Escalada autoritária: Entenda os capítulos recentes da crise na Venezuela

Principal opositor de Maduro, Edmundo González deixou a Venezuela neste sábado (7) com destino à Espanha.

governo de Nicolás Maduro revogou no sábado (7), de forma unilateral, a custódia do Brasil da embaixada argentina na Venezuel (Foto: Divulgação)
governo de Nicolás Maduro revogou no sábado (7), de forma unilateral, a custódia do Brasil da embaixada argentina na Venezuel (Foto: Divulgação)

O ex-candidato à Presidência Edmundo González Urrutia deixou a Venezuela neste sábado (7) com destino à Espanha, onde obteve asilo político. A viagem do opositor de Nicolás Maduro à Europa foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares. 

“Edmundo González decolou de Caracas rumo à Espanha em um avião da Força Aérea Espanhola”, publicou Albares na rede social X, informando que Madri estava respondendo a um pedido de asilo.

A saída de González ocorre cinco dias após a Justiça venezuelana ordenar sua prisão sob acusações relacionadas à publicação de resultados eleitorais paralelos em um website — uma acusação que o ex-candidato rejeitou repetidamente.

Embora a independência entre os Poderes e o domínio militar bolivariano em cargos-chave da administração pública sejam características do governo venezuelano há mais de uma década, o ciclo eleitoral mais recente, segundo especialistas, marcou uma intensificação na deterioração democrática do país. Entenda melhor os capítulos mais recentes da crise no país:

A política Marina Corina Machado é opositora de Nicolás Maduro
A política Marina Corina Machado er a principal opositora de Nicolás Maduro (Foto: Arquivo pessoal)

Exclusão da principal opositora

O ano começou com uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela que impediu María Corina Machado de concorrer a cargos públicos por 15 anos. María Corina havia vencido as prévias da oposição com mais de 90% dos votos, mas foi condenada por sua participação na autoproclamada Presidência de Juan Guaidó em 2019. Guaidó, embora reconhecido como presidente por diversos países, nunca exerceu o cargo de fato, com Nicolás Maduro mantendo o controle do país.

A filósofa Corina Yoris (à direita) iria substituir a líder opositora (Foto: Federico Parra/ AFP)

Substituta de María Corina é impugnada

A substituta de María Corina, a professora Corina Yoris, tentou se registrar como candidata pela oposição, mas seu registro foi barrado horas antes do fim do prazo oficial pelo sistema online da autoridade eleitoral venezuelana. O episódio reforçou a percepção de manipulação do processo eleitoral pelo governo.

Maria Corina Machado e Edmundo González (Foto: Reprodução/Internet)

Lançamento de Edmundo González

Em meio à repressão crescente, a Plataforma Unitária Democrática lançou a candidatura de Edmundo González, um diplomata aposentado de 74 anos que nunca havia ocupado cargos eletivos. Sua nomeação veio após seis assessores de María Corina terem pedido asilo na embaixada da Argentina, depois que a Justiça venezuelana emitiu mandados de prisão contra eles por “conspiração”.

Observadores internacionais impedidos

O governo de Nicolás Maduro retirou o convite para que observadores da União Europeia acompanhassem a disputa eleitoral, justificando a decisão como uma retaliação às sanções econômicas impostas ao país pelo bloco europeu.

A líder da oposição, María Corina Machado, reaparece em protestos contra resultados das eleições ne Venezuela — Foto: Miguel Gutierrez/ EFE

Eleições e ondas de repressão

A última etapa da corrida eleitoral começou com a prisão e rápida liberação do chefe de segurança de María Corina Machado. Com pesquisas apontando um favoritismo de Edmundo González, a oposição convocou manifestações em todo o país. Em 28 de julho, 11,7 milhões de eleitores foram às urnas. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro vencedor com 51,21% dos votos, com 80% das urnas apuradas. A oposição contestou o resultado e pediu a divulgação das atas eleitorais, mas o CNE não atendeu à demanda. O Carter Center, uma entidade internacional que acompanhou o pleito, afirmou que as eleições não foram democráticas e retirou sua equipe do país. O Brasil, junto a outros países, recusou-se a reconhecer a vitória de Maduro, exigindo a divulgação das atas eleitorais.

Protesto após anúncio do CNE de que o ditador venezuelano Nicolás Maduro venceu as eleições — Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Protestos e prisões

Protestos tomaram as ruas de Caracas e outras cidades, com o governo de Maduro respondendo com a prisão de mais de 2 mil manifestantes. A repressão resultou na morte de 23 pessoas, segundo a ONU, que também denunciou a detenção de crianças e adolescentes. A crise diplomática se agravou quando a Venezuela rompeu relações com países que reconheceram a vitória de Edmundo González, incluindo a Argentina, cuja representação diplomática em Caracas foi assumida pelo Brasil.

Asilo de Edmundo Gonzàlez na Espanha

O mês de setembro iniciou com intensificação das ações do governo contra a oposição. A polícia venezuelana cercou a embaixada argentina sob representação brasileira, acusando opositores asilados no local de planejar um atentado contra Maduro.

Edmundo González, que foi alvo de um mandado de prisão, buscou refúgio na embaixada dos Países Baixos e, posteriormente, na residência do embaixador da Espanha. Após cinco dias, González deixou o país e se tornou um asilado político na Espanha.

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