O vereador de Caracaraí, Valdemar Ferreira Lima Neto, conhecido como Pé no Chão, foi confirmado candidato à reeleição pelo PSD cinco meses após ser filmado agredindo a companheira por ciúmes em uma distribuidora de bebidas na cidade. O nome dele foi aprovado por unanimidade em convenção (4 a 0) e, portanto, ele poderá disputar o quarto mandato.
Procurado, Pé no Chão disse, em tom exaltado, que não gostaria de comentar o assunto, mas acabou afirmando que resolveu sua situação na Justiça, que deu a volta por cima e continua trabalhando. “Não preciso dar satisfação da minha vida a ninguém”, destacou, em áudio à Folha.
“Você pode ter esposa, mãe, irmão e preste bem atenção: o que acontece comigo, acontece com todos, não querendo que isso aconteça, mas quem vive de casa, em família, você conhece […]. Mostre os meus vídeos, eu na lixeira, eu no hospital, eu pedindo remédio nos postos. Esse é o meu histórico político. Agora, minha vida pessoal cuido eu, faço dela o que eu bem entender”, completou.
O crime
Na noite de 22 de março de 2024, Pé no Chão ingeria bebida alcoólica e começou a demonstrar ciúmes da companheira com o esposo da amiga dela. Irritado, ele quebrou o celular da vítima e iniciou uma série de socos contra ela, que conseguiu correr para dentro do estabelecimento para fugir das agressões. Ele ainda retornou ao local e tentou levá-la à força, mas acabou segurado pelo irmão da mulher.
As agressões foram assistidas por outras pessoas e comprovadas em laudo de exame de corpo de delito. Além disso, o vídeo viralizou nas redes sociais. O acusado ficou foragido por dias e quase perdeu o cargo de vereador.
Na época, a juíza de Caracaraí, Noêmia Cardoso Leite de Sousa, decretou a prisão preventiva do suspeito ao considerar que ele tem influência e poder aquisitivo no Município em razão do cargo, desdenha da Justiça, ameaça a vítima e é reincidente em caso de violência doméstica. Enquanto foragido, a Justiça de Roraima chegou a conceder medida protetiva à vítima.
Na decisão, proibiu o vereador de: se aproximar dela por distância mínima de 200 metros; frequentar bares; e deixar Caracaraí por mais de oito dias sem autorização judicial. Também o obrigou a comparecer mensalmente em juízo para justificar suas atividades e a pagar fiança de R$ 14,1 mil.
Em abril, o caso teve uma reviravolta na Justiça, que revogou o mandado de prisão preventiva e as medidas protetivas após a própria vítima desistir do processo contra o parlamentar. Pé no Chão está no terceiro mandato de vereador de Caracaraí. Em 2020, pelo PSD, foi o quarto parlamentar mais votado da cidade, ao receber 352 votos.
Reincidente
Em 2015, o político, que era presidente da Câmara, foi preso em flagrante por espancar a esposa com soco no olho e chute, agressões comprovadas no exame de corpo de delito. Ele resistiu à prisão e os policiais militares precisaram usar a força para colocá-lo na viatura. A defesa do parlamentar alegou legítima defesa para se proteger da vítima e negou que tenha sido desobediente à abordagem policial.
Pé no Chão foi liberado após pagar uma fiança de R$ 15,7 mil e respondeu ao processo em liberdade. Em 2016, ele foi condenado e cumpriu uma pena de um ano e um mês de detenção em regime inicialmente aberto. Seis anos após a condenação, conseguiu a devolução do dinheiro da fiança por ter cumprido integralmente a pena.
Por conta do episódio, o vereador foi ameaçado de expulsão pelo PSDC, Apesar disso, conseguiu concorrer pela sigla no ano seguinte, mas não se reelegeu.