Na manhã desta quarta-feira, 5, dois pontos em Boa Vista que são fundamentais para o funcionamento da economia e segurança pública de Roraima foram fechados. Logo no início da manhã, às 4h50, servidores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo de Roraima (Sintraima) colocaram cadeados em todas as entradas da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), na Praça do Centro Cívico.
Às 8h, servidores da Polícia Civil fecharam o 5º Distrito Policial, a única delegacia em Boa Vista que até então estava funcionando, em ato de paralisação que irá durar até às 8h de sábado. O Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Roraima (Sindpol) já havia divulgado a execução do ato após decisão da assembleia geral realizada na segunda-feira, 3.
SEFAZ – Com o fechamento dos portões da Sefaz, não será possível realizar a troca de plantão de fiscais que seria feita nesta manhã em Jundiá, em Rorainópolis, na divisa com o Amazonas, o que pode prejudicar a entrada de mercadorias no Estado.
O presidente do Sintraima, Francisco Figueira, afirmou que o ato já não visa mais mirar as reivindicações apenas para o poder Executivo, mas também o Legislativo, representado pela Assembleia, e o Judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça, uma vez que intrigas entre os poderes estariam prejudicando ainda mais os servidores, que já estão entrando no terceiro mês sem receber salários.
“Tomamos essa decisão para que não haja mais arrecadação alguma a esse estado. Todo o dinheiro que está entrando é usado somente para os poderes, e não à população, então qual o sentido de ainda haver essa arrecadação? Diversos órgãos estão fechados, o 5º DP, quartéis da Polícia Militar, Femarh, por causa de servidores que já não aguentam mais viver em situação de calamidade. É um caos, que só será sentido pelos poderes dessa forma”, afirmou.
O secretário estadual da Fazenda, Enoque Rosas, foi à Sefaz pedindo para entrar no prédio, afirmando estar em seu direito de poder trabalhar no órgão. No fim das contas, sua entrada foi impedida. “Ele levantou o tom de voz e insistiu em dizer que arranjaria uma forma de entrar. Apenas dissemos que ele poderia tomar a medida cabível que quiser, mas não sairíamos”, afirmou Francisco.
DISTRITO POLICIAL – Já em relação ao 5º DP, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Leandro Almeida, destacou que o fechamento da única unidade de atendimento policial da Capital é mais um passo da classe em meio aos diversos atos que já foram feitos para chamar a atenção do poder público.
“Esse vem sendo um movimento progressivo de mobilizações. E a ideia é que continuemos com medidas cada vez mais drásticas até que haja o pagamento de pelo menos um mês dos nossos salários. O Governo já fez várias promessas e descumpriu todas. Então, se chegassem aqui dizendo que o pagamento irá ocorrer amanhã, ainda ficaríamos aqui, pois não dá mais para confiar até que isso aconteça”, afirmou.
Leandro Almeida comparou as condições de trabalho do policial civil hoje às de trabalho escravo, uma vez que além da falta de dinheiro, os funcionários estão sendo obrigados a trabalhar em condições insalubres. “Não há papel, água potável, pessoal da limpeza, internet, e ainda estamos trabalhando sem receber. O cenário parece análogo à de escravidão. Em 15 anos de Polícia Civil em Roraima, isso nunca aconteceu. E é humilhante ter que viver de doações, pedir pela solidariedade da população, mas com famílias com fome precisamos engolir o orgulho se não quisermos passar fome”, frisou.
O presidente do Sindpol concluiu sua fala destacando a proporção do apoio que a classe policial vem dando às manifestações do sindicato. “Houve uma adesão de 95% do nosso efetivo que está atuando, desconsiderando aqueles que estão de férias, em um universo de mais de 600 servidores. Muitos delegados, inclusive, vêm participando dos nossos atos, apesar de não terem prestado apoio formal”, finalizou. (P.B)
Esposas de militares fecham passagem de viaturas em Pacaraima
Manifestantes estão acampadas em frente à saída das viaturas (Foto: Divulgação)
Seguindo a tendência de Boa Vista, Rorainópolis e Caracaraí, esposas de militares também aderiram ao manifesto de não permitir a saída de viaturas do quartel da Polícia Militar na sede do município de Pacaraima na manhã de ontem, 5.
Uma das mulheres que está fazendo parte do ato, Suzy Lopes, contou que o movimento permanecerá até o recebimento de salários em dia. “Tem famílias que estão sendo despejadas de casa alugada, devendo para bancos, parentes que estão adoecendo e não tendo remédios, além daqueles que sofrem de doenças, como diabetes, e não têm condições de se tratarem. Meus filhos me perguntam o que vamos comer amanhã e eu não sei o que responder. Por isso, estamos paradas até vermos o salário na conta”, afirmou.
Ela também destacou que, apesar de a meta ser o dinheiro na conta, as mulheres de Pacaraima são contrárias ao uso de recurso do Iper para pagamento. “É um dinheiro nosso e que gerará um problema maior para o Estado. Queremos poder comer, mas também precisamos garantir que haja um futuro depois disso”, afirmou.
Suzy Lopes aproveitou e agradeceu ao apoio que a população está dando a elas, mas comentou que os próximos dias ainda são incertos para as famílias de policiais militares, que poderão passar por dias piores de fome daqui para frente.
“A população vem sendo muito boa conosco, apoiando a iniciativa e doando alimentos. Só que ainda existe aquele problema de que não sabemos até quando essa iniciativa vai nos sustentar, pois ainda precisamos do dinheiro que nossos guerreiros (os policiais) merecem. Eles estão abalados, fazendo o que fazem por amor à farda, pois é o que resta”, frisou.
Além das esposas em Pacaraima, Caroebe também aderiu ao movimento de bloqueio de quartéis nesta quarta-feira, 5. “Estamos com cartazes e crianças, pedindo por nossos direitos. Até mesmo o caminhão de lixo está tentando entrar aqui, mas nós não iremos deixar”, dizem em um vídeo divulgado nas redes sociais. (P.B)