A primeira baixa na base governista em 2016 foi anunciada ontem, 08, pelo presidente estadual do Partido Democrático Trabalhista (PDT), senador Telmário Mota. Em coletiva, o parlamentar anunciou o novo posicionamento da sigla: de independência política e administrativa do Poder Executivo, chefiado pela governadora Suely Campos (PP).
“Todo mundo sabe que, no primeiro turno das eleições de 2014, nós apoiamos a senadora Ângela Portela (PT), candidata ao governo. E que, no segundo turno, apoiamos a Suely, que disputou contra o Chico Rodrigues [PSB]. Fizemos um acordo em cima de um programa, que apresentamos à então candidata, que aceitou cumprir com aquilo”, justificou Telmário.
Segundo o presidente do PDT, um ano de governo foi o suficiente para que Suely direcionasse a gestão. “No primeiro momento, houve alguns atos que nós não concordamos. Mas demos tempo e esperamos que as coisas começassem a acontecer. Um ano não é um tempo muito longo, mas também não é muito curto para dar um norte a uma gestão”, avaliou.
Como aliado do governo, Telmário disse que sempre cobrava da governadora o cumprimento dos acordos que tinham sido feitos durante a eleição. “Não vimos a mudança. Então nós cansamos. Não podemos ficar eternamente esperando uma mudança”, disse o senador, que comunicou a Suely o rompimento ontem pela manhã, 08, antes do anúncio feito à imprensa.
O senador disse que vê na governadora uma pessoa séria, íntegra e do bem. “Mas o governo dela está fatiado, dividido em ilhas. Está governando com pessoas que não ouviram o que nós falamos nas ruas. Esse governo está descasado com as nossas propostas e descasado com o que foi falado nos comícios para a população”.
Cinco itens são apontados como justificativa para o racha político
Telmário Mota listou cinco itens que pautaram a direção do partido a romper com o governo. “O PDT resolveu, a partir de hoje, ser independente. Eu, como senador, vou continuar apoiando e ajudando o Estado, como sempre fiz. Vamos continuar ajudando a governadora institucionalmente”, frisou. “Porém, não vamos compartilhar e conviver com essa situação que está aí. Fere a nossa programática, o nosso acordo. Sendo independentes, poderemos reconhecer os acertos e, principalmente, apontar as irregularidades”, acrescentou.
O primeiro item citado foi uma auditoria pedida pelo PDT. “Nós solicitamos que fosse feita uma auditoria geral no Estado de Roraima. Havia inúmeras denúncias e indícios de corrupção na Cerr [Companhia Energética], na Caer [Companhia de Águas e Esgotos], na Educação, no Iteraima [Instituto de Terras e Colonização]. Era preciso que essas possíveis irregularidades fossem apuradas. Hoje não se governa mais sem transparência”.
O nepotismo foi o segundo item. Telmário lembrou de quando rompeu com o então governador Anchieta Júnior (PSDB), quando foi comunicado que o vice na chapa de Chico Rodrigues seria Rodrigo Jucá (PSD). “A Teresa [Surita] na prefeitura de Boa Vista, o [Romero] Jucá no Senado e o Rodrigo [Jucá] no governo? O que restaria para nós? Carregar lata d’água?”, ironizou.
Por isso, disse ser radicalmente contra o nepotismo. “Quando a governadora colocou familiares, eu questionei. Ela disse: ‘vamos reorganizar’. Então eu esperei que aquilo fosse provisório. Como ela não tinha maioria na Assembleia Legislativa, eu entendia que ela tinha colocado os parentes no sentido de buscar novos parceiros e fazer permutações”, explicou.
Quanto ao corte de beneficiários do Crédito do Povo, Telmário disse que foi contra os critérios utilizados para o recadastramento. “Roraima é um Estado que vive do contracheque. E é verdade que encontraram desvios. Mas qual o critério para o corte? Foi sumário. Cortou-se todo mundo. Na reintegração, pessoas que precisam não foram reinseridas, ou seja, o programa não está correspondendo com a realidade e necessidade das pessoas”, enfatizou.
O quarto item que influenciou na decisão de rompimento foi o que Telmário Mota chamou de “importação de secretários”. “Quem nasceu aqui ou veio para cá trouxe na mala um sonho de construir a sua vida. Muitos tiveram oportunidade de estudar, de se preparar e uma hora serem aproveitados num cargo importante. Mas não. Vai-se lá em Santa Catarina e pega-se um tal de Pizzolatti, envolvido na Operação Lava Jato”, disse, se referindo ao secretário extraordinário de Articulação Institucional e Promoção de Investimento (Seapi).
Citou também o recém-empossado secretário de Educação, Marcelo Campbell. “Esse outro para a Educação nem se fala. Nós temos tantos grandes professores. Isso é desprestigiar a nossa gente”, criticou.
Ainda falando em desprestígio, o senador citou os empresários estaduais. “Nossos empresários parceiros são parceiros no desenvolvimento e atualmente ser empresário é muito difícil, por conta dos impostos, da recessão, do desemprego. Aí chamam uns da China, do Canadá, do Japão, de Manaus? É preciso que a gente valorize os nossos”, reforçou.
GOVERNO – Em contato com o Governo do Estado, a Folha foi informada de que a governadora Suely Campos não se pronunciaria sobre o rompimento do PDT com o Executivo estadual. (V.V)
Futuro de Oleno Matos no PDT é incerto
Questionado sobre o futuro do vice-líder do Governo na Assembleia Legislativa, deputado Oleno Matos (PDT), o presidente estadual do partido, senador Telmário Mota, afirmou que espera que o parlamentar estadual acompanhe o novo posicionamento da sigla. “Mas, se for impossível para ele, ele é convidado a ficar em outra sigla”, afirmou.
“Oleno é um deputado que nos orgulha, que tem feito um bom trabalho. Então, espero que ele nos acompanhe. O PDT tem norte, tem compromissos e ideais. Você não pode servir a dois senhores ao mesmo tempo”, disse o senador.
Telmário Mota lembrou que Oleno foi “eleito nos braços do PDT e não nos braços do governo Suely”. “Se agora ele não ficar com o PDT e optar pelo governo Suely, é porque o programa da Suely é melhor que o do PDT”, frisou.
Procurado pela Folha para comentar o novo posicionamento do partido em relação ao Governo do Estado, Oleno Matos informou, por meio de nota, que não foi consultado nem participou da decisão do partido de romper com a governadora Suely Campos, “não tendo qualquer tipo de conversa sobre o assunto com o presidente da sigla, senador Telmário Mota”.
Ressaltou também que entende que cabe ao presidente do diretório estadual tomar a decisão. “Ao retornar de viagem fora do Estado, conversarei com o senador Telmário Mota e decidirei sobre meu futuro político em 2016”, frisou a nota. (V.V)