um depoimento compartilhado ontem, 3, em redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas em Roraima e foi feito por integrantes do movimento protagonizado pelo professor Pierre Pinto, em frente à Câmara Municipal de Boa Vista, localizada na avenida Capitão Ene Garcez, Centro da Capital.
No áudio, o professor convoca a população para aderir a uma mobilização que será realizada amanhã, 5, às 8h da manhã, em frente à Câmara dos Vereadores. “Traga uma corrente e um cadeado para que a gente possa cercar essa Câmara dos Vereadores e mostrar para o Brasil inteiro que Boa Vista tem pessoas de bem e que os maus não vão vencer mais nesta cidade”, diz o professor durante a gravação.
O movimento surgiu no dia 28 de abril, incitado por uma matéria veiculada em rede nacional. A reportagem abordava a verba indenizatória recebida pelos vereadores, que, em alguns casos, podem custar uma quantia de cerca de R$ 85 mil reais por mês aos contribuintes. O objetivo era fazer com que os parlamentares municipais reduzissem os seus salários e fossem punidos pela atitude.
Desde então, além de Pierre, mais duas pessoas aderiram à greve de fome, o Pastor Miqueias Costa e o professor do curso de Agronomia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Valdinar Ferreira Melo. Miqueias está sem comer desde sábado, 2 de maio, e Valdinar, desde o início de domingo, 3.
A greve de fome já alterou a saúde de Pierre, que tem dificuldades para se locomover e para se manter acordado. Até o momento, ele tem se alimentado somente por líquidos, como água e suco. Por estar acorrentado, as necessidades fisiológicas do professor são feitas através de uma garrafa. No domingo, ele foi atendido em uma clínica e depois foi encaminhado para o Hospital Geral de Roraima (HGR) para fazer um balanço sobre o seu estado.
“Ele está fraco, mas resistente”, disse a esposa do professor, Andreia Miranda, casada há 19 anos com Pierre e mãe de seus três filhos. A família só fica reunida no local durante o dia. “Somente os adultos dormem aqui”.
De acordo com Andreia, no momento, somente Pierre, Miqueias e Valdinar estão realizando a greve de fome, mas outras pessoas se mantêm unidas para dar apoio à causa, inclusive dormindo no local com barracas. O espaço também serve como ponto para a assinatura de um abaixo assinado que pede a cassação dos vereadores. “Sete mil pessoas já assinaram esse documento”, disse.
DIFICULDADES – Uma das dificuldades enfrentadas pelos participantes do movimento, segundo Andreia, foram ameaças a integridade física do professor. “Pessoas têm vindo ameaçar, mas nós estamos tomando as providências cabíveis”. Segundo o professor, o mesmo carro passou no local três vezes seguidas gritando ameaças contra sua vida.
Apesar dos acontecimentos, Andreia explica que tem recebido ajuda. “Muita gente vem dar uma assistência, pessoas de todas as classes sociais”, disse. Outras formas de apoio podem ser percebidas nos portões da Câmara Municipal. Cartazes e desenhos de alunos e artistas plásticos da cidade foram colocados por iniciativa própria da população.
OUTRO LADO – Segundo os manifestantes, até o momento, não se obteve resposta da Câmara Municipal. “Muito pelo contrário! Só passaram pessoas aqui, mandaram a gente ir embora, tentar esmorecer, mas estamos cada vez mais firmes. Ficaremos aqui até eles se posicionarem positivamente”, informou.
Conforme Andreia, se o estado de saúde de Pierre se tornar insustentável, outras pessoas estão dispostas a tomar o seu lugar. “As pessoas precisam se conscientizar. E às vezes é preciso algo radical acontecer para que acordem”, finalizou.
A Folha entrou em contato com a Câmara Municipal de Boa Vista através da sua assessoria de comunicação e não obteve retorno até o fechamento da matéria. (P.C)