No sábado (7), o governo da Venezuela revogou a autorização concedida ao Brasil para proteger a Embaixada da Argentina em Caracas, onde seis opositores procurados pelo regime de Nicolás Maduro estão abrigados. A decisão foi tomada após o Brasil ter assumido a responsabilidade pelo local em 1º de agosto, dois dias depois de a Venezuela expulsar diplomatas argentinos e de outros seis países que não reconheceram a vitória de Maduro na eleição de julho.
Os seis opositores estão abrigados na embaixada desde o final de março, quando a Venezuela emitiu ordens de prisão contra eles, acusando-os de tentar desestabilizar o país. Todos eram membros da equipe de María Corina Machado, a principal líder de oposição na Venezuela, que foi impedida de concorrer na eleição de julho.
A controvérsia sobre as eleições na Venezuela intensificou as tensões internacionais. Os resultados oficiais das eleições de 28 de julho foram amplamente questionados, com Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina, incluindo o Brasil, pedindo uma verificação minuciosa dos votos. A proclamação de Nicolás Maduro como vencedor foi ratificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pelo Tribunal Supremo de Justiça, ambos acusados de servir aos interesses do chavismo. O CNE alegou que não divulgou as atas de votação, como exigido por lei, devido a um ataque de hackers, o que gerou protestos em todo o país, resultando em 27 mortos, 192 feridos e 2.400 detidos.
Quem são os seis opositores asilados na embaixada?
- Magalli Meda – Ex-chefe de campanha de María Corina Machado e gerente de planejamento estratégico do partido Vente Venezuela. Em uma postagem nas redes sociais, Meda informou que a embaixada está com o fornecimento de energia elétrica cortado e cercada por forças de segurança.
- Claudia Macero – Jornalista responsável pela comunicação da campanha de Machado e coordenadora de comunicação do Vente Venezuela.
- Pedro Urruchurtu – Coordenador de relações internacionais do Vente Venezuela, cientista político e professor. Urruchurtu tem uma longa trajetória como educador político e é apresentador de um programa de rádio popular na Venezuela.
- Omar González – Ex-deputado e membro da direção nacional do Vente Venezuela. Também jornalista e escritor, González destacou nas redes sociais a violação do direito internacional decorrente do cerco à embaixada.
- Humberto Villalobos – Coordenador eleitoral do comando de campanha do Vente Venezuela e diretor da ONG ESDATA, especializada em fiscalização eleitoral.
- Fernando Matínez Mottola – Engenheiro elétrico e assessor de María Corina Machado, Mottola foi ministro dos Transportes e Comunicações na presidência de Carlos Andrés Pérez e assessorou Juan Guaidó em negociações com o governo.
Reações internacionais à ação venezuelana
O governo Maduro alega ter provas de que a embaixada está sendo utilizada para o planejamento de atos terroristas e tentativas de assassinato contra o presidente e sua vice, Delcy Rodríguez, embora tais provas não tenham sido apresentadas publicamente.
Em resposta, o governo brasileiro declarou que continua a representar os interesses da Argentina em Caracas, afirmando que, até que um país substituto seja designado, manterá essa responsabilidade. Já o governo argentino rejeitou a decisão unilateral da Venezuela, alertando que qualquer tentativa de interferir ou sequestrar os solicitantes de asilo será fortemente condenada pela comunidade internacional.
Líderes de países como Paraguai, Estados Unidos, Uruguai, Panamá e Costa Rica emitiram notas de repúdio à ação de Maduro, manifestando apoio aos governos da Argentina e do Brasil.