O ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Fabrício Queiroz, afirmou em entrevista ao Jornal do SBT que parte da movimentação atípica de R$ 1,2 milhão revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo vem da compra e venda de carros. É a primeira vez que o ex-assessor fala das inconformidades apontadas no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Queiroz disse ainda que não é “laranja” e se negou a explicar os depósitos feitos em sua conta por funcionários do gabinete e familiares empregados pela família Bolsonaro.
“Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro”, disse Queiroz, em entrevista ao SBT. “Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro, sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro em seguradora, na minha época lá atrás, eu comprava um carrinho, mandava arrumar, vendia”, afirmou.
Segundo o relatório do Coaf, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Uma das movimentações consideradas atípicas foi o depósito de um cheque de R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro – no início de dezembro, Jair Bolsonaro disse que o cheque era o pagamento de um empréstimo.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou ainda que funcionários dos gabinetes de Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio, e de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, chegaram a depositar 99% do que receberam no período na conta de Queiroz, e que a maioria das transferências foi feita na mesma semana da data de pagamento. Na entrevista, Queiroz se mostrou nervoso ao ser questionado sobre essas transações.
“Esse mérito do dinheiro, eu quero explicar ao MP. Por duas vezes, Queiroz alegou problema de saúde para não comparecer aos depoimentos que seriam prestados ao Ministério Público, marcados para os dias 19 e 21 deste mês.
“Não sou laranja. Sou homem trabalhador”, completou.
O ex-assessor de Flávio afirmou que sua renda mensal era de cerca de R$ 23 mil, somados os pagamentos como assessor do gabinete de Flávio e a aposentadoria da Polícia Militar. Sobre os depósitos feitos em favor de Michelle Bolsonaro, Queiroz disse que “nosso presidente já esclareceu”. “Tinha um empréstimo de R$ 40 mil. Foram 10 cheques de R$ 4 mil. Nunca depositei R$ 24 mil.”
Depoimento
Durante a entrevista, o ex-assessor lamentou não falar mais com Flávio Bolsonaro, se mostrou nervoso ao ser questionado sobre as transações entre ele e servidores e se emocionou ao falar da doença que o impediu de prestar depoimento ao Ministério Público do Rio. Queiroz afirmou que precisará fazer uma cirurgia por causa de um tumor maligno no intestino, apesar de ter dito que ainda não havia tido o resultado da biópsia. “Tenho uma cirurgia pra fazer no ombro (esquerdo). Estava com problema na urina, tosse. E foi constatado um câncer. É um câncer maligno, indicado sem nem pegar a biópsia. Vou ser submetido a outros exames e (o médico) me disse que temos que operar o mais rápido possível. É um tumor grande no intestino. Não estou fugindo do MP. Quero prestar esclarecimento.”
“Em momento algum estou fugindo. Quero depor na frente ao promotor. Agradeço ao promotor por não me prender. Falei: ‘vou ser preso’. Mas pedi exoneração para cuidar da minha reforma e do meu problema de saúde. Foi uma surpresa isso. Caiu como uma bomba para mim e minha família.”
No dia 7 de dezembro, Flávio Bolsonaro disse ter conversado com Queiroz, e afirmou que ele teria lhe dado “explicações convincentes” para o episódio, mas não disse quais seriam elas. O MP-RJ não se manifestou sobre a entrevista. Na próxima sexta-feira, está prevista a apresentação do atestado médico de Queiroz. O MP marcou o depoimento de Flávio para o dia 10 de janeiro. Procurados, Flávio Bolsonaro e o presidente eleito, Jair Bolsonaro, não se manifestaram.