A falta de desejo sexual é uma queixa predominante entre as mulheres. Segundo um levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo por meio do Cresex (Centro de Referência e Especialização em Sexologia) do hospital estadual Pérola Byington, falta ou diminuição do desejo sexual afetam 48,5% das mulheres que procuram auxílio médico por conta de disfunções sexuais.
Além de falta de libido, 23% sofrem de ausência de orgasmo (anorgasmia) e 13% se queixam de vaginismo (contração involuntária dos músculos próximos da vagina). O estudo no Pérola Byington também encontrou outros distúrbios sexuais.
Cerca de 18,2% das pacientes avaliadas apresentavam dificuldade de chegar ao orgasmo, 9,2% tinham dispareunia (dor intensa durante a relação sexual) e 6,9%, inadequação sexual (níveis diferentes de desejo em relação ao parceiro).
Vaginismo, disfunção sexual generalizada e distúrbios de excitação também estão entre as principais queixas das mulheres atendidas pelo Cresex.
De acordo com o médico endocrinologista Cesar Penna, descontados os problemas físicos que podem levar às disfunções sexuais, existem alguns aspectos socioculturais que afetam a sexualidade feminina.
A falta de desejo sexual é uma queixa predominante entre as mulheres(Foto: Divulgação)
Segundo o médico, culturalmente, existe o fato de que as meninas aprendem a repreender a sexualidade desde pequenas. “É mais comum conversar sobre a masturbação com os meninos enquanto, ensinamos as meninas a se resguardarem, a não expressarem sua sexualidade. Elas, portanto, se tornam mulheres que desconhecem o próprio corpo e todo o prazer que ele pode lhes proporcionar” explica.
O médico explica que desde cedo, a mulher é incentivada a se casar e procriar e dentro da família assume, na maioria das vezes, o papel de cuidadora, responsável pelo bem-estar de todos. “Tudo isso interfere diretamente na vida sexual da mulher desde os tempos dos nossos avós, a diferença é que hoje, muitas ainda têm de trabalhar fora. A mulher, cansada, passa a enxergar o parceiro que costumava atrai-la tempos atrás como parte das suas obrigações. Uma visão nada sexual” diz.
O médico relembra que em geral, os homens também têm pouca paciência e habilidade para despertar o prazer feminino. “Muitas vezes parecem esquecer que a relação sexual envolve, nesse caso, duas pessoas e que uma é bem diferente deles. Outro motivo, são reportagens e manuais dedicados ao público feminino que responsabilizam as mulheres a ser criativa para “apimentar” a relação. Como se para ser criativo não fosse preciso sentir desejo sexual e não vice-versa” explica.
Para o médico, as mulheres e a sociedade em si, precisam incentivar a saúde sexual feminina. “É preciso se livrar da culpa e sentir-se merecedora do prazer sexual. É necessário dissociar a relação conjugal da vida cotidiana, tentar ver o homem como parceiro de fato na busca pelo que lhe agrada e, se preciso, buscar ajuda profissional” diz.
Além de falta de libido, 23% sofrem de ausência de orgasmo(Foto: Divulgação)