A sessão ordinária de quarta-feira, 04, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) foi marcada pela manifestação de representantes de comunidades indígenas, contra a retirada da corrente na BR-174, na área da terra indígena dos Waimiri-Atroari. Na ocasião, os parlamentares do Estado saíram em defesa do deputado Jeferson Alves (PTB), autor da ação.
No plenário da ALE-RR, os manifestantes levaram cartazes afirmando que a corrente não atrapalha o desenvolvimento de Roraima, mas está lá para proteger os indígenas e os animais, além de críticas à Alves.
Em seus discursos, os deputados Gabriel Picanço (Republicanos) e Ângela Aguida Portella (PP) se pronunciaram sobre o caso, em defesa do parlamentar, além de criticar a atuação de organizações não governamentais em defesa dos povos indígenas e de órgãos federais.
“É negado o direito de ir e vir, como nos garante a Constituição Federal. Também é negado à sociedade roraimense o direito de ter energia confiável pelo Linhão de Tucuruí porque, sistematicamente, o Ministério Público Federal age em defesa das minorias e se opõe a regularização daquela obra”, declarou Picanço.
“O deputado Jeferson Alves tomou uma ação mais proativa. Fica a ideia de que possamos fazer um documento de apoio ao ato do Jeferson, uma atitude simbólica, para chamar a atenção, porque não tivemos uma resposta”, declara Angela.
A deputada Lenir Rodrigues (Cidadania) disse que não queria se contrapor ao deputado, mas ressaltou que tinha uma visão diferente da sua frente às ações na BR-174. “Acredito que a questão da corrente está em tramitação na Justiça Federal. Tenho muito respeito pelas questões judiciais e as tratativas são muito lentas. Mas tenho posicionamento diferente e acredito que na década de 1970, quando foi feito um acordo, o Governo Federal se comprometeu a realizar tratativas que até hoje não foram cumpridas, como colocar grades para preservar os animais, e postos de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O Governo Federal já fez obras em outros países e nunca resolveu a questão do Estado de Roraima”, declarou.
Por sua vez, o deputado Jeferson Alves afirmou que entende o posicionamento de Lenir. “Ela tem direito de não concordar comigo e eu tenho que respeitar isso, mas o sentimento que eu tenho é que Roraima já perdeu muito tempo esperando por essas definições. São 43 anos que a gente espera”, afirmou.
O deputado disse ainda que a avaliação é que o Estado nasceu para não dar certo. “Não é possível que o único Estado do Brasil à pagar a dívida com os povos indígenas. Roraima pagou só. Demarcaram 92% do nosso Estado, entre demarcação e área ambiental, e deixaram apenas 8% para produzir. Tem condições de se desenvolver um Estado desses?”, criticou.
Indígenas protocolaram pedido de afastamento de deputado
A manifestação foi realizada por um grupo de indígenas de diversas etnias, entre elas os Waimiri-Atroari, Taurepang, Macuxi, Wapichana e Patamon, entre outros. Eles afirmam que se sentiram feridos, lesados e desrespeitados dentro dos seus direitos legais e que realizaram a manifestação para cobrar por respeito.
Um dos membros do movimento, que preferiu não se identificar, informou ainda que foi protocolado um documento junto à Assembleia Legislativa pedindo pelo afastamento do deputado Jeferson.
“Nós encaminhamos o requerimento pelos atos que ele cometeu. Nós sentimos que esse ato atingiu não só o povo indígena Waimiri-Atroari, mas o povo indígena de todo o Brasil. Entramos com requerimento dentro da Casa, conversamos com o presidente. Esse requerimento vai ser lido na sessão de quinta e estaremos presentes, com mais pessoas”, afirmou.
O manifestante disse ainda que o parlamentar deveria estar preocupado com outras questões, e não a permanência da corrente na rodovia federal. “O deputado deveria estar alocando recursos para ajeitar a educação, saúde, segurança pública. Teria uma preocupação muito maior que mexer com algo que é constitucional”, completou. (P.C.)