A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) publicou nota de repúdio contra o aceleramento das obras da linha de transmissão Manaus-Boa Vista. Segundo as organizações, a medida publicada no Diário Oficial da União de quinta-feira (28) visa única e exclusivamente demonstrar desrespeito ao povo Kinja (Waimiri-Atroari) e aos direitos dos povos indígenas com o pretexto do interesse nacional.
Para a COIAB, com essa medida, o governo federal, através do Conselho de Defesa Nacional (CDN), busca reeditar “práticas criminosas de esbulho e extermínio cometidas contra os povos indígenas, especificamente contra os Kinja, durante o regime militar, quando helicópteros que sobrevoaram as aldeias na época derramaram veneno e detonaram explosivos sobre centenas de indígenas reunidos e com ataques a tiros, esfaqueamentos e degolações violentas praticadas por militares contra indígenas, tudo isso em nome do ‘desenvolvimento e da ‘defesa nacional’”.
Para a entidade, declarar o Linhão de Tucuruí uma obra de interesse nacional demonstra estado de exceção, considerando os povos indígenas como empecilho ao desenvolvimento do País.
“Em nome da soberania, temos que ser ignorados ou eliminados e fadados a morrer, pois como naqueles tempos das décadas de 1960 e 1970, o poder econômico quer mais uma vez tomar conta ilegalmente das terras indígenas, nem que para isso seja preciso manipular ou burlar a legislação vigente, nacional e internacional, de proteção e promoção dos direitos indígenas, como a Convenção 169 da OIT e a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas da ONU.”
Para os indígenas, o governo continua a defender a “integração” gradual, senão forçada, dos povos indígenas à chamada cultura nacional e às benesses do desenvolvimento sustentável.
“Diante desse cenário, a COIAB reafirma sua postura contrária à ofensiva do governo do presidente Jair Bolsonaro que insiste em não ouvir e dialogar com os povos indígenas, erguendo dessa forma uma bandeira de desrespeito e afronta com a história da própria nação que tanta exalta; e criando um abismo entre os povos originários do Brasil e as políticas públicas em diversas instâncias do governo.”
A organização conclamou a base do movimento indígena da Amazônia brasileira, povos, organizações indígenas, movimentos sociais, assim como outros setores da sociedade, a se somarem na luta em favor dos Kinjas.
“Pela resistência e continuidade dos povos indígenas, a integridade de seus territórios e do meio ambiente. Pelo bem viver de todos e todas, do planeta e da humanidade! Não ao genocídio dos nossos povos!”