Política

Jucá é citado no esquema da Petrobrás

Operação Lava Jato: na lista aparecem nomes de ministro, ex-ministro, governador, ex-governador, senadores e deputados federais

O nome do senador Romero Jucá (PMDB-RR) aparece em uma lista de nomes publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” nesta sexta-feira (19), que apontou mais 27 políticos que, segundo o jornal, foram citados por apenas um dos delatores investigados na Operação Lava Jato, que apura a corrupção na Petrobras.
Tem nome de ministro, de ex-ministro, de governador, de ex-governador, de senadores e de deputados federais.
As informações estão na delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”. De acordo com a reportagem, o ex-diretor da Petrobras apontou 28 políticos que teriam sido beneficiados pelo esquema de corrupção e caixa dois da empresa.
Os nomes teriam sido citados durante uma série de 80 depoimentos que Paulo Roberto Costa prestou em agosto e setembro ao Ministério Público Federal.
Paulo Roberto Costa contou à Justiça que partidos políticos aliados ao governo – PP, PMDB e PT – indicavam diretores para ocupar cargos na Petrobras. Segundo a denúncia, esses diretores e operadores do esquema, tais como doleiro Alberto Youssef e o lobista Fernando Soares, negociavam com executivos de empreiteiras o percentual da propina.
Em troca, as empresas conseguiam os contratos. A propina saía dos cofres das empreiteiras e era distribuída aos diretores da Petrobras, ao doleiro Youssef e a políticos.
Segundo “O Estado de S. Paulo”, a lista de Paulo Roberto inclui diversos parlamentares que apoiam o Palácio do Planalto no Congresso, além de ex-ministros e um atual ministro. São oito políticos do PT, oito do PMDB, dez do PP, um do PSB e um do PSDB.
Segundo a reportagem, Paulo Roberto Costa disse que alguns políticos recebiam repasses com frequência, com valores que chegaram a superar R$ 1 milhão, dinheiro que teria sido usado em campanhas eleitorais.
Outros receberam esporadicamente. Ainda de acordo com o jornal, sobre vários políticos, o ex-diretor apenas mencionou o nome, não revelou valores que teriam sido distribuídos a eles ou aos partidos.
Todas as informações passadas por Paulo Roberto Costa terão de ser checadas e confirmadas pelos investigadores. Essa lista terá de ser comparada com outras relações de nomes apontados em depoimentos dos demais investigados e colaboradores.
Paulo Roberto Costa foi apenas o primeiro investigado da Operação Lava Jato a assinar um acordo de delação premiada para contar o que sabe. A intenção dele é ser beneficiado com uma redução de pena.
Oito políticos do PMDB foram citados
Agora, os oito citados do PMDB, segundo “O Estado de S. Paulo”. O presidente do Senado, o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, está na lista, segundo a reportagem.
O ex-diretor da Petrobras disse que Renan Calheiros teria feito um acordo com o doleiro Alberto Youssef para que o fundo de pensão dos Correios, o Postalis, controlado por PMDB e PT, comprasse R$ 50 milhões em debêntures, que é uma espécie de título de crédito, emitidos pela empresa Marsans Viagem e Turismo, que tinha Alberto Youssef como um dos investidores.
Também foram citados por Paulo Roberto Costa: o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves; o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho; e a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney.
Além de mais dois senadores do partido – Valdir Raupp, de Rondônia e Romero Jucá, de Roraima – e um deputado federal Alexandre José dos Santos, do Rio de Janeiro.
Sobre esses sete últimos nomes, a reportagem não detalhou quanto eles teriam recebido e nem como ou por quê.
Lista tem oito políticos do PT
Vamos ver agora quem são, segundo a reportagem do jornal, os oito políticos do Partido dos Trabalhadores citados por Paulo Roberto Costa. Na lista, segundo o jornal Estado de São Paulo, aparece o ex-ministro Antonio Palocci, que ocupou o Ministério da Fazenda no governo Lula e a Casa Civil, no governo Dilma Rousseff.
Segundo o jornal, Paulo Roberto Costa afirmou que Palocci teria pedido, em 2010, R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff. A senadora Gleisi Hoffmann, do Paraná, que também foi ministra da Casa Civil no governo Dilma, teria recebido R$ 1 milhão do esquema para a campanha ao Senado em 2010.
Costa disse que teria recebido um pedido do doleiro Alberto Youssef – também investigado no esquema – para “ajudar na candidatura” de Gleisi Hoffmann.
A reportagem afirma que o senador Humberto Costa, de Pernambuco, também teria recebido R$ 1 milhão, de acordo com Paulo Roberto. Na lista também aparece o senador Lindbergh Farias, do Rio de Janeiro. Segundo o jornal, Paulo Roberto contou que teria trabalhado para pedir doações a empreiteiras em nome de Lindbergh.
Também estão na lista o senador Delcídio Amaral, de Mato Grosso do Sul; e os deputados Cândido Vaccarezza, de São Paulo e Vander Loubet, de Mato Grosso do Sul. E pela primeira vez, foi citado o nome do governador do Acre, o petista Tião Viana, reeleito em outubro passado, como beneficiário do esquema. Sobre os últimos quatro políticos citados por Costa, a reportagem não informou quanto eles teriam recebido nem quando.
PP tem o maior número de citados, segundo jornal
Também segundo o jornal, o PP, Partido Progressista, tem o maior número de citados na delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Paulo Roberto apontou dez políticos do Partido Progressista que teriam se beneficiado do esquema na Petrobras, segundo a reportagem do “O Estado de S. Paulo”: o ex-ministro das cidades, Mário Negromonte, irmão de Adarico Negromonte, réu acusado de corrupção e lavagem de dinheiro pela Operação Lava Jato; dois senadores: Ciro Nogueira, do Piauí, e Benedito de Lira, de Alagoas; seis deputados federais: João Pizzolatti, de Santa Catarina; Nelson Meurer, do Paraná; Simão Sessim, do Rio de Janeiro; José Otávio Germano, do Rio Grande do Sul; Luiz Fernando Faria, de Minas Gerais; e Aline Lemos de Oliveira, de São Paulo, filha do ex-deputado federal Pedro Corrêa, de Pernambuco, que também está na lista e foi investigado durante o processo do mensalão. A reportagem não informou quanto eles teriam recebido.
Políticos do PSB e do PSDB também estão na lista
E, como nós já dissemos, políticos do PSB e do PSDB também foram citados, segundo o jornal. A lista de políticos feita por Paulo Roberto Costa também inclui outros dois nomes. Segundo a reportagem, o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, já falecidos.
Paulo Roberto Costa teria dito que o tucano Sérgio Guerra o procurou em 2010 e cobrou R$ 10 milhões para que a CPI da Petrobras, que foi aberta em julho de 2009 no Senado, fosse encerrada. Guerra teria dito ao ex-diretor da Petrobras que o dinheiro seria usado na campanha de 2010.
Já sobre o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, Costa disse que teria intermediado, em 2010, o pagamento de R$ 20 milhões para o caixa dois da campanha de Eduardo Campos, que naquele ano era candidato à reeleição ao governo de Pernambuco e aliado do governo do PT. Depois, Campos foi para a oposição.
Esses depoimentos em que Paulo Roberto Costa cita nomes de políticos estão sendo analisados pelo procurador-geral da República. Rodrigo Janot vai comparar o que disse Paulo Roberto com os depoimentos de outros investigados, como Alberto Youssef. O doleiro também fez um acordo de delação premiada e citou nomes de políticos.
Essa fase deve se estender até fevereiro, quando o procurador-geral deve anunciar quantos inquéritos vai pedir e contra quem. Se entender que já há provas suficientes, pode até fazer uma denúncia direto ao Supremo Tribunal Federal. A palavra final, no entanto, é do relator dos processos da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki.
Respostas dos citados
O Jornal Nacional procurou todos os citados na reportagem do “O Estado de S. Paulo”.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; o presidente da Câmara, o deputado Henrique Eduardo Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte; o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima; o deputado João Pizzolatti, do PP de Santa Catarina; e o senador Benedito de Lira, do PT de Alagoas, negaram participação em qualquer irregularidade.
A ex-governadora do Maranhão pelo PMDB Roseana Sarney; a deputada Aline Lemos de Oliveira, do PP de Santa Catarina; o governador do Acre pelo PT, Tião Viana; o deputado Vander Loubet, do PT do Mato Grosso do Sul; o deputado Nelson Meurer, do PP do Paraná; e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci disseram que não conhecem Paulo Roberto Costa e negaram ter se beneficiado do esquema.
A senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná; o líder do PT no senado, Humberto Costa, de Pernambuco; o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, de Rondônia; e o senador Delcídio Amaral, do PT de Mato Grosso disseram que todas as doações de campanha que receberam foram legais e devidamente apresentadas à Justiça.
Eles também negam qualquer irregularidade. Gleisi Hoffman e Humberto Costa colocaram seus sigilos fiscal, telefônico e bancário à disposição da Justiça.
O ex-governador do Rio de Janeiro pelo PMDB Sérgio Cabral; o senador Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro; o presidente do senado, Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas; o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte; o deputado Luiz Fernando Faria, do PP de Minas; e o deputado José Otavio Germano, também do PP, do Rio Grande do Sul disseram que conhecem Paulo Roberto Costa, mas que só tiveram relações institucionais com o ex-diretor e negaram participação em irregularidades.
O senador Ciro Nogueira, do PP do Piauí, disse que vai renunciar ao mandato se for encontrada qualquer irregularidade no nome dele. O deputado candidato Vaccarezza, do PT de São Paulo, não quis comentar a denúncia.
O deputado Simão Sessim, do PP do Rio, não foi encontrado. O advogado de Pedro Corrêa, do PP de Pernambuco, disse que o ex-deputado não pode ser contactado, já que está preso, condenado no mensalão do PT. O deputado Alexandre José dos Santos, do PP do Rio de Janeiro, não foi encontrado.
Na lista constam também os nomes de Eduardo Campos, ex-presidente do PSB, e de Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB, os dois já falecidos. Sobre Campos, o PSB disse que reitera a confiança na reputação ilibada do ex-governador e que o ônus da prova é de quem acusa.
Sobre Sérgio Guerra, o PSDB disse que defende a apuração de todas as denúncias independentemente da filiação partidária.
Os três partidos citados também foram procurados pelo Jornal Nacional. O PMDB defendeu a apuração dos fatos e a punição dos envolvidos. Disse ainda que se houve participação de algum integrante da legenda, ela foi em caráter pessoal. O PT não quis se manifestar. Os assessores do PP não retornaram nossas ligações.
Ainda sobre a Operação Lava Jato. Nesta sexta-feira, o ministro do Supremo Teori Zavascki validou o acordo de delação premiada do doleiro Alberto Youssef.
Fonte: JN