Política

Governos não comentam encontro de senador com Maduro

Reunião foi uma ação individual do parlamentar, que tenta conseguir a abertura da fronteira da Venezuela com o Brasil

Apesar da divulgação feita pela imprensa nacional sobre a visita do senador Telmário Mota (Pros) ao presidente Nicolás Maduro, e a possível repercussão negativa junto ao governo brasileiro, que não reconhece mais o ditador como presidente, tanto o Governo Federal quanto de Roraima decidiram não se manifestar sobre o assunto.

As imagens teriam gerado mal-estar, segundo a imprensa nacional, pelo fato de o Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, ter se reunido segunda-feira, 15, no Chile e aprovado um pedido para que a ONU tome “atitudes” a fim de evitar a “deterioração progressiva da paz e da segurança” na Venezuela.

As imagens do encontro de Telmário Motta com Maduro chegaram a ser reproduzidas pela TV estatal venezuelana. O encontro foi uma ação individual do parlamentar, que tenta conseguir a abertura da fronteira da Venezuela com o Brasil, fechada desde fevereiro.

A reportagem da Folha procurou o Ministério das Relações Exteriores para saber se pode haver algum resultado prático da visita do senador. Também foi questionado se o Governo Federal reconhece a tentativa de Maduro de negociação para reabertura da fronteira entre os dois países e de que forma a pasta analisa a visita do representante do Senado ao país vizinho.

Por meio de nota, o Departamento de Comunicação Social do Ministério das Relações Exteriores respondeu que “de acordo com informações do Vice-Consulado do Brasil em Santa Elena do Uiarén, a fronteira continua fechada”, apesar da visita do senador.

A reportagem também procurou o governador Antonio Denarium (PSL) para saber o posicionamento dele em relação a esse assunto, tendo em vista que Telmário Mota deu a entender que o acordo para reabertura da fronteira poderia ser feito pelo governo estadual. Por meio de nota, a Secretaria de Comunicação (Secom) informou que “o governo de Roraima não vai comentar o assunto”.

O CASO – O senador Telmário Mota se encontrou segunda-feira, 15, com o presidente da Venezuela e anunciou que Maduro vê com bons olhos a possibilidade de reabrir a fronteira entre os dois países que está fechada há quase dois meses. De acordo com interlocutores, Maduro teria anunciado, por meio do ministro das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, a reabertura da fronteira com o Brasil.

Uma das intenções do parlamentar com a visita era tentar “estabelecer paz e harmonia entre os dois países”. A ida do senador à Venezuela foi permitida após petição do parlamentar. Ele não conseguiu autorização do governo Bolsonaro para ser levado por uma aeronave da FAB até a fronteira e teve que viajar em avião comercial até Santa Elena, na fronteira, onde embarcou em um jato enviado pelo governo venezuelano.

Professor de Relações Internacionais explica repercussões de visita de Telmário a Maduro

Para o professor Elói Senhoras, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima, que é cientista político e mestre em Relações Internacionais, apesar do esforço do parlamentar, a ação foi uma mobilização unilateral.

“No atual momento, o que a gente observa é um esforço do parlamentar Telmário Mota, como um representante do Senado, de tentar fazer uma negociação direta com o governo Maduro. Uma possível leitura é que foi apenas uma mobilização unilateral com pouca ou muito baixa representatividade, pois é um parlamentar indo de maneira isolada fazer uma negociação” explicou.

Para ele, o que se observa é que a agenda da visita com relação às demandas para o Estado de Roraima, como a possibilidade de reabrir a fronteira ou voltar o fornecimento energético, é realmente muito baixa.

“Até porque o governo Maduro não quer posicionamento do ente subnacional, como é o caso. Ele quer um posicionamento, um realinhamento do ponto de vista ideológico por parte do governo brasileiro, e isso está totalmente distante da realidade à medida que você tem uma posição de direita do governo brasileiro em relação à perspectiva de esquerda do governo Maduro. Então, de fato, os canais de negociação com ele estão fechados”, afirmou.

Para Elói Senhoras, a visita do senador Telmário Mota terá uma repercussão quase nula.

“O governador de Roraima também é do partido do presidente, cuja perspectiva ideológica é diferente da do senador, que tem a intenção de  reabrir a fronteira, mas a possibilidade de conseguir isso é muito baixa, haja vista que ele foi fazer uma visita do ponto de vista unilateral e com poder de negociação mínimo. A chance de ter resultados práticos é pouca, pois não tinha aparato governamental nem do Legislativo nem do Executivo”, concluiu.