Pela primeira vez, o senador Chico Rodrigues (PSB-RR) resolveu falar publicamente detalhes do escândalo que o afastou por 121 dias do cargo por ser flagrado com mais de R$ 30 mil na cueca. Em entrevista ao podcast Papo de Redação, do grupo Folha, ele também indicou que irá disputar a reeleição em 2026, respondeu se ficou rico e chorou ao falar do pedido da filha para perder a eleição e ficar mais perto da família (assista à entrevista completa ao final da reportagem).
Escândalo da cueca
Em outubro de 2020, Chico Rodrigues foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) que investigava desvios de aproximadamente R$ 20 milhões de verbas para a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) enfrentar a pandemia da Covid-19. Em casa, o senador foi flagrado com o dinheiro após pedir para ir ao banheiro.
Ao jornalista Lucas Luckezie, ele disse que esconder a quantia que seria usada para pagar salários de cerca de 20 funcionários da empresa de aluguel de terraplanagem da família, alguns dele do interior, foi a atitude “alucinada” que encontrou para não perdê-la.
Além disso, Rodrigues enfatizou que costumava guardar dinheiro em casa e que na época não existia o pix. Também disse que pediu a devolução do montante apreendido e prometeu não fazer “estardalhaço” caso o receba de volta, porque sua consciência “vale mais que uma conspiração”.
“Em quase 30 anos de mandato que eu tinha a época, nunca tinha acontecido nada, mas absolutamente nada que pudesse, na verdade, me assustar. E lógico que você se assusta. E esse episódio praticamente deixou uma marca, uma nódoa, na minha vida pessoal”, disse, ressaltando que o caso, o qual define como “cilada”, foi uma “invenção” de adversários políticos para tirá-lo da eleição para o Governo de Roraima em 2022 e uma forma de atingi-lo por ser vice-líder do Governo Bolsonaro, criticado por omissões na pandemia.
“Todo mundo que estava em seu ciclo [Jair Bolsonaro] foi atingido e, por azar, um fato que ficou mais visível, por ser um fato inusitado, foi exatamente aquele momento que eu vivi. Não existe hipótese absolutamente nenhuma de eu ter um vínculo sequer de culpabilidade, isso é o que me conforta”, disse, ao reafirmar inocência no suposto esquema investigado, enfatizando que os recursos milionários ficaram “intactos” por um ano e meio na conta do governo estadual.
Chico Rodrigues afirmou que a PF falhou nessa investigação e acredita em sua absolvição no processo, que corre no Supremo Tribunal Federal (STF). “Nenhuma instituição é perfeita, mas a condução como foi feita, como todos sabem, foi, segundo dizem em Brasília, o próprio ministro, ao autorizar, ele entendeu que houve realmente um excesso, informação descoordenada, quando os recursos estavam 100% na conta do Estado”, declarou ele, enfatizando que deu a volta por cima ao ser eleito terceiro-secretário do Senado.
Riqueza na política
Em outro momento da entrevista, o senador afirmou que não ficou rico da política, mas “bem de vida” juntamente com a família, em razão de dar oportunidades para familiares estudarem e abrirem empresas. Ele diz ter uma fazenda, uma empresa de terraplanagem e uma rádio. “É tudo fruto de trabalho familiar, nós não temos sócio, laranja, pera, limão. Não tem ninguém metido em nada nosso. É aquilo que é conhecido e não tem um cabrito na minha propriedade não declarado no imposto de renda”, pontuou.
Futuro na política
Chico Rodrigues afirmou a pretensão de se reeleger senador, mas não descartou regredir na hierarquia da política ao buscar a disputa pelos cargos de deputado federal ou estadual no ano que vem. Segundo o político, tudo vai depender das pesquisas eleitorais e da formação de alianças políticas.
“Não tenho nenhuma dificuldade em disputar qualquer cargo que seja, porque eu já ocupei tudo em Roraima”, disse, ao lembrar de quando, em 2016, anunciou que disputaria o cargo de vereador de Boa Vista após deixar o mandato de governador, o que não aconteceu por motivo de saúde.
Governos Bolsonaro e Lula
Chico Rodrigues também explicou o fato de ter sido da base de apoio aos governos federais de Jair Bolsonaro (PL) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), completamente antagônicos ideologicamente, ao declarar que sempre foi um político de centro. “De quem fosse o Governo eu queria apoiar para fazer o que eu estou fazendo por Roraima”, afirmou.
Outros assuntos e família
Rodrigues relembrou momentos marcantes de seus mais de 30 anos de vida pública, que incluem a ocupação de cargos de vereador de Boa Vista (1989-1991), deputado federal (1991-2011), vice-governador (2011-2014) e governador (2014). Ele relembrou, por exemplo, a criação do programa Ronda no Bairro (atual Polícia na Rua) durante sua gestão no Governo e a destinação de quase R$ 1 bilhão para o Estado em seis anos no Senado.
“Essa responsabilidade no mandato, compromisso e dedicação que você tem que ter muitas vezes inclusive deixando de lado a tua família”, emociona-se. “A minha filha, inclusive, às vezes, ela diz pra mim uma coisa interessante: ‘Pai, a coisa que eu queria mais era que um dia o senhor perdesse a eleição, porque a política roubou muito o senhor da família’. E isso eu sei lá dentro de mim o quanto é duro […]. Um comentário como esse da minha filha marca pra caramba a vida da gente e dá o combustível que nós temos exatamente para se dedicar mais ainda no mandato que nós exercemos”.