Política

Especialista diz que situação deve se encaminhar para acordo entre partidos

O resultado do processo eleitoral na República Cooperativa da Guiana ainda não foi divulgado oficialmente pelo Comitê Eleitoral, deixando um clima de tensão no país. Porém, a expectativa é que a situação venha a se acalmar, com a possibilidade de que ocorra um acordo entre os partidos que disputam a vaga para a Presidência.

A análise é feita pelo professor e Doutor em História da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e estudioso da região da Amazônia e Caribe, Reginaldo Gomes, em entrevista ao programa Agenda da Semana na Rádio Folha 100.3 FM neste domingo, 08. 

O professor explica que a disputa concentra-se entre o Partido Progressista do Povo (PPP), formado pelos induguainense, composto por descendentes de indianos e o Congresso Nacional do Povo (PNC), sigla com a maioria afrodescendente.

Diferente do processo eleitoral no Brasil, onde os partidos se definem a partir da sua ideologia partidária, na Guiana a distinção ocorre principalmente por conta das etnias, afirma Reginaldo, além da questão econômica. 

Embora tenha sido divulgado previamente que o PPP era um partido de esquerda, o historiador acrescenta que a composição dos partidos é mais ligada à etnia dos membros. “Na sociedade da Guiana, nós temos um grande número de servidores públicos que são afros. Também no Exército. Além também dos indígenas, denominados ameríndios por eles. E os indianos incorporam os chineses e outras minorias que formam esse grupo de oposição, que são os homens do capital. Os partidos não têm uma luta ideológica, mas uma luta étnica”, afirma. “Eles não têm essa manifestação de direita e esquerda, apesar de terem conhecimento dos pensamentos. Eles não têm isso incluído como prática no partido”, acrescenta. 

Reginaldo explica ainda que, no processo eleitoral da Guiana, não há eleição direta para presidente. Os eleitores escolhem o partido na hora da votação. “É um país de uma organização de eleição completamente diferente do nosso padrão. O parlamento tem os seus membros eleitos por uma representação fechada, que é escolhida e faz essa eleição não para o indivíduo em particular, mas os votos são para o partido. Aquele que tem o maior número de votos, o líder vai ser o presidente e vai indicar as cadeiras que vão compor o parlamento. O presidente tem poder de mando, mas o primeiro-ministro também”, completa.


Partido que vencer Presidência deve indicar membro da oposição para primeiro-ministro

Analisando o processo histórico desde os anos 1990 até 2000, entre ambos os partidos, o historiador acredita que as siglas devem entrar em acordo nestas eleições. No caso, de que o partido que ganhar a presidência indique o primeiro-ministro da oposição.

Segundo Reginaldo, a questão já ocorreu nas últimas eleições, em 2015, quando o líder do PPP, Bharrat Jagdeo perdeu as eleições para o líder do PNC, David Granger. “Essa foi o modelo de governabilidade, nos últimos 20 anos”, explica.

No entanto, o historiador ressalta que uma característica distinta dessas eleições é o fenômeno de descoberta de uma produção de petróleo no país, que promete alavancar os índices econômicos da Guiana. 

“As outras eleições também tiveram conflitos, indícios de corrupção por que os votos são ainda em papel, demora da contagem, já que as urnas vêm de lugares distantes. Isso acontece. Agora, o diferencial desta eleição é a questão do petróleo e do recurso que vem a partir daí. É um boom muito grande na economia do país, com expectativa de mudança com implantação de políticas públicas para a grande massa pobre que vive no país”, declara Gomes. “Vamos esperar que os recursos sejam aplicados realmente para a melhoria da sociedade”, acrescenta.

O historiador ressalta ainda que não há como prever qual partido que será mais suscetível à corrupção, caso seja o vencedor das eleições e administrador do recurso gerado pelo petróleo. Porém, acrescentou que todo o processo está sendo acompanhado por observadores internacionais, fiscais, organizações não governamentais e pela própria população, que reivindica melhorias de condições de vida.

“Esse momento de indecisão nas eleições deixou insatisfeito não só os partidos, mas também grande parte da população que espera que o país tenha um crescimento para a sociedade como um todo, e não só para o grupo que só comandou. Acredito que pode sim trazer melhorias, mas também existe o risco por conta do poder e daqueles que não querem perder os privilégios”, finalizou. (P.C.)