Dois senadores da bancada roraimense Telmário Mota (PDT) e Ângela Portela (PT) consideraram “tardia, porém bem-vinda” a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada nesta quinta-feira, 05, em suspender o mandato parlamentar e o afastamento por tempo indeterminado do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara Federal.
A decisão ratificou a liminar proferida pelo ministro Teori Zavascki, na madrugada de ontem, que surpreendeu o País. Os ministros entenderam que Cunha usava o cargo para obstruir as investigações da Lava Jato e, também, o processo de cassação ao qual ele responde no Conselho de Ética da Câmara.
Temário Mota afirmou que Cunha representava “o grande marco de perversidade dentro da República brasileira” e que, ao determinar o afastamento, o Supremo “se encontrou com a sociedade”. “Acho que a Justiça brasileira vem acordando e o trabalho que o juiz Sérgio Moro, responsável pelo andamento das investigações da Lava Jato em primeira instância, acordou os andares superiores”, disse o parlamentar.
Mota reafirmou que, ao aceitar a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousselff (PT), Cunha agiu por vingança e não por acreditar que a presidente tenha cometido algum ato criminoso. “Ele precisava de três votos na comissão de ética e o PT não quis apoiá-lo”, lembrou.
De acordo com o senador, a decisão não deve influenciar na primeira votação do processo de impeachment no Senado. “Nesse momento, nada muda porque todas as cartas da comissão já estavam marcadas antes mesmo de o processo chegar a esta Casa”, frisou.
“O PSBD, que tanto critica Dilma, está conduzindo o processo de impeachment ao negociar os possíveis cargos nos ministérios. Isso ficou muito claro quando o relator do processo no Senado [Antônio Anastasia, do PSDB-MG] leu aquele relatório tendencioso, imparcial e que faz malabarismo para transformar as inverdades em possível verdade”, continuou o senador ao falar sobre a possibilidade de afastamento da presidente.
O parlamentar disse ainda que o PSDB pretende assumir o Ministério das Cidades para se apossar do programa “Minha Casa, Minha Vida”, “porque eles sabem que o programa está dando certo e tem dinheiro”. Disse ainda que o partido pretende ainda ter influência na Procuradoria-Geral da União “para poder colocar na cadeia seus adversários”. “O PMDB traiu o governo da presidente Dilma, saiu da base e agora conspira contra”, ressaltou.
Para a senadora Ângela Portela, existe mérito na atitude dos ministros do STF, mas a decisão veio num momento em que seu comportamento “manipulador, chantagista e golpista na condução do processo de impeachment já produziu os efeitos que os derrotados de 2014 desejavam”.
“Durante 15 meses, a despeito dos indícios e mesmo provas de crimes gravíssimos, Cunha esteve livre para conduzir um processo fraudulento contra a presidenta Dilma e impor a votação de pautas que buscavam desestabilizar o governo e cortar direitos sociais duramente conquistados”, criticou.
Ela ressaltou que, embora correta, a decisão do STF não seria suficiente para criar um ambiente de normalidade institucional e dar mostras à sociedade de que corruptos estão sendo punidos. “Basta ver a quantidade de políticos réus em processos judiciais, citados em investigações da Polícia Federal, que articulam livremente a deposição da presidenta. Além disso, deverão fazer parte do novo governo”, afirmou a senadora.
OUTROS – Em suas análises, os senadores Ângela Portela e Telmário Mota consideraram que a atitude do Supremo deve se estender a outras grandes figuras políticas que estão sendo investigadas nos mais diversos esquemas de corrupção.
“O senador Jucá, por exemplo, responde a diversos inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha, além de ter sido citado em praticamente todas as delações premiadas das operações Lava Jato e Zelotes. Espero que o STF atue com mais celeridade, evitando que a Nação caia nas mãos de políticos que não têm condições morais de cuidar dos destinos do País”, disse Ângela.
ROMERO JUCÁ – A Folha procurou o senador Romero Jucá (PMDB), durante a produção desta matéria, para que ele se manifestasse sobre as declarações da senadora Ângela e também sobre a decisão do STF, tendo em vista a sua proximidade com o vice-presidente Michel Temer e com Eduardo Cunha. Mas, até o fechamento desta matéria, às 19h de ontem, o parlamentar não retornou o contato. (JL)