Em fevereiro deste ano, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, deu início a uma iniciativa diplomática para a implementação do que seria o “maior corredor ambiental do mundo”, cobrindo uma área de 1,35 milhão de quilômetros quadrados dos territórios amazônicos da Colômbia, Venezuela e Brasil. O projeto, batizado “Corredor Triplo A”, tem como objetivo conectar as regiões dos Andes, Amazônia e Atlântico.
O presidente colombiano apresentou a proposta durante uma reunião do Conselho de Ministros, realizada em Letícia, fronteira com a cidade de Tabatinga, no Amazonas. “Todo o governo colombiano irá trabalhar na iniciativa e fazer gestões sobre a ideia junto aos governos da Venezuela e do Brasil.
Propomos a criação deste corredor ecológico para preservá-lo e como aporte da humanidade nesta discussão sobre as mudanças climáticas, de como deter as mudanças climáticas”, disse ele à época, acrescentando que gostaria que os três países apresentassem, juntos, a proposta como um aporte para o acordo sobre mudanças climáticas que se espera que seja atingido na conferência COP-21, em Paris, no mês de dezembro.
O corredor ecológico seria formado em 62% do território do Brasil, 34% da Colômbia e 4% da Venezuela. Porém, não é uma ideia original do governo colombiano. De fato, apenas adotou como iniciativa diplomática a proposta do antropólogo Martín von Hildebrand, diretor fundador da Fundación Gaia Amazonas.
“É uma manifestação de unidade e vontade política dos três países. Hoje, nós temos um mosaico de parques, áreas indígenas e áreas protegidas. Às vezes, há uma conexão entre eles. Mas, ainda assim, eles são mais como ilhas e ainda estão funcionando como áreas individuais. (…) Este poderia ser o momento certo para algo assim acontecer e inspirar o mundo com alguma coisa positiva sobre o meio ambiente. Então, eu acho que ele tem uma boa chance. O corredor deve enfatizar a visão comum dos três países”, disse Hildebran à rede alemã Deutsche Welle em fevereiro deste ano.
Para o antropólogo, o plano é viável, uma vez que 80% do corredor já existem, como um mosaico de áreas protegidas e territórios indígenas. “Dos 20% remanescentes, 10% estão ao redor do Parque Natural Nacional Chiribiquete, na Colômbia, e os outros 10% na região de Roraima, no Brasil, e ambos poderiam ser protegidos por uma figura [jurídica] especial de gerenciamento flexível que harmonize as necessidades socioeconômicas com a conservação dos ecossistemas”, explica Hildebran no site da Fundación Gaia Amazonas (FGA), ligada à família real britânica.
O objetivo para este ano é a assinatura de um acordo entre a Colômbia, o Brasil e a Venezuela – na COP-21, a Conferência Climática das Nações Unidas, em Paris, em dezembro próximo – para criar o corredor ecológico e aprovar um plano de ação de cinco anos para a sua consolidação. (V.V)
Para sociólogo mexicano, Corredor Triplo A é uma ‘iniciativa delirante’
Em entrevista à Folha, o presidente do Movimento de Solidariedade Ibero-Americana, jornalista Lorenzo Carrasco, afirmou que a criação de um corredor que percorra três países é uma “iniciativa delirante”, mas que dada a fragilidade da gestão do Governo Federal brasileiro, os movimentos sociais, influenciados pelo aparelho internacional, estão apoiando a causa e fazendo pressão para que a presidente Dilma Rousseff (PT) concorde com a ideia.
De acordo com Carrasco, a criação do Corredor Triplo A, que corresponde a todo o território da França, tomaria toda a terra de Roraima, que atualmente tem 93% do território protegido em que não se pode exercitar a agricultura e pecuária. “Em lugar de iniciativas delirantes como o Corredor Triplo A, a região precisa urgentemente de iniciativas de infraestrutura que proporcionem uma sinergia de esforços para o desenvolvimento compartilhado das suas populações, como ligações hidroviárias e ferroviárias transcontinentais”, afirma o jornalista na página do Movimento de Solidariedade Ibero-Americana.
“Por isso, se a proposta for concretizada, o destino das populações amazônicas passaria a ser determinado por aquele insidioso aparato internacional de poder suave a serviço da agenda geopolítica das potências hegemônicas do Hemisfério Norte”, frisou. (V.V)