Uma página famosa no Instagram publicou, recentemente, que uma biomédica brasileira criou o chip ConquerX capaz de detectar, em apenas 15 minutos, 18 tipos de câncer em estágio inicial por meio de um simples teste sanguíneo. A ideia é facilitar o diagnóstico para pessoas de baixa renda.
O texto, no entanto, omite que a informação foi revelada em 2016 pelos principais veículos de comunicação do País. Ou seja, repercute uma notícia sem apresentar seu contexto atual: o de que o projeto foi completamente descontinuado e de não há chance de esse chip chegar ao mercado. Veja o que diz a notícia antiga compartilhada:
Um avanço monumental na detecção precoce do câncer está prestes a transformar a abordagem médica e as perspectivas dos pacientes. Um chip inovador, desenvolvido pela biomédica pernambucana, professora Deborah Zanforlin, promete revolucionar a forma como enfrentamos essa doença devastadora.
A professora e biomédica desenvolveu o ConquerX, um chip revolucionário capaz de detectar 18 tipos de câncer em estágio inicial através de um simples teste sanguíneo. Com o objetivo de tornar o diagnóstico acessível para pessoas de baixa renda, o chip fornece resultados em apenas 15 minutos, evitando a necessidade de exames caros como tomografias e mamografias.
Após enfrentar desafios para transformar o projeto em um produto viável, Deborah foi premiada, em 2016, pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e formou uma sociedade com profissionais de diversos países. Os testes realizados em Pernambuco mostraram resultados positivos, e agora a equipe planeja expandir os testes para os Estados Unidos.
Especializado na checagem de notícias, o site Boatos.org lembrou que Deborah Zanforlin conseguiu um financiamento para desenvolver uma pesquisa do chip e que a ideia seria, de fato, usar um sistema similar aos testes de glicemia para fazer a detecção de alguns tipos de câncer. Ela e sua equipe foram desenvolver o chip no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). O projeto durou até 2020.
Ademais, o site checou, nas redes sociais da biomédica, que ela fez uma live depois que a história começou a se espalhar na internet, ocasião em que explicou que desenvolveu o projeto nos Estados Unidos, mas que ele acabou descontinuado há quatro anos. Disse, também, que trabalha na área da Biomedicina, mas que não atua mais como pesquisadora.
Deborah afirmou que as notícias que estão circulando na internet não condizem com a realidade do momento. “Pelo que vimos, todas as notícias que estão circulando agora se utilizam de um artigo de 2016. De lá pra cá, Deborah foi para os Estados Unidos, trabalhou no desenvolvimento do chip, o projeto foi descontinuado, elas voltou para o Brasil e segue outros caminhos profissionais”, diz o site.
Uma outra informação apurada pelo Boatos.org é de que a própria pesquisadora afirmou que as chances do ConquerX chegar ao mercado são ínfimas, porque esse projeto não levanta tanto interesse da indústria farmacêutica por não garantir um retorno de lucro para as empresas. Ela disse que, em 2020, seriam necessários três milhões de dólares para continuar o desenvolvimento, e rechaçou financiamento por meio de “vaquinhas” e dinheiro público.
“Na nossa avaliação, ela também parece estar em um novo momento na carreira e na vida (e parece estar feliz). Agora, há um ponto (que também foi ressaltado por ela): mesmo que o ConquerX não tenha chegado ao mercado (e não chegará), os avanços alcançados pela equipe podem servir como base para outras pesquisas similares. É assim que a ciência funciona”, conclui o site.