Saúde e Bem-estar

Como reconhecer quando alguém se faz de vítima?

Geralmente, a pessoa que se faz de vítima busca validação externa através do sentimento de pena

Manter relacionamentos interpessoais é sempre uma tarefa de aprendizagem de como lidar com o outro. Porém, existem muitas pessoas que encontram dificuldades com um tipo de comportamento, que são aquelas pessoas que se fazem de vítima o tempo todo.

Como identificar

De acordo com a psicóloga Ana Paula Araújo, para conviver com pessoas que se vitimizam o tempo inteiro, é fundamental conhecer o que está por trás deste comportamento e assim não entrar nesse jogo.

Segundo a psicóloga, geralmente a pessoa que se faz de vítima busca validação externa através do sentimento de pena, de lamentações e ao responsabilizar terceiros pelo que não deu certo em sua vida. 

“Você irá conseguir identificar uma pessoa que se faz de vítima ao encontrar alguém que sempre está reclamando da vida, que apresenta queixas recorrentes das diversas áreas da vida, que não se responsabilizam nunca sobre seus erros, culpando o universo, as pessoas e seja lá o que for por seus erros e pessoas que utilizam seus problemas como forma de obter atenção” explica.

Comportamento

A “a vitimização” pode ser definida como o hábito de condicionar o sentimento de piedade a si próprio e a falta de capacidade de se responsabilizar pelos seus próprios erros. 

“Esse padrão de comportamento pode ter sido construído na infância, quando só recebia atenção e cuidados quando machucados ou doentes. Pode estar associado também a baixa autoestima, se apresentando através de uma autoeficácia insuficiente, gerando assim um sentimento de incapacidade de resolver as próprias demandas e de assumir os próprios erros, condicionando-o a culpabilizar os outros” relata.

É importante neste momento diferenciar o comportamento de “vitimização” dos sintomas patológicos de transtornos psicológicos. Como por exemplo o Transtorno de Humor depressivo que tem como sintoma uma visão pessimista e distorcida da realidade, fazendo que em algum momento a pessoa apresente um comportamento mais auto piedoso. Ou no transtorno fictício em que a pessoa intencionalmente fabrica sintomas físicos ou psicológicos, principalmente com o propósito de enganar os profissionais da saúde e/ou outras pessoas.

É importante neste momento diferenciar o comportamento de “vitimização” dos sintomas patológicos de transtornos psicológicos (Foto: Divulgação)

Como lidar com esse tipo de comportamento?

Ana Paula ressalta formas de como lidar com essas pessoas e não cair nesse tipo de ‘jogo’.

“Antes de qualquer coisa deixe os julgamentos de lado, a empatia servirá bem nesse contexto. Mas ser empático não é sinônimo de aceitar tudo sem estabelecer os limites necessários. Primeiro chame a pessoa para uma conversa, explique a ela que aquele comportei que ela não faz bem a você e que ela poderia resolver as demandas de uma outra forma e que um profissional de psicologia poderia ajudá-la” pontua.

Segundo ponto é evitar cair na manipulação emocional, sempre se questionar para se certificar se a pessoa precisa mesmo de ajuda ou só está mais uma vez agindo como vítima. “E se você não estiver confortável em estar próximo a essa pessoa, pense em se afastar. Ajudar o outro é importante, mas nunca ao custo da sua saúde mental. Se não conseguir se afastar fisicamente, tente emocionalmente, evitando falar sobre a vida pessoa e transando somente de amenidades essenciais” diz.

No campo profissional e na vida pessoal

Segundo a psicóloga, uma área onde é muito possível ter que lidar com esse tipo de comportamento é entre pessoas no trabalho. “No trabalho por sempre acreditar que é vítima, irá sempre justificar seus erros através do comportamento alheio, gerando uma série de problemas de relacionamento e comunicação, podendo inclusive prejudicar outras pessoas. Pelo sentimento de incapacidade pode estagnar em uma posição não evoluindo profissionalmente” comenta.

Na vida pessoal, a psicóloga comenta que a pessoa acaba se tornando apenas uma espectadora da sua própria vida, ficando ainda mais desconfortável pois abre mão da própria vida ao sempre responsabilizar o outro pelas suas necessidades e erros. “Além de se tornar o chato do rolê, onde não consegue perceber o outro pra além dos próprios problemas ou estabelecer uma régua que mede a dor alheia, fazendo que sua dor sempre seja a maior” exemplifica.

Apesar de não ser considerado um transtorno, esse comportamento pode sim ser ter um acompanhamento profissional (Foto: Divulgação)

Ajuda profissional

Apesar de não ser considerado um transtorno, esse comportamento pode sim ser ter um acompanhamento profissional. “A psicoterapia é fundamental para a pessoa tomar consciência das próprias demandas, entender o que a levou a ter essas crenças e então modificar o comportamento. Dentro da Terapia Cognitiva Comportamental é usada uma técnica chamada reestruturação cognitiva que visa a modificação dos pensamentos, para que aja uma modificação comportamental, fazendo com que a pessoa tenha mais comportamentos funcionais e de acordo com a sua realidade. 

Além de trabalhar à autorresponsabilidade, onde a pessoa passa a se enxergar como única agente de mudança da sua vida e para de responsabilizar o outro, começando a ser mais ativa e atuante em sua própria vida, assumindo os próprios erros e modificando o que precisa modificar.