Política

Extrema pobreza pode atingir mais de 3 milhões de pessoas

Com o fim do Auxílio Emergencial para amparar os mais vulneráveis, até 3,4 milhões de brasileiros podem cair na extrema pobreza em 2021

Uma pesquisa, publicada pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) apontou que, com o fim do auxílio emergencial, a pobreza extrema em 2021 pode ser maior do que a verificada antes da covid-19, atingindo até 3,4 milhões de pessoas.

Segundo os conceitos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no cenário sem auxílio, o número total de pessoas na extrema pobreza chegaria a 17,3 milhões em 2021. O aumento levaria o país ao pior patamar de pobreza desde o início da pesquisa, em 2012.

De 2012 a 2019, a variação das taxas de pobreza decorreu da dinâmica econômica – quando o país crescia, a pobreza era reduzida e vice-versa. No ano passado, no entanto, o auxílio emergencial (de cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300) serviu para que a potência da política social aumentasse.

Com o fim do auxílio, o governo começa a discutir formas de ampliação do Bolsa Família, mas, entre os economistas, a avaliação é de que algo já deveria ter sido proposto. Pressionado para retomar o pagamento do auxílio, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ironizou na semana passada a possibilidade de estender o benefício. “Se pagar R$5 mil por mês, ninguém trabalha mais”, disse.

BOLSA FAMÍLIA – Na última semana, o governo preparou uma medida provisória para reestruturar o Bolsa Família. A perspectiva é que sejam unificados benefícios já existentes, além do reajuste de valores e a criação de bolsas por mérito. Assim, 14,5 milhões de famílias seriam contempladas, ante as atuais 14,3 milhões.

DESIGUALDADE – Um outro levantamento, do pesquisador Daniel Duque, do Ibre/FGV, aponta que a desigualdade deve aumentar quase 10%, por conta do fim do auxílio, e que 2020 deve ser um ano perdido na redução das diferenças sociais. 

O Índice de Gini (medidor da desigualdade, em que quanto mais próximo de 1, pior é a distribuição de renda) estava em 0,494 em novembro passado. Sem o auxílio, o indicador iria a 0,542 nas mesmas condições daquele mês.

Isso se daria porque a renda da população, em novembro, chegou a R$1.286, em média – patamar 5,8% maior, em termos reais, que o observado em maio, no início do pagamento das parcelas do benefício emergencial, segundo a Pnad-Covid, pesquisa feita pelo IBGE durante a pandemia, mas com metodologia diferente da Pnad Contínua.