O venezuelano Gustavo Silva, de 38 anos, está no Brasil para apresentação de relatório técnico eleitoral sobre as atas e os resultados da eleição presidencial de 28 de julho de 2024 na Venezuela. O representante, membro do grupo de oposição ao atual presidente Nicolás Maduro, denuncia ainda o aumento de mais de 566% do número de presos políticos pela gestão, passando de 300 para mais de 2 mil.
Atualmente em Brasília, Gustavo deu entrevista à FolhaBV nesta terça-feira, 26, por telefone. Ele explica que esse processo de divulgação de informações para diversos países, sobre os dados contidos nos boletins de urnas. A equipe já esteve presente na sede da Organização dos Estados Americanos em Washington, em outubro.
Conforme o relatório disponibilizado, o sistema de votação venezuelano consiste em uma urna eletrônica de votação, ativada com impressão digital. A urna também imprime um comprovante de papel, semelhante ao que acontece no Brasil, contabilizando a quantidade de votos. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela possui o Envelope nº 1 de todas as mesas, com os respectivos resultados eleitorais.
“O documento que temos é uma amostra das atas de eleição na Venezuela. Lá, é um direito que as testemunhas dos candidatos peguem um exemplar do boletim ao final do dia. Cada urna eletrônica imprime perto de cinco ou seis atas às testemunhas. Uma ficou ao resguardo dos militares para transportar ao poder eleitoral”, explicou Gustavo.
Silva afirma que o grupo de oposição a Maduro e de apoio ao candidato Edmundo González conseguiu acesso a cerca de 85% dos boletins das mesas de votos. A equipe teria então analisado todo o conteúdo, digitalizado a informação e compartilhado por meio do site Resultados Elecciones Presidenciales.
No dia 28 de julho, o CNE declarou vitória irreversível de Nicolás Maduro com 51,2% dos votos. No entanto, os representantes da oposição alegam que o Conselho ainda não publicou os resultados em seu site e que o portal permanece fora do ar, sem compartilhar “evidências que sustentem esses resultados”.
O relatório afirma ainda que os dados das cerca de 85% atas originais coletadas pelas testemunhas eleitorais no dia da eleição, supostamente, apresentariam a vitória de Edmundo González (67,08%) contra Nicolás Maduro (30,43%).
“Estamos visitando diferentes países da região para poder mostrar o relatório, que está aparecendo no site. Já estamos hoje a quase quatro meses da eleição, 121 dias depois, e ainda não temos um só resultado público de como foi o resultado nas mesas. E na Venezuela é tradição a apresentação”, destacou Silva.
Opositor ao governo Maduro denuncia aumento de presos políticos e cobra defesa dos direitos humanos no país
Outra informação que também deverá ser apresentada às autoridades brasileiras é o aumento de presos políticos no governo de Nicolás Maduro. A informação é que antes da eleição, eram cerca de 300 pessoas. E hoje, o número ultrapassa os 2 mil.
“A situação cada dia é pior. Antes da eleição, tínhamos 300 presos políticos. Agora temos 2 mil. A resposta do Nicolás Maduro não foi só a fraude. Foi também a repressão contra o povo que participou na eleição”, pontuou Gustavo.
Outro relato é a perseguição de seis opositores exilados na Embaixada Argentina em Caracas, na Venezuela. O relato é que duas vezes, nos últimos dois meses, membros das Forças de Segurança de Maduro cercaram o local portando armas e encapuzados. Atualmente, é o governo brasileiro que administra o espaço.
“Membros da equipe técnica nossa e da equipe da campanha da María Corina Machado, que estão na residência da Embaixada Argentina na Venezuela, agora estão sob a proteção do Brasil. Agradecemos muito o esforço que o Brasil faz por manter os nossos companheiros, a parte dos equipamentos, a diplomacia e a proteção dos direitos humanos”, completou.
Gustavo reforçou, por fim, que terá encontros com autoridades brasileiras durante toda a semana e deverá sair do país no final do dia de quarta-feira, 27. A expectativa é que o representante continue compartilhando informações em outras localidades.
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