Saúde e Bem-estar

Desidratação é um dos principais riscos do verão

O calor intenso alerta para o perigo frequente da desidratação, diz diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Cláudio Tinoco.

Segundo o cardiologista, as pessoas têm que evitar fazer atividades físicas ao ar livre, expostas ao sol, no período das 10h às 15h, “que são os horários de pico de  incidência de raios ultravioleta e de maior calor. A pessoa deve se hidratar antes, durante e após as atividades físicas, preferencialmente com água”.

Quando a atividade física se prolonga por mais de uma hora e ocorre perda substancial de líquido, a recomendação é que a pessoa faça reposição de água e também dos sais minerais perdidos. Suco de laranja e de abacaxi, água de coco, além das bebidas isotônicas, que têm mistura de sais minerais e carboidratos, são algumas opções para a reposição dos sais minerais.

Cláudio Tinoco destacou, contudo, que as bebidas isotônicas não substituem a hidratação convencional. Advertiu que devido à presença de carboidratos, elas podem causar aumento de peso, quando a pessoa toma em excesso, sem realizar exercícios físicos. Os isotônicos, acrescentou o especialista, são indicados para situações específicas, quando ocorre perda substancial de água e de sais minerais. O principal isotônico conhecido pela população é o soro caseiro, que  resulta da mistura de água e sal.

Se a pessoa não teve sudorese importante e praticou atividade física de curta duração, “não tem necessidade disso”, salientou Tinoco. Lembrou, também, que pessoas com hipertensão arterial não devem fazer uso excessivo de bebidas isotônicas porque, pela presença do sal  e do sódio, podem contribuir até para o aumento da pressão arterial.

“A gente pede parcimônia  no uso do isotônico e para não confundí-lo com energético, que é uma confusão que se faz com bebidas estimulantes, que têm uma quantidade grande de substâncias que aceleram  o metabolismo, o sistema nervoso central, como as bebidas que apresentam quantidade grande de cafeína”, explicou.

As pessoas têm que evitar fazer atividades físicas ao ar livre, expostas ao sol (Foto: Divulgação)

O médico acha louvável que as pessoas queiram praticar exercícios físicos, mas sugeriu que antes passem por uma avaliação médica. Uma série de doenças cardiovasculares tem como prevenção o uso regular de exercícios físicos, porque contribuem para controle do peso, para redução da pressão arterial, para controle da glicose no indivíduo com diabete, para redução do colesterol e dos triglicerídeos no sangue, para melhora do funcionamento do coração em doenças que comprometam a circulação das artérias coronárias. “Tem muitas indicações, mas como tudo que a gente faz para melhorar a saúde humana, existe uma dose. E quando a gente usa de modo exagerado ou sem os cuidados adequados, pode gerar risco”, adverte.

No verão, um dos principais riscos está associado à hidratação. Tinoco disse que quando a pessoa tem uma desidratação acima de 2% da quantidade de líquidos do corpo, o sistema cardiovascular já começa a sofrer uma sobrecarga, com aumento do número de batimentos cardíacos e estresse sobre o coração. Quando a desidratação atinge 6%, que é uma perda substancial de líquidos, o estresse sobre o sistema cardíaco é ainda maior. “Em pessoas que têm  problemas cardíacos, como história de infarto, angina de peito, obstrução na artéria coronária,  isso pode ser um risco maior de complicações cardíacas. Essas pessoas têm que ser avaliadas por um médico antes de fazerem atividades físicas”, indicou

As bebidas isotônicas não substituem a hidratação convencional. (Foto: Divulgação)

ARTIGO

Amaciante

Por Roberta D’albuquerque*

Era madrugada e o calor de São Paulo me levantou da cama. Entendi que meu corpo seco precisava com urgência de um copo de água fria. Os últimos dias têm sido lindos por aqui e têm sido também desafiadores. Quentes. Muito quentes. O filtro de casa está ao lado da porta da lavanderia que normalmente permanece fechada. Mas a noite  de ontem não era normal e qualquer possibilidade de passeio de vento nos pareceu uma boa ideia. A porta, portanto, estava aberta. E foi este detalhe fora da rotina que me fez experimentar o grande susto.

No escuro da noite vi sorrisos de ponta-cabeça, cabelos longos coloridos balançando, pernas peludas despreocupadamente penduradas, bebês que já não choravam, cachorros, girafas, baleias e ursos. Dez segundos de terror seguidos por um alívio que cheirava a amaciante. Ocorre que a manhã deste dia de verão quase agressivo tinha começado antes do previsto com espirros e tosses. Ficou claro que era preciso se livrar do máximo de poeira possível para continuar respirando por completo. Decidimos que era hora de uma limpeza profunda no quarto das crianças. Tudo que estava lá foi transportado para outros cômodos, limpamos, separamos o que já não fazia mais sentido, o que poderia passar a fazer sentido para novos donos, reorganizamos, recomeçamos.

E eu poderia lhes contar sobre a importância destes recomeços. Poderia lhes falar sobre a necessidade de tirar tudo das prateleira e dos armários e olhar para quem somos sobre outra perpectiva, em outro cômodo. Poderia relembrar a urgência de simplicar nossas vidas, de ter menos, de dividir mais. É mesmo urgente. Poderia até gastar parágrafos na existência perigosa, aflitiva e (ui!) íntima dos ácaros que nos rodeiam.

Mas o que ficou em mim, o que eu gostaria que ficasse em vocês, foi a imagem das crianças na manhã seguinte quando desceram o varal. Abraçaram cada uma das bonecas e dos bichinhos, quando guardaram de volta na prateleira um por um, quando os chamaram pelo nome, soltando, aqui e ali, um “lembra daquele dia?”, “esse foi a vovó que deu”, “dormiu bem querido?”, quando pentearam os cabelinhos já desgrenhados, quando comentaram que a casa estava cheirosa, que o quarto (que confesso, anda precisando de uma série de ajustes, para não mencionar a mais assustadora das palavras, anda precisando de um reforma) estava lindo. Quando me deixaram perceber que valorizam as suas histórias, que gostam de quem são.

Recomeçar, olhar para si sem filtros e sem medo, simplificar, dividir, arrumar e até reformar é preciso. É pra ontem. Mas parar um segundo pra pôr a vida que a gente já tem – essa meio descabelada mesmo – na máquina, deixá-la cheirosinha e macia pode ser também um convite para o próximo ano. Eu que sempre desejei para meus leitores o desafio, o novo, o melhor, desejo também – para nós – o conforto do simples e do possível. O conforto de ser quem se é. Até semana que vem queridos.

* Psicanalista