Política

Fome faz país entrar em convulsão

Falta de alimentos leva Venezuela ao caos, com brigas por comida nas ruas e multidões invadindo e saqueando mercados

A Venezuela está convulsionando de fome. Caminhões que transportam alimentos para abastecer estabelecimentos andam sob a escolta de guardas armados, resultado dos constantes ataques aos veículos.

Soldados vigiam padarias e a polícia atira balas de borracha contra multidões que tentam invadir mercados, farmácias e açougues. Uma briga na rua por comida acabou matando a tiros uma menina de quatro anos.

Recentemente, um supermercado da cidade de Cumaná foi invadido por centenas de pessoas que levaram embora tudo que podiam carregar, deixando para trás apenas prateleiras e geladeiras vazias.

O cenário prova que até mesmo a nação mais rica em petróleo pode sofrer com a fome. Também prova o colapso do chavismo, já que o combate à fome é a maior bandeira do regime. Atualmente, 87% dos venezuelanos não têm dinheiro para comprar comida, segundo um levantamento feito pela Universidade Simón Bolívar.

Outra análise, feita pelo Centro de Documentação e Análise Social, grupo associado à Federação Venezuelana de Professores, mostra que as pessoas estão gastando 72% do salário para comprar comida. De acordo com o órgão, uma família precisaria de 16 salários mínimos para conseguir se alimentar adequadamente.

Anos de má gestão somados à queda livre no preço do petróleo levaram o setor alimentar à exaustão. Campos de cultivo de cana-de-açúcar estão sem produzir por falta de fertilizantes. Fábricas estatais, abaladas pela crise no governo, estão com as máquinas paradas. Alimentos básicos como milho e arroz, antes exportados, agora são importados em quantidades que nunca suprem a demanda.

Enquanto isso, o presidente Nicolás Maduro, que luta contra um referendo sobre seu impeachment, diz que a oposição está por trás dos saques aos supermercados. Ele também diz que há uma guerra econômica em curso e acusa os proprietários de estabelecimentos de estocar alimentos e cobrar um preço exorbitante pelo que é vendido, criando uma escassez artificial para lucrar com a miséria do país.