O termo da “cultura do cancelamento” vem sendo utilizado como forma de nomear a prática virtual do “boicote” em uma espécie de justiça social, punindo ações que não são mais aceitáveis nos dias de hoje. Porém, a avaliação é que a ação deve ser utilizada com consciência para não se tornar uma “caça às bruxas” e impedir que a sociedade se coloque no lugar do outro.
Segundo especialistas, o movimento de ‘cancelamento’ surgiu com o objetivo de dar voz a grupos oprimidos e forçar condutas políticas ou de figuras públicas, debatendo também assuntos como racismo, xenofobia, homofobia, entre outras intolerâncias.
Hoje em dia muitos famosos. digitais influencers e até figuras políticas estão sendo “cancelados” ou seja sendo excluídos da sociedade por algo que disse, por uma piada que soou mal nas mídias sociais ou atitudes de bullying online. Não é obrigado a pessoa cometer um crime para receber o título de “cancelado” bastando apenas uma expressão preconceituosa, ou falar algo moralmente errado, politicamente incorreto, seja no ambiente virtual ou real.
Para o sociólogo Linoberg Almeida, a recente face do linchamento público na sociedade atual pode resultar na dificuldade de interpretar textos e contextos. “Esse cenário mostra a fragilidade psicossocial de quem confunde público e privado, numa vida que não cabe nas expressões binárias de certo e errado, ou bem e mal, sem suas diversas nuances. Precisamos ter responsabilidade com atos e falas”, afirma.
O profissional reforça que ser uma pessoa crítica pede filtros moderadores ou método para evitar que o ouvinte atire a primeira pedra, a partir da sua verdade. Ou seja, a crítica pode ser feita, mas obedecendo algumas características, para que o ‘cancelador’ tente se colocar no lugar do ‘cancelado’. Porém, com o advento da internet, essa barreira acaba sumindo e se perde a oportunidade de valorizar o coletivo.
“Ao mesmo tempo em que se dá voz a silenciados, o tribunal do cotidiano usa de estratégias violentas numa bola de neve, como uma caça às bruxas virtual sem conscientizar, pois o rápido efeito manada não permite reflexão crítica e pedagógica. Ao invés de eliminar o outro num paredão, que tal respeito à diferença, equilíbrio e diálogo?”, declarou.
Com a colaboração da estagiária Cecília Veloso
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