O mês de fevereiro é marcado pela cor laranja, uma referência ao incentivo de doação de medula óssea para pacientes com leucemia. Com a finalidade de incentivar mais doações, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) aprovou a Lei nº 1.326/2019, de autoria da deputada Lenir Rodrigues (Cidadania), que concede isenção das taxas de concurso público às pessoas que se cadastrarem no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).
“É muito importante darmos valor às reflexões do Fevereiro Laranja, porque as pessoas que precisam de doação de medula óssea querem salvar as suas vidas. Conheço várias que se tornaram doadoras em razão dessa lei. É uma forma de estimulá-las a terem mais solidariedade e fraternidade com os que sofrem com leucemia e outras doenças”, lembrou a deputada.
Para sensibilizar as pessoas sobre a necessidade de aumentar o número de doadores, o Hemoraima iniciou também uma campanha de doação de medula óssea. Segundo a gerente do Núcleo de Captação de Doadores, Juliane Uchoa, Roraima é o estado que menos tem cadastro.
“O Fevereiro Laranja é uma campanha nacional que incentiva a doação de medula óssea, então estamos trabalhando nela para aumentar esse número e reverter a situação de Roraima. Quanto mais pessoas cadastradas, mais a oportunidade de ajudar quem tanto precisa”, reforçou Juliane.
Para se cadastrar, explicou, não há burocracia. “O cadastro é muito rápido. Basta o doador comparecer até a unidade do Hemocentro, preencher um formulário com as informações pessoais e coletar uma pequena amostra de cinco mililitros de sangue”, detalhou.
Esse sangue coletado, com as informações pessoais do voluntário a doador, será enviado ao laboratório Redome, que faz a análise das características, para verificar a compatibilidade do dos doadores com os pacientes. Para se cadastrar, é preciso ter entre 18 e 35 anos e não ter doenças infecciosas e dermatológicas.
Radialista espera por doação de medula desde 2019
A primeira dor de cabeça acompanhada de tontura e ânsia de vômito parecia inicialmente ser uma enxaqueca. Mas quando sentiu os mesmos sintomas pela segunda vez, a radialista Rosy Viana, que também é técnica em enfermagem, procurou logo ajuda médica. Após os exames laboratoriais, descobriu que as plaquetas estavam muito acima do normal.
O resultado do exame acendeu uma luz de alerta. “Quando o clínico me encaminhou para o Hemocentro de Roraima, fiquei muito assustada e pensei logo que iria morrer, mas ele me acalmou. O hematologista, ao fazer o exame físico na minha virilha e axila, senti essa última doer, e de imediato fui encaminhada para a Unacon [Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia] para os exames específicos”, contou Rosy.
Assim começou a saga da radialista, que desde 2017 faz tratamento oral de quimioterapia para controlar a Leucemia Mieloide Crônica (LMC), que não é curável com as terapias disponíveis no campo da ciência.
Os medicamentos atuais, conforme explicou, apenas ajudam na cura funcional, quando os sintomas são reduzidos permitindo que o paciente viva como se não fosse acometido pela doença. Mas quando o remédio perde a eficácia, é necessário um novo.
O pior é que a ineficácia vem acompanhada de outros problemas, como reações adversas que qualquer medicamento pode causar ao paciente. No caso de Rosy, surgiram erupções na pele. A situação dela se agravou ao contrair covid-19, porque os quadris se desalinharam, comprometendo a locomoção.
A cura definitiva só é possível com o transplante de medula óssea. Rosy está na fila desde 2019 à espera de um doador, já que o sangue dos irmãos biológicos não é compatível com o dela.
“Os remédios têm efeito montanha-russa: uma hora estou lá em cima, na outra, lá embaixo. A minha esperança é que isso tudo um dia vá se resolver. A solução é o transplante de medula óssea ou um milagre. Eu acredito no milagre, e a minha vida já entreguei ao Senhor”, disse emocionada, esperançosa de que a solução está próxima.
‘Leucemia não é uma doença contagiosa’
A falta de conhecimento leva ao preconceito, e este, por sua vez, pode matar tanto lentamente quanto de forma rápida. A dose mortífera da repulsa vai depender tanto de quem aperta o gatilho da exclusão, bem como do estado vulnerável da vítima.
Rosy já foi vítima do olhar e de falas preconceituosas. Devido à fragilidade em que se encontrava, isso deixou nela marcas profundas. Com a voz embargada, ela lembrou da situação.
“Não vou entrar em detalhes, mas chorei muito. Não foi fácil. Não foi apenas o olhar diferente ao se aproximar de mim, como se tivesse medo de ser contaminada, mas o fato de não me querer por perto. Gente, a leucemia não é uma doença contagiosa, não passa ao tocar o outro, ao conversar com o paciente”, disse, com os olhos marejados.
O que é a leucemia?
A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos, geralmente de origem desconhecida. Tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais, conforme informações do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A medula óssea produz as células sanguíneas e ocupa a cavidade dos ossos, sendo popularmente conhecida por tutano. Nela são encontradas as células que dão origem aos glóbulos brancos (leucócitos), aos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e às plaquetas.
Na leucemia, uma célula sanguínea que ainda não atingiu a maturidade sofre uma mutação genética que a transforma em uma célula cancerosa, que não funciona de forma adequada, multiplica-se mais rápido e morre menos do que as normais. Dessa forma, as células sanguíneas saudáveis da medula óssea vão sendo substituídas por células anormais cancerosas.
Existem mais de 12 tipos de leucemia, sendo que os quatro primários são Leucemia Mieloide Aguda (LMA), Leucemia Mieloide Crônica (LMC), Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) e Leucemia Linfocítica Crônica (CLL).