A criação do Ministério dos Povos Originários, anunciado por Lula ainda durante a campanha presidencial e confirmado em seu discurso na Convenção Mundial do Clima (COP-27), que aconteceu no Egito, está em debate entre liderança indígenas, organizações indígenas, movimentos sociais e partidos políticos.
A lista de apoio à deputada federal Joenia Wapichana (REDE-RR) candidata ao cargo de ministro ganhou mais apoios esta semana.
A Federação do Partido Socialismo e Liberdade e partido Rede Sustentabilidade de Roraima (PSOL-REDE/RR), a qual a deputada pertence, tornou pública uma carta endereçada ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que toma posse no dia 1ª de janeiro de 2023.
O documento apoia a indicação de Joenia Wapichana, eleita em 2018 a primeira mulher indígena parlamentar do Brasil e contextualiza a trajetória de luta de
Wapichana antes de ser parlamentar frente ao movimento indígena de Roraima e do Brasil.
A mensagem da Federação ao presidente Lula enfatiza ainda a base de Joenia, tendo nascido na comunidade indígena Truaru da Cabeceira, região do Murupu, município de Boa Vista (RR), pertencente ao povo indígena Wapichana. Eleita deputada federal, por Roraima. “Joenia é da região Amazônica, onde está concentrada a maior população indígena (55% do total do País) e maior número de povos indígenas (180), além do maior número de terras indígenas (424) e maior extensão”.
A deputada Joênia Wapichana e o xamã e líder do povo Yanomami, Davi Kopenawa, foram indicados para fazerem parte da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro para o governo Lula. Os nomes deles foram anunciados pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, coordenador da equipe de transição.
Quem apoia a indicação
O documento traz nomes de lideranças indígenas renomadas que também apoiam a indicação da deputada para o Ministério dos Povos Originários como Airton Krenak, de Minas Gerais, que é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, filósofo, poeta e escritor brasileiro e do Cacique Raoni Metuktire, da etnia Kayapó, no Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas.
“Considerando a trajetória de luta e o acúmulo de experiência por mais de 22 anos, a Federação compreende que a indicação da Deputada Joenia Wapichana seja a mais adequada para o cargo na atual conjuntura, portanto, pedimos que, Vossa Excelência, Presidente Lula, leve em consideração a nossa sugestão para conduzir o Ministério dos Povos Originários do nosso Brasil. Ela já mostrou que é capaz de seguir firme e acreditamos, com convicção, que ela representa as causas políticas, sociais e ambientais, à frente desse Ministério que será criado, no seu mandato (2023/2026)”, finaliza a carta.
Davi Kopenawa
O presidente da Hutukara Associação Yanomami, o xamã e líder político Davi Kopenawa Yanomami, também defendeu o nome de Joenia
“Acho que a dra. Joenia [Wapichana] já tem experiência, pois ela trabalhou como deputada federal por 4 anos, ela já sabe lutar. Como ela é advogada, já sabe escutar os políticos, e por isso eu gostaria que Lula a indicasse para ministra. Se Joenia disser que deseja se tornar ministra dos Povos Originários, nós vamos apoiá-la, faremos ela assentar naquela cadeira. Ter uma mulher indígena assentada ali nos trará mais sabedoria. Temos outras, como Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, que acabaram de se eleger deputadas. A dra. Joenia não foi eleita, por isso estou pensando nela, que é muito inteligente e já sabe lutar. Então, foi isso que os meus sonhos disseram, e por isso fiz aparecer essa ideia”.
O maior território indígena do Brasil, a Terra Yanomami, localizado entre os estados do Amazonas e Roraima, está invadido com mais de 20 mil garimpeiros, que tem lavado devastação, violência e mortes a homens, mulheres e crianças indígenas, dados já denunciados em relatórios elaborados pela Hutukara Associação Yanomami (HAY).
CIR
O Conselho Indígena de Roraima (CIR), falou também sobre a indicação.
“Joenia é liderança do movimento indígena desde a sua juventude, tendo realizado formações jurídicas e políticas nas comunidades indígenas de base, além de ter sido, em 2004, uma das mentoras do Acampamento Terra Livre, mobilização nacional de extrema importância para os povos originários no Brasil”, disse o CIR