As demandas das populações indígenas de Roraima devem ser apresentadas ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), na próxima segunda-feira, 05, em Brasília. A comitiva é formada por representantes da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiurr) e de Produtores Indígenas (Asprovolt) com objetivo de pleitear apoio para produção agrícola.
A informação é que a visita foi pré-agendada durante uma reunião informal realizada há cerca de dois meses com membros da Sodiurr e o presidente. Na ocasião, Bolsonaro teria dito que os representantes retornassem a Brasília com as demandas da comunidade.
“Como temos essa porta aberta, nós vamos agora, nesse segundo encontro, levar projetos e reivindicações já sistematizadas. Antes foi só um diálogo informal, mas agora vamos mais preparados”, explica Lupedro Moraes, presidente da Associação de Produtores Indígenas.
Entre as reivindicações principais estão apoio para produção agrícola, em especial a de grãos e arroz; geração de emprego e renda para as comunidades; regularização da mineração; recuperação de estradas e vicinais; melhoria na oferta dos serviços de saúde e até a implantação de um pólo de uma universidade federal para ingresso de indígenas no ensino superior.
“Queremos que ele legalize a área para poder produzir e que ele destine recursos para apoiar as comunidades e que coloque um projeto para que as comunidades possam trabalhar”, acrescenta o presidente da Sodiurr, Altevir de Souza.
PRODUÇÃO AGRÍCOLA – O presidente da Asprovolt complementa que a área da Terra Indígena Raposa Serra do Sol possui aproximadamente 1,4 milhão de hectares de terras com áreas agricultáveis e que podem ser trabalhadas de média a grande escala em uma gestão empresarial.
“Nós queremos iniciar todo um trabalho de grande escala. Roraima é um celeiro de produção de grãos e as terras indígenas não são diferentes. Vamos levar essa demanda ao presidente porque temos algumas burocracias para poder trabalhar. Vamos ver o que o Governo Federal pode flexibilizar para dar esse empurrão na produção nas terras indígenas. Essa é a nossa missão”, explica Lupedro.
A intenção também é participar com a produtividade na economia do Estado e do Brasil, gerando renda, produzindo riqueza, além de mostrar a nova realidade dos indígenas de Roraima, acrescenta o empreendedor. “Os índios do século 21 têm um novo estilo de vida a seguir, não só relacionado à caça e pesca. Por isso vimos a necessidade de nos organizarmos em sociedade jurídica para desenvolver as nossas comunidades, tendo em vista o potencial que nós temos”, completa Moraes.
APOIO PRESIDENCIAL – Um dos destaques dos membros da comitiva é que muitos representantes indígenas, em todo o país, são contrários ao posicionamento de Bolsonaro. Porém, segundo Lupedro, a associação acredita que o presidente é favorável à defesa do desenvolvimento econômico, social e financeiro da população indígena no Brasil.
“É bom frisar que a população indígena que defende o desenvolvimento considera o presidente Bolsonaro como aliado. Existem outros lados, que não defendem essa situação e consideram o presidente como o vilão do Brasil. Estamos indo para representar o nosso lado como produtores, índios empreendedores, e mostrar o nosso potencial. É só o início dessa busca de desenvolvimento”, complementa o empreendedor.
O presidente da Sodiurr, Altevir de Souza, diz ainda que a organização não contou com apoio do Governo Federal na última gestão. “Eu moro na região de Normandia e hoje nós não temos produção. Nós não estamos passando fome. O que temos é para manter as nossas famílias. Portanto, a nossa ida para lá é para pedir ao presidente que olhe essa parte”, concluiu.
Situação dos indígenas em Roraima piorou, diz ex-titular da Sesai
O ex-secretário de Estado do Índio e atual vice-presidente da Asprovolt, Adriano Nascimento, relembrou sua época de gestão à frente da pasta há cerca de 15 anos e fez um comparativo com a situação atual. Para ele, a situação dos indígenas em Roraima piorou.
O ex-secretário afirma que atualmente vê muitos indígenas passando necessidade e precisando recorrer até à Capital em busca de oportunidade, sendo esse um dos motivos pelo qual a comitiva pede pela regularização da mineração no Estado.
“Muitos indígenas desempregados que vivem procurando um grama de ouro no sol quente e sobrevivem disso estão sendo marginalizados como se fossem bandidos. É uma situação muito difícil. Nós não queremos que isso aconteça mais. As pessoas que trabalham lá não são ricas, são pobres”, completa.
O tuxaua e sócio da Sodiuerr, Rondinele Abel, explica que quer pedir a regularização da mineração em Roraima também pelos não índios. “Nossos irmãos não índios estão sofrendo, discriminados, tratados como marginais. Os indígenas que mexem com aquele pouco ouro também. Isso precisa ser regularizado”, diz.
“Temos terra e estamos sofrendo. Somos ricos e ao mesmo tempo pobres. Que o presidente possa pedir que os grandes empresários façam uma parceria conosco porque nós temos a terra, mas não temos dinheiro”, finalizou Rondinele.
Vale ressaltar que, além da visita a Bolsonaro, a comitiva também visitará outras comunidades em Brasília, Goiânia e Mato Grosso, que também atuam na área da produção agrícola. A expectativa de retorno para o Estado é no dia 12 de agosto. (P.C.)