Política

Em êxodo, venezuelanos deixam o país em embarcações precárias

Cruz Vermelha teme avalanche de refugiados em tempos de crise

O êxodo venezuelano começa a embarcar nas mesmas balsas em que se aventuravam cubanos, haitianos ou dominicanos décadas atrás para escapar de seus países de forma ilegal.

No total, 20 jovens venezuelanos (e um colombiano) foram surpreendidos pela Guarda Costeira perto de Willemstad, principal porto de Curaçao, uma ilha no Mar do Caribe que pertence à Holanda, localizada a cem quilômetros da Península de Paraguaná.

A foto dos venezuelanos chegando às docas numa embarcação precária com as mãos ao alto, publicada pelo “Noticias Curazao”, causou impacto no país, que vive uma das maiores crises econômica, política e social de sua História recente.

As autoridades informaram que os balseiros levavam cigarros, estimulantes sexuais e um pacote de munições em quantidades pequenas que provavelmente seriam revendidas por algum dos ocupantes.

Com o aumento da chegada de venezuelanos, autoridades de Curaçao e Aruba endureceram os controles migratórios há alguns meses, sem incluir por enquanto a necessidade de visto — mas com a obrigatoriedade de levar pelo menos US$ 500 em dinheiro.

E eles já não fogem por avião, como antes: a companhia Avior suspendeu seus voos entre Caracas e a ilha há uma semana, diante da baixa ocupação das aeronaves. Até agora os chamados “balseiros do ar” haviam se transformado no símbolo da fuga.

Desde o início do chavismo, o país perdeu dois milhões de cidadãos. E o medo de uma nova avalanche de refugiados obrigou a Cruz Vermelha a pensar num plano de emergência.

— É a imigração do desespero — resumiu o sociólogo Tomás Páez, que se diz surpreso porque além de jovens, pessoas da terceira idade e donas de casa também começam a fugir com os filhos nas costas.

Ramón Muchacho, prefeito de Chacao e dirigente do partido Primeiro Justiça, diz que perdeu 10% de seus funcionários:

— A crise veio com força e apareceram os balseiros de verdade, aqueles que não têm nem uma passagem de avião e estão dispostos a correr o risco de naufragar ou ser devorados por tubarões para escapar. Com a cubanização da Venezuela, não podiam faltar nossos próprios balseiros.

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AUMENTO DE PEDIDOS DE ASILO NOS EUA

O êxodo se concentra em Estados Unidos, Espanha, Colômbia, Panamá, Chile, Peru, Canadá, Equador, França e Portugal. Boa parte deles são profissionais ou universitários dispostos a empreender uma aventura forçada. Apenas nos EUA vivem até 400 mil venezuelanos, segundo números de sociólogos. Em segundo lugar está a Espanha, pátria de seus pais e avós — o que fez com o consulado em Caracas reforçasse o número de funcionários.

Um dos termômetros que confirmam a chegada da nova onda de imigrantes são os pedidos de asilo, que se multiplicaram nos EUA — um aumento de 168% este ano — e na Espanha, segundo um estudo do Centro de Investigações Pew. No total, 10.221 venezuelanos teriam pedido asilo entre outubro e junho deste ano, frente a 3.810 no mesmo período um ano antes. Na Espanha, a Venezuela já é a segunda nacionalidade a pedir a proteção internacional, atrás da Ucrânia.

Com informações do portal O Globo.