Em sete anos, 2.205 crianças menores de cinco anos morreram no estado de Roraima, segundo dados da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde, da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). As informações obtidas pela FolhaBV ainda mostram que a taxa de mortalidade infantil aumentou no período de 2017 a 2023.
O levantamento detalha que o maior número de mortes aconteceu na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, com um total de 825 óbitos na faixa etária na unidade de saúde. Por ano, no entanto, o número de casos se mostra estável, permanecendo na média de 118 óbitos infantis, e com os maiores números em 2018 e 2020 (136 em cada). De 2021 a 2023, a diferença entre os anos é de 23 óbitos, com queda até 2022.
Já o número de mortes no Hospital da Criança Santo Antônio, de acordo com os dados, cresce, registra queda em 2020 e depois volta a aumentar. Somente em 2023, foram 133 óbitos de crianças dentro do total de 599.
Unidade de saúde | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | Total |
Maternidade | 98 | 136 | 115 | 136 | 121 | 98 | 121 | 825 |
Hospital da Criança | 48 | 75 | 99 | 54 | 86 | 104 | 133 | 599 |
Outras unidades de saúde de Roraima, incluindo unidades básicas em áreas indígenas, também registraram mortes de crianças. Em sete anos, o Hospital Regional Sul Governador Ottomar de Souza Pinto, em Rorainópolis, registrou 17 óbitos; o Centro de Saúde de Uiramutã, 16; e o Hospital Geral de Roraima (HGR), 11.
Taxa de mortalidade infantil
O indicador de mortalidade infantil mede o número de óbitos de menores de cinco anos de idade, por mil nascidos vivos na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Enquanto isso, a taxa de mortalidade de Roraima em 2023, ainda segundo o documento, foi de 32,2%. A maior no período analisado de sete anos e acima da média considerada de 26,6%.
Por município, considerando a população, Alto Alegre e Amajari têm as maiores taxas entre 2017 e 2023, com total de 168,6% e 119,2%. No ano passado, os dois municípios registraram a taxa de 188,4% e 159%, respectivamente.
Em oposição às altas taxas, Caroebe e Rorainópolis tiveram as menores taxas de mortalidade infantil, com 14% e 15,7% no período de 2017 a 2023.
Sobre nascidos vivos, foram mais de 85 mil crianças em sete anos em todo o estado. Somente em Boa Vista foram 54.685.
Secretaria Estadual de Saúde (Sesau)
A Secretaria de Saúde informou por meio de nota que nos anos de 2022 e 2023 nasceram 19.781 crianças no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth. Desse total, 9.880 em 2022 e 9.901 em 2023.
A Sesau reforça que a Maternidade é o espaço adequado para o parto, e conta com equipe multiprofissional, equipamentos de ponta e servidores comprometidos com a qualidade na prestação do serviço.
E salienta que, para uma boa gestação e nascimento de um bebê saudável, é necessário que a mãe faça o acompanhamento com consultas de pré-natal nos postos de saúde. Ao longo dos nove meses de gestação, a mãe tem que ter passado por pelo menos oito consultas pré-natal, conforme preconiza a Organização Mundial de Saúde. E o Ministério da Saúde destina recursos para as Secretarias Municipais para a execução dessa política pública.
A ausência da intensificação da política de pré-natal, que é responsabilidade exclusiva das prefeituras, incluindo a de Boa Vista, onde concentra o maior número de nascimentos, resulta em partos com complicações e até óbito neonatal.
Sobre os óbitos, é importante destacar que só em Boa Vista, no período de 2017 a 2023 foram registrados 599 óbitos de crianças com idade de zero a cinco anos no Hospital da Criança Santo Antônio, administrado pela Prefeitura de Boa Vista. Só em 2022 foram 104 óbitos e em 2023, 133 óbitos registrados.
Já os óbitos registrados na Maternidade, segundo relatório do dia 11 de dezembro de 2023 da Assessoria Técnica do Departamento de Vigilância Epidemiológica, o principal fator que contribuiu para esse número foi a prematuridade, sendo a prematuridade extrema a mais predominante, com 25,42% do total registrado.
O mesmo relatório apontou ainda que 24,58% dos óbitos foram identificados em pacientes na faixa etária de 19 anos, além de identificar que apesar de 61% das pacientes terem iniciado o pré-natal no primeiro trimestre da gestão, apenas 35% delas mantiveram esse cuidado, tendo passado por pelo menos seis consultas que são preconizadas pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde.
É importante destacar que a Maternidade possui Comitês de Ética e Mortalidade em pleno funcionamento, que têm a finalidade de analisar todos os óbitos ocorridos na unidade hospitalar, verificando a causa do óbito para repassar dados importantes aos órgãos responsáveis, visando um melhor atendimento à população. Se constatado qualquer equívoco no procedimento, os Comitês adotam as devidas providências.
Além disso, a Maternidade adota em suas rotinas de atividade a estratégia o QUALINEO, que é uma estratégia do Ministério da Saúde que tem a finalidade de reduzir as taxas de mortalidade neonatal (até 28 dias de vida) no Brasil.
Nesse sentido, a Maternidade promove a qualificação da atenção e do acolhimento na unidade neonatal, além da organização da rede assistencial percorrida pela gestante e pelo recém-nascido.
A Sesau ressalta ainda que tem trabalhado para conscientizar os municípios quanto às suas competências e atuações, e acredita que o reflexo venha no ano de 2024.
Secretaria Municipal de Saúde (SMSA)
A reportagem também entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde que se manifestou por meio da seguinte nota:
O Hospital da Criança Santo Antônio é o único hospital destinado ao atendimento infantil em um raio de 800km, que recebe pacientes de todos os municípios do estado de Roraima e países vizinhos, como a Venezuela e Guiana. A maioria dessas localidades não possui gestão da Atenção Primária em Saúde estruturada, o que acaba por limitar o controle de ações preventivas para ocorrência de doenças. Entre 2017 e 2023 foram realizados 635.465 atendimentos no hospital, sendo registrados 599 óbitos no período, ou seja, 0,09%, sendo que 60% dos óbitos no hospital são de pacientes não residentes em Boa Vista. As principais causas foram pneumonia, malformações do coração, viroses, desnutrição, diarreia e malária, entre outras.
Importante salientar que, nesse período, o município enfrentou e ainda enfrenta crises na área de saúde, como a crise migratória, crise humanitária yanomami, epidemia de varicela e sarampo e pandemia de covid-19, cenários em que as crianças chegaram e continuam chegando na unidade hospitalar em estado grave, na maioria dos casos, pela condição de vulnerabilidade em que se encontram.
Mesmo diante dos desafios, a prefeitura atua na promoção da saúde integral da criança, por meio de várias ações de assistência, oferta de estrutura hospitalar adequada, atendimento humanizado, serviços como o pré-natal, puericultura e outros, além do atendimento de média e alta complexidade na unidade hospitalar (HCSA). Por meio do Programa Família Que Acolhe, são reforçadas as orientações sobre os cuidados na gravidez, importância da amamentação, acolhimento, higiene e o fortalecimento de vínculos com as crianças.
Na Atenção Primária, tivemos um aumento muito significativo na oferta de atendimentos nas UBSs, com os serviços de puericultura e consultas médicas. Foram ampliadas as equipes de profissionais, saindo de 60 para 141 equipes de Saúde da Família, possibilitando uma maior cobertura de atendimentos. Nas UBSs, os pacientes recebem medicação necessária para o tratamento e prevenção das doenças.
A vacinação também foi intensificada nas UBSs, em mutirões nas escolas municipais e em demais ações promovidas pela PMBV, como o Prefeitura com Você, todas com a finalidade de aumentar ainda mais a proteção das crianças, logo nos primeiros anos de vida.
PRÉ-NATAL
O trabalho de pré-natal tem sido fortalecido na qualificação do atendimento, já que esse acompanhamento sendo bem feito e a gestante respeitando todas as consultas, a tendência é que ela e o bebê apresentem menos problemas de saúde, resultando em menor índice de mortalidade infantil.
Entre 2017 e 2023 foram realizados 176.921 consultas de pré-natal nas unidades básicas de saúde de Boa Vista, os números revelam um crescimento exponencial da oferta do serviço pela rede municipal de saúde. Confira os números por ano:
2017 – 616
2018 – 16.828
2019 – 28.702
2020 – 28.957
2021 – 31.623
2022 – 33.347
2023 – 36.848
Total: 176.921