Política

Na volta aos trabalhos, deputados discutem processo de impeachment

Depois de uma semana sem sessão por causa da troca de um transformador de energia, Assembleia Legislativa retomou os trabalhos

Os deputados estaduais aproveitaram o retorno das atividades na Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RRR), depois de uma semana sem expediente, e foram à tribuna para se posicionarem em relação ao processo de impeachment que corre na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Durante longa sessão, os parlamentares fizeram críticas e elogios ao governo de Dilma Rousseff (PT) e apontaram como o processo contra a presidente pode influenciar os rumos da política em Roraima.

O primeiro a subir à tribuna foi o deputado Soldado Sampaio (PC do B). Durante sua fala, o parlamentar se posicionou contra o impeachment afirmando que defende a democracia.

“Vivemos um momento tenso no nosso País, com uma ameaça clara ao processo democrático, algo que nunca tinha acontecido durante todos esses anos de República”, disse.

Ele alertou que, ao atentar-se contra a democracia, aprovando um impeachment sem provas, abre-se caminho para que novos processos possam vir. “Há um processo de um golpe contra a democracia pelo fato de que, até o presente momento, não existem indícios que comprovem crime por parte da presidente. Imaginem: se agora tiram a presidente sem nenhum crime, amanhã pode ser um governador, um senador, um deputado, seja quem for”, argumentou.

Conforme o deputado, foi no governo de Dilma que Roraima avançou em questões consideradas por ele como “fundamentais”. “Os governos anteriores não deram um passo na regulamentação fundiária, e graças à presidente, hoje nós já garantimos a transferências das terras da União para o Estado. Foi ela [Dilma] quem entendeu aos anseios da governadora [Suely Campos, do PP] e retirou a necessidade de criação de terras de proteção. É inegável o que ela fez por nós”, frisou.

Sampaio elogiou ainda os órgãos de investigação que têm apontado os casos de corrupção no País, mas criticou a mídia brasileira. “Ela não reconhece o avanço que o governo trouxe ao nosso Brasil”.  Também afirmou que não se pode aceitar “dois pesos e duas medidas”. “O processo de impeachment da Dilma está acontecendo aos sábados e domingos, coisa que nunca se fez. Agora, e o processo contra do presidente da Câmara, Eduardo Cunha? O PMDB é sócio majoritário do governo, tanto nos erros quanto nos acertos”.

Na mesma linha, o deputado Brito Bezerra (PP) se pronunciou contra o impeachment. Afirmou que a classe a política no País está desmoralizada. Disse que nunca votou nos presidentes petistas, mas que isso não o impede de analisar os motivos pelo qual se deu início ao rito de impeachment. “Não estou defendendo ninguém, mas todos os presidentes fizeram as pedaladas fiscais. Se vamos sofrer esse processo, que todos que ali estão sejam submetidos a ele. Até o vice-presidente, Michel Temer [PMDB], que agora conta como se não fizesse parte do governo. Ele fez sim”, discursou.

O deputado governista afirmou que o motivo de toda a crise que atravessa o País é a corrupção. “É o petróleo que tem enchido o povo brasileiro de vergonha. É o juiz Moro eviscerando essa sujeira na Petrobras e apontando onde foi o roubo e quem roubou. É por isso que as pessoas estão sendo levadas a tirar quem está no poder. Mas de que adianta colocar quem é tão sujo quanto? Essa é uma questão que nós, roraimenses, devemos refletir”, frisou Brito Bezerra.

Para o deputado, a solução seria retirar toda a chapa que está na gestão e convocar novas eleições. “Tudo isso que está acontecendo é porque esses grandes começaram a entender que todos os envolvidos estavam sendo expostos, por isso se voltaram conta o governo. Precisamos pensar nisso. Esses que estão orquestrando o impeachment são tão sujos quanto. Eles não têm moral para assumir o nosso País”, enfatizou.

Brito lembrou que, às vezes em que Dilma Rousseff veio a Roraima, ela trouxe benefícios para o Estado. “Essa mesma presidente que está sendo demonizada pela oposição, se comprometeu pessoalmente com o nosso Estado. Ela destravou o Linhão de Tucuruí, que tantos problemas teve e ninguém se manifestou para resolvê-los até a crise de energia chegar”, frisou o deputado, destacando a regularização fundiária e a retirada da condicionante que criava mais uma área de preservação em Roraima.

“Quero dizer que a gratidão é uma dívida que não se prescreve. Mas, para alguns políticos, é um fardo muito pesado para carregar. Quero lembrar que o senador Romero Jucá [PMDB] estava com o PT quando eles assumiram. Ele apoiou o partido, e agora que ele viu a possibilidade de tirar a presidente e colocar o vice no lugar, ele foi lá e apoiou o Temer. Por isso, reflitam, isso se chama oportunismo”, criticou.  (JL)

Jalser Renier se diz favorável ao impeachment da presidente

Após ouvir os discursos dos demais parlamentares, o presidente da Assembleia Legislativa, Jalser Renier (SD), também se pronunciou. Ele reafirmou que o momento é histórico e contrapôs os argumentos anteriores. Disse que é preciso que se leve em consideração a vontade do povo que tem ido às ruas em todas as regiões do País pedindo a saída da presidente.

“Quando centenas de milhares de brasileiros vão às ruas, do extremo Norte até o Sul desse País, há de se entender que a República brasileira precisa de mudanças. Porque, ou o Brasil tira a Dilma de onde ela está, ou a Dilma acaba com a Bandeira brasileira”, discursou.

Para Jalser, não se trata “da figura humana de uma mulher” da presidente, mas da função adotada por ela ao ser eleita. “A Bandeira do Brasil deve e tem que estar acima do interesse de qualquer cidadão ou cidadã, seja ele investido de um terno, seja ela com uma roupa de mulher”, frisou o deputado.

O parlamentar afirmou que, apesar da distância dos grandes centros brasileiros, não se pode deixar de refletir sobre os rumos da Nação. Para ele, a crise econômica e política são motivos para que Dilma Rousseff peça renúncia do cargo. “Renúncia significa fracasso. Às vezes, a incompetência está bem acima da capacidade, e a capacidade, às vezes, está bem abaixo da competência. E isso nós não podemos aceitar”, disse.  

Para ele, os governos do PMDB foram os que mais trouxeram avanços para Roraima e criticou aqueles que julgam os atos do senador Romero Jucá (PMBD), atualmente um dos principais articuladores do processo contra a presidente. “O senador Romero Jucá trouxe para o Estado de Roraima mais recursos do que todas as forças políticas juntas na história desse Estado.

Não existe história política sem Ottomar e Romero Jucá neste Estado. Ele fez a história desse Estado mudar, e fará o mesmo com a história do País”, destacou.

Em contrapartida, ele lembrou que o governo de Lula (PT) trouxe “graves problemas para Roraima”, como a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. “Mais de 400 famílias deixaram a área de produtores rurais. No total, um bilhão e setecentos milhões de hectares de terra. São 7,8% da área total de Roraima tomadas pelo Governo Federal”, lembrou Jalser Renier.

Para ele, votar contra Dilma não se trata de um golpe, mas significa colocar o Brasil no caminho do desenvolvimento, Frisou também que não critica quem é a favor da presidente, mas que é preciso reflexão durante este momento. (JL)

Ângela Portela vê em Temer ameaça aos direitos sociais

Além de um atentado à democracia, o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) representa um risco real de retrocesso social, afirmou a senadora Ângela Portela (PT) em pronunciamento no Plenário do Senado. Para ela, o áudio com um discurso do vice-presidente Michel Temer (PMDB), divulgado anteontem, deixou às claras os objetivos do grupo que quer tomar o poder.

Além disso, a senadora tem chamado a atenção para a pauta conservadora que está por trás do impeachment. Ela citou a ideia de acabar com as vinculações de receitas constitucionais em gastos nas áreas de saúde e educação e com à legislação trabalhista, presentes em documento produzido pelo PMDB.

“A tal ponte para o futuro, que na verdade promete ser um terrível retrocesso social, expõe as reais intenções do vice-presidente Temer e de seus escudeiros: a redução drástica nos gastos sociais, o fim da legislação de proteção aos trabalhadores e a entrega do patrimônio público”, disse a senadora.

De acordo com Ângela Portela, há mais de 50 projetos em tramitação na Câmara e no Senado, patrocinados por parlamentares dos partidos que querem retirar Dilma do cargo, e que põem em risco direitos trabalhistas e avanços sociais efetivados nos últimos 12 anos.

Na área trabalhista, há propostas facilitando a terceirização e a precarização do trabalho; liberando o trabalho de menores a partir de 14 anos de idade; extinguindo a multa paga por empregadores no caso de demissão sem justa causa; e diminuindo os poderes da Justiça do Trabalho.

Como ataques a direitos sociais, a senadora petista citou o projeto que facilita a compra de armas de fogo e o que fragiliza a punição por exploração de trabalho escravo.