Política

Edio Lopes justifica seu voto contra impeachment

Ele apontou três motivos que o fizeram votar contra, apesar de ter anunciado à Folha, em matéria veiculada no sábado, que votaria a favor do impeachment

O deputado federal Edio Lopes (PR) foi tachado nas redes sociais como “vergonha de Roraima” após votar contra, na Câmara, no domingo, o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Após a votação, o parlamentar se justificou e afirmou que utilizou a sua experiência política para decidir o voto.

“Há quem entenda que eu votei errado, mas eu votei da forma de alguém que tem uma opinião e a segue. Nunca tive uma troca de frase com a presidente e não tinha razão para votar diferente daquilo que acreditava ser o melhor diante da situação que estava sendo apresentada”, avaliou o deputado.

Ele apontou três motivos que o fizeram votar contra, apesar de ter anunciado à Folha, em matéria veiculada no sábado, que votaria a favor do impeachment. “Eu já vinha analisando três pressupostos nesta questão. O primeiro é o da materialidade do crime pelo qual a presidente foi julgada no domingo. No meu entender, o crime de responsabilidade não poderia está configurado ali”, justificou.

O deputado foi o terceiro parlamentar roraimense a votar e limitou-se a dizer que era contra o prosseguimento do processo porque, quando a presidente Dilma Rousseff autorizou as “pedaladas” fiscais, o Tribunal de Contas da União (TCU) admitia o comportamento.

“Tanto isso é verdade que o próprio TCU havia enviado um pedido de abertura de crédito para o próprio. Mas acontece que, num dado momento, o Tribunal entendeu que aqueles decretos não poderiam mais existir e, então, retroagiu, destacando que até então aquele procedimento era perfeitamente normal para os governos”, ressaltou Lopes.

O segundo ponto destacado pelo deputado foi o envolvimento do PMDB. Ele ressaltou que ao se admitir a culpa do PT na autorização das “pedaladas”, o PMDB também teria a sua parcela e que, por isso, não seria justo aceitar que só a presidente fosse “julgada”. “Se o crime tivesse ocorrido, o presidente Michel Temer também deveria estar no mesmo processo. Mesmo porque ele assinou quatro dos decretos de abertura de crédito. No momento em que ele assinou, ao contrário do que alguns dizem, ele era sim presidente da República, estava ocupando aquele cargo, respondendo como tal. Por isso não achei que seria por bem destituir apenas Dilma”, avaliou.  

Para o deputado, que rompeu com o PMDB este ano e se filiou ao PR, o terceiro motivo que justificou seu voto foi a atuação do antigo partido durante os cinco anos do governo de Dilma. “Não tenho como modificar o passado. Eu estive durante nove anos como deputado federal no PMDB. E o PMDB não pode dizer que ele era figurante, na verdade, ele era coadjuvante do governo de Dilma. O PMDB era governo e existe mérito direto do partido tanto nos acertos quanto nos erros”, ponderou o deputado.

Edio Lopes acredita que a culpa pela crise brasileira vem de ambos os lados que agora figuram a disputa pelo poder. Para ele, a saída do PMDB da base do governo para apoiar o impeachment “foi como se o partido tivesse apagado seu passado”. “O PMDB tinha sete ministérios e algumas centenas de cargos, dentre os quais cargos mais elevados da República. Como desvincular a culpa?”, questionou.

“Eu tomei a decisão ali, no plenário, de última hora, convicto de votar contra porque eu não me convenci de que havia um crime de que aquele partido, no qual eu estive a vida inteira, estava imune àquilo tudo”, disse o parlamentar.  

Para Lopes, a maioria dos deputados que votaram a favor utilizou de artifícios fora do processo para se justificar, como a má administração do governo e a impopularidade da presidente. “Mas isso não estava dentro do processo. Se hoje, ou amanhã, for possível do ponto de vista jurídico, vir um processo para um presidente por impopularidade ou por má administração, eu votaria a favor, porque reconhecidamente Dilma é impopular e tem uma gestão temerária, por isso eu procurei ser coerente”, frisou.

Para o deputado, a solução é a convocação das eleições gerais, em todos os cargos da esfera política. Ele destacou que este é o “momento adequado” para que a população escolha novos representantes levando em consideração “as entranhas, as vísceras do mundo político, que estão expostas para a sociedade devido aos mais variados escândalos de corrupção”. “Se nessa ocasião a população reeleger os figurões desses escândalos, ela deverá estar ciente disso”, destacou. (JL)